Problemas com a garantia dos equipamentos, vendas agressivas e publicidade enganosa são as principais reclamações feitas pelos consumidores na compra dos mais variados bens e produtos em espaços físicos. Ao que o i apurou, este é um dos sectores com mais queixas por parte dos clientes e mantém-se sempre no top 5 das reclamações nos últimos dez anos da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (DECO). Em 2014 ocupou o segundo lugar do ranking, ao serem feitas mais de 28 mil reclamações, e a tendência deverá manter-se este ano, uma vez que nos primeiros seis meses do ano a associação já recebeu quase 13 mil queixas (em 2014 foram recebidas mais de 12 mil em igual período). A verdade é que a altura do Natal é a época mais crítica e é quando se verifica o maior número de reclamações, já que o consumo é maior.
A maioria das queixas feitas (mais de 50%) dizem respeito aos problemas com as garantias dos equipamentos. No caso dos bens móveis é de dois anos, mas geralmente os clientes são confrontados com dificuldades na activação desta garantia. “O equipamento vem com defeito, o cliente entra em contacto com a loja e é confrontado com vários obstáculos: ou tem dificuldade em que seja feita a reparação ou há incumprimento do prazo de reparação para os bens móveis – que é de 30 dias –, ou o equipamento já foi várias vezes reparado e o cliente já quer a substituição do equipamento ou a resolução do contrato e não tem resposta por parte da loja”, refere ao i a jurista da DECO Carolina Gouveia.
A responsável admite que, neste campo, são os equipamentos electrónicos, os telemóveis e os tablets a serem alvo de maiores queixas.
Mas os problemas agravam-se na compra de automóveis usados. “O veículo, ao ser comprado a um profissional, tem um ano de garantia ou dois, consoante o contrato. O mais comum é um ano, mas muitas vezes os stands durante essa altura nem a reparação querem fazer, alegando que não está dentro da garantia”, acrescentando ainda que “muitas vezes dizem que o defeito é resultado da má utilização do consumidor, ou que este levou o carro a outro local para fazer uma revisão e que foi aí que ocorreu o problema.”
Estas dificuldades na activação da garantia ganham novos contornos no caso dos imóveis. A compra de habitação tem uma garantia de cinco anos e as queixas dizem essencialmente respeito às reparações. “Neste campo, os problemas são muito mais difíceis de resolver. Há casos em que as empresas entraram em insolvência e, nessa altura, é quase impossível contactá-las, e o consumidor não consegue resolver as questões”, adianta Carolina Gouveia.
Vendas agressivas Já cancelar um contrato, mesmo que seja feito dentro do prazo permitido, que é de 14 dias, é uma verdadeira dor de cabeça para os consumidores que foram “vítimas” de uma venda agressiva. “Estas vendas ocorrem muito com os check-ups de saúde ou produtos que são mostrados ao domicílio, como filtros de água, equipamentos de massagem ou colchões. Nestes casos são feitos pagamentos em dinheiro e o consumidor tem um prazo de 14 dias para cessar o contrato, mas mesmo que o cancelamento seja feito durante esse período, muito dificilmente a empresa faz o reembolso, e se for fora do prazo é quase impossível anular.”
Os artigos que aparecem na publicidade a um determinado preço, ou seja, com desconto, mas quando o cliente se desloca até à loja para fazer a compra é confrontado com outros valores mais altos, é outra das reclamações feitas pelos clientes. E, de acordo com a jurista, “é comum isso acontecer nas grandes superfícies”.