{relacionados}
Quais os principais problemas com que se debate o ensino actual?
A desertificação do interior do país é uma das principais preocupações. Nos jardins- -escola de localidades como Mortágua, Urgeiriça ou Chaves, não há crianças. Estamos sistematicamente a ter pedidos de transferência, sobretudo para Lisboa. Fizeram-se auto-estradas fantásticas, mas não há pessoas e as escolas pequenas do interior estão a ter imensos problemas.
Problemas económicos?
Sim. É o caso de Ponte de Sor ou Tramagal, também. As receitas diminuíram, fruto da redução da comparticipação do Estado, mas também por haver muitas famílias a pedir a revisão das mensalidades. Umas com razão, os pais estão desempregados, outras com algum oportunismo – há quem alegue que quer fazer uma viagem de cruzeiro ou um segundo crédito automóvel. Mas os nossos custos fixos mantêm-se.
As mensalidades dependem dos rendimentos, é isso?
Sim. O nosso sistema é baseado no IRS. Os trabalhadores dependentes pagam de forma justa, mas os que estão nos sectores da pesca e agricultura, onde predomina alguma economia paralela, conseguem apresentar rendimentos muito baixos.
É possível combater a desertificação?
Teria de existir uma política concertada, mas isso não há em Portugal. Cada vez que muda o governo, o secretário de Estado ou o ministro, muda tudo. Devia haver um pacto educativo para definir aspectos fundamentais para, pelo menos, dez anos. Na educação passamos o tempo a reinventar a roda e não temos medidas a médio/longo prazo. Desde Veiga Simão que não há uma reforma, mas cada vez que entra um ministro muda a terminologia no português, por exemplo. Mesmo o acordo ortográfico – e não sou especialista na matéria – passa o tempo a ser discutido. Ora discutam o que têm a discutir e decidam-se de uma vez. Levamos cinco anos a fazer formação de professores; quando termina, já nada está como quando começou. Façam um grupo de especialistas, de espertos, como dizem os espanhóis, e cheguem a uma conclusão, mas parem de mudar tudo o tempo todo. É preciso reflectir um ano, dois, o tempo que for preciso, e implementar.
Que modelo defende?
Defendo a autonomia da escola para poder adequar o seu projecto educativo à comunidade onde está inserida. Uma escola de Chaves não é igual a uma escola de Lisboa. O papel do ministério é garantir que em qualquer dos casos essa resposta é de qualidade.E, sobretudo, em vez de estarmos a fazer a avaliação só pelos resultados finais, fazer a avaliação pelo ganho educativo, saber onde estava no início e como está no fim.