Trump em Lisboa


Ainda que a quase um ano e meio de distância, as eleições presidenciais americanas conseguem mobilizar a atenção de todos, americanos e não americanos


Ainda que a quase um ano e meio de distância, as eleições presidenciais americanas conseguem mobilizar a atenção de todos, americanos e não americanos. Para já a atenção é dirigida para o campo Republicano e para o sucesso nas sondagens de um dos candidatos, “The Donald”, Trump por apelido e sinonímia de base fonética.

Quais as razões deste sucesso? Em primeiro lugar, Trump encarna a mitologia americana do  “self made man” que graças ao seu esforço e talento chega a milionário. Um milionário que se quer dedicar à causa pública, desde que a fortuna não tenha sido herdada ou ostensivamente roubada, gera simpatia popular, reacende a fé no “american dream” e assegura uma dose generosa de supremacia moral ao candidato.

Em segundo lugar, Trump é um “natural”, traz para o discurso político uma “autenticidade” do empresário de sucesso que contrasta com a formatação do discurso dos candidatos tradicionais. O excesso de “media training”, de simplificação das mensagens, de “politicamente correcto” geraram uma generosa dose de apetite pelos valores contrários traduzidos num brutalismo do discurso em que a ignorância e o preconceito são embrulhados como “autenticidade”. Lembram-se de Sarah Palin? Trump é pior e mais perigoso.

Os dois primeiros factores somam-se à desconfiança em relação às formas tradicionais de fazer política, aquilo que nos EUA se convencionou chamar “Washington”. E Trump concorre contra as encarnações do pior de Washington, a capital mal amada de um país em que maioria das pessoas nunca saiu do Estado em que nasceu. Washington que corrompeu tantos “políticos honestos e com boas intenções” vindos dos diversos Estados e, em particular, as duas dinastias republicanas mais recentes: os Bush e os Clinton.

O êxito de Trump deve-se também à “grogne”, ao descontentamento com a política e os políticos, que abre o espaço mediático a um “entertainer” que se apresenta como revolucionário de direita e que cavalga facilmente alguns temas queridos do eleitorado Republicano: o ódio aos estrangeiros e às minorias étnicas, o medo do futuro (em particular por parte do eleitorado branco e envelhecido num país em que o sistema de protecção social está muito longe de ser universal) e das mudanças económicas, sociais, tecnológicas,…

De caminho Trump contará com a simpatia dos Democratas, em particular da simpatia da hiper-candidata Hillary Clinton, ainda que tal simpatia não possa ser tornada pública. Se Trump perder ou vir recusada a nomeação como candidato Republicano tem meios suficientes para apresentar uma candidatura independente. E num cenário, em Novembro de 2016, de luta política entre um candidato Republicano, uma candidatura independente de Trump e Hillary Clinton, Trump irá causar uma forte erosão na candidatura Republicana, tornando a vitória Democrata quase certa.

E perguntará o leitor benigno, que temos nós portugueses a ver com a forma como os americanos se divertem na escolha dos candidatos presidenciais? Tudo, caro leitor, tudo. Desde logo convém lembrar que as eleições presidenciais americanas são tão importantes para o mundo que todos nós, não americanos, deveríamos poder votar.

E também, caro leitor, porque os EUA continuam a ser o grande produtor mundial de cultura popular, política incluída. E temo que comecem a surgir do regaço das televisões generalistas, nos períodos de anestesia matinal e pós-prandial, “Trumps”, “Trumpas”, “Trumpinhos” e “Trumpinhas” que desatem a arengar contra a política e os políticos.

Escreve à sexta-feira

            

Trump em Lisboa


Ainda que a quase um ano e meio de distância, as eleições presidenciais americanas conseguem mobilizar a atenção de todos, americanos e não americanos


Ainda que a quase um ano e meio de distância, as eleições presidenciais americanas conseguem mobilizar a atenção de todos, americanos e não americanos. Para já a atenção é dirigida para o campo Republicano e para o sucesso nas sondagens de um dos candidatos, “The Donald”, Trump por apelido e sinonímia de base fonética.

Quais as razões deste sucesso? Em primeiro lugar, Trump encarna a mitologia americana do  “self made man” que graças ao seu esforço e talento chega a milionário. Um milionário que se quer dedicar à causa pública, desde que a fortuna não tenha sido herdada ou ostensivamente roubada, gera simpatia popular, reacende a fé no “american dream” e assegura uma dose generosa de supremacia moral ao candidato.

Em segundo lugar, Trump é um “natural”, traz para o discurso político uma “autenticidade” do empresário de sucesso que contrasta com a formatação do discurso dos candidatos tradicionais. O excesso de “media training”, de simplificação das mensagens, de “politicamente correcto” geraram uma generosa dose de apetite pelos valores contrários traduzidos num brutalismo do discurso em que a ignorância e o preconceito são embrulhados como “autenticidade”. Lembram-se de Sarah Palin? Trump é pior e mais perigoso.

Os dois primeiros factores somam-se à desconfiança em relação às formas tradicionais de fazer política, aquilo que nos EUA se convencionou chamar “Washington”. E Trump concorre contra as encarnações do pior de Washington, a capital mal amada de um país em que maioria das pessoas nunca saiu do Estado em que nasceu. Washington que corrompeu tantos “políticos honestos e com boas intenções” vindos dos diversos Estados e, em particular, as duas dinastias republicanas mais recentes: os Bush e os Clinton.

O êxito de Trump deve-se também à “grogne”, ao descontentamento com a política e os políticos, que abre o espaço mediático a um “entertainer” que se apresenta como revolucionário de direita e que cavalga facilmente alguns temas queridos do eleitorado Republicano: o ódio aos estrangeiros e às minorias étnicas, o medo do futuro (em particular por parte do eleitorado branco e envelhecido num país em que o sistema de protecção social está muito longe de ser universal) e das mudanças económicas, sociais, tecnológicas,…

De caminho Trump contará com a simpatia dos Democratas, em particular da simpatia da hiper-candidata Hillary Clinton, ainda que tal simpatia não possa ser tornada pública. Se Trump perder ou vir recusada a nomeação como candidato Republicano tem meios suficientes para apresentar uma candidatura independente. E num cenário, em Novembro de 2016, de luta política entre um candidato Republicano, uma candidatura independente de Trump e Hillary Clinton, Trump irá causar uma forte erosão na candidatura Republicana, tornando a vitória Democrata quase certa.

E perguntará o leitor benigno, que temos nós portugueses a ver com a forma como os americanos se divertem na escolha dos candidatos presidenciais? Tudo, caro leitor, tudo. Desde logo convém lembrar que as eleições presidenciais americanas são tão importantes para o mundo que todos nós, não americanos, deveríamos poder votar.

E também, caro leitor, porque os EUA continuam a ser o grande produtor mundial de cultura popular, política incluída. E temo que comecem a surgir do regaço das televisões generalistas, nos períodos de anestesia matinal e pós-prandial, “Trumps”, “Trumpas”, “Trumpinhos” e “Trumpinhas” que desatem a arengar contra a política e os políticos.

Escreve à sexta-feira