Ontem apeteceu-me rever um dos filmes de que tinha uma das recordações mais hilariantes da minha vida. Chama-se “O Mundo Maluco” em português e “It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” em inglês. É americano, assinado por Stanley Kramer, tem um elenco de dezenas e dezenas de grandes actores, quase todos vindos do universo da comédia, e dá-se ao luxo de apresentar Buster Keaton a arrumar um carro numa garagem, ou Jerry Lewis a conduzir um automóvel que procura delirantemente atropelar um chapéu.
O filme tem uma história magnífica: um presidiário em fuga tem um acidente. Quase a morrer, revela a vários outros automobilistas, que presenciaram o desastre, que existe debaixo de um grande W, num determinado jardim, um tesouro escondido. Uma mala com milhões de dólares. Os ouvintes entreolham-se e não esperam por mais nada, partem à desfilada em busca do dinheiro. Tentam ainda orquestrar a aventura, mas nada resulta.
Cada um pensa por si e para si. De carro, de avião, de bicicleta, a pé, por todas as formas conhecidas e inventadas, cada um procura chegar ao “big W” e abocanhar os dólares. Até o chefe de polícia, um discreto e circunspecto Spencer Tracy, furioso por não ver a sua reforma reforçada, resolve intervir em proveito próprio. É o filme por excelência sobre a cupidez, a ganância, a ambição, a cobiça, a avidez e todos os outros sinónimos que o Google possa alvitrar. É igualmente o filme sobre a condição humana.
Isto foi ontem à noite. Hoje, à hora tardia do meu almoço, no restaurante habitual, o National Geographic apresentava na televisão sobre as prateleiras de bolos e chocolates mais um episódio de vida selvagem. Um simpático ratinho a ser perseguido por uma cascavel, uma tarântula a deglutir um incauto insecto, um bichinho de que não sei o nome (a televisão tinha o som desligado, só se via a imagem), encantador, que prepara o salto e vai buscar um gafanhoto aos ramos de um arbusto, para o mastigar de seguida.Vida selvagem. “Struggle for life”, explicava uma série da Walt Disney.
Passo agora aos canais de televisão e vejo aspectos da pré-campanha eleitoral. Tu tens mais empregados que eu, tu és Pinóquio, eu sou a Bela Adormecida, tu o Rezingão, tu não paras quieto, pareces o Speedy Gonzalez, eu sou Príncipe Valente, a minha aliança são Os Vingadores, e a troika aparece sob a imagem dos Três Estarolas.
A assistir a tudo isto, o mexilhão.
Não será possível rebobinar ou baralhar e dar de novo?
Escreve à sexta-feira