Jorge Jesus. A letra jota é a fórmula para o tricampeonato?

Jorge Jesus. A letra jota é a fórmula para o tricampeonato?


Jimmy (Hagan) e Jesualdo (Ferreira) são os últimos tricampeões em Portugal. Anima-se o Sporting, coleccionador de um tri através do inglês Randolph Galloway.


Jorge Jesus é campeão nacional em 2013, com sete pontos de avanço sobre o Sporting. No ano seguinte, é o bis com três de vantagem sobre o Porto. Entra-se de férias, no início de Junho, e Jesus muda de clube. Assina peloSporting, o único clube dos três grandes sem derrotas na pré-época.

O sonho do tri está presente. Jesus seria o sexto treinador a celebrá-lo. Como? Quem? Onde? Vamos às respostas.

Herczka (SLB 1935-38) Ainda longe da profissionalização (só chegaria em 1954, com Otto Glória), o futebol do Benfica procura melhorar a organização e a preparação técnica. A contratação de treinadores internacionais, com experiências acumuladas no estrangeiro, insere-se nesse propósito fundamental e o austro-húngaro Lipo Herczka é o homem à altura da inovação.

Ao longo das quatro épocas nas Amoreiras, conduz o Benfica a um inédito tri no campeonato da I Liga (35-36, 36-37 e 37-38). Sobre ele, escrevem-se muitos elogios. “Teve a rara intuição de saber adaptar as qualidades do futebolista português, de intuição e combatividade, ao estilo solto do futebol austríaco, onde a desmarcação e o toque suave de bola têm cunho de arte”, justifica Carlos Carvalho, dirigente benfiquista.

O avançado Rogério Pipi, contratado ao Chelas na era-Herczka, confirma isso e também desvende a outra faceta do técnico: “Quando estava mal-disposto, era impossível. Desatava a chamar nomes aos jogadores. Assim, sem mais nem menos, no meio dos treinos. Mas nós já estávamos tão habituados que nem ligávamos.”

Para chegar ao tri (o primeiro do futebol português), o Benfica de Herczka ganha 30 dos 42 jogos, com uma incrível vantagem de 132-25 em golos – de resto, oito empates e quatro derrotas. A festa do tri faz-se na última jornada, com um triunfo sobre a Académica por 3-1. A 8 de Maio, Rogério de Sousa marca dois golos e resolve o jogo. Apesar do empate pontual com o FC Porto (23), o Benfica faz valer a sua vantagem no confronto directo (3-1 nas Amoreiras e 2-2 no Lima.

Galloway (SCP 1950-53) De nacionalidade inglesa, chega até nós com 50 anos de idade e encaixa-se que nem uma luva no futebol do Sporting.

Sim, é verdade, Peyroteo já não mora ali mas a quantidade (e qualidade) dos jogadores à sua disposição é impressionante.Daí que o tricampeonato chegue com alguma naturalidade face à superioridade incontestável de uma equipa com nomes fortes da bola como Carlos Gomes, Passos, Juca, Vasques e Travaços. Então, e Jesus Correia?

Em Setembro, a Direcção do Sporting lança-lhe um ultimato: ou futebol ou hóquei em patins. A 10 de Outubro, o jogador opta. “Tenho 28 anos. Mercê de uma vida muito recatada, foi-me possível até esta idade jogar futebol e hóquei sem quebra de forças. Os anos contam: 14 ao serviço do hóquei, oito no futebol. Quase todos os dias, às primeiras horas da manhã, treino de futebol. Depois o emprego, que nunca quis nem quero deixar. À noite, hóquei, jogo ou treino. Tive de olhar pelo meu futuro e descanso mais no hóquei.”

A 13 de Fevereiro, a morte do presidente choca o clube. A jogar de luto, o Sporting goleia o Porto (5-1) e está 11 jogos sem perder, série essa travada por um bis do barreirense Faia (2-1). A coroação chega a 20 de Abril, na penúltima jornada, com um golo de Martins ao Vitória de Setúbal.

guttmann (FCP 1958-59, SLB 1959-61) Nada é o acaso e a alcunha de feiticeiro cola-se-lhe na perfeição. O húngaro aterra na Portela e apanha o autocarro para o Porto. Lá, é do estilo chegar, ver e vencer. É campeão nacional e, de repente, já está na Luz.Assina pelo Benfica sem conhecimento do Porto. Não há bela sem senão.

Na primeira época em Lisboa, oBenfica é campeão com dois pontos de avanço sobre oSporting. Na segunda época, dá quatro de avanço sobre o arqui-rival. O tri de Guttmann ganha consistência na 22.ª e antepenúltima jornada, com o 1-1 em Alvalade. Na semana seguinte, a festa do título com o 7-1 ao Braga. Na última ronda, o Belenenses aplaude o campeão Benfica, já comEusébio em acção (e a marcar, num remate rasteiro à entrada da área).

Hagan (SLB 1970-73) Outro inglês tri em Portugal, agora no Benfica. Diga-se, é um tri com uma categoria ímpar. Por tudo e mais alguma coisa.

Vamos lá ponto por ponto. Um) líder da primeira à última jornada. Dois) sem qualquer derrota, entre 24 vitórias e dois empates, nas Antas e na Tapadinha. Três) Vinte e três vitórias seguidas, até ao 2-2 com o Porto. Quatro) Eusébio é Bota de Ouro com 40 golos.Cinco) Mais de 100 golos marcados. Seis) Dezoito (sim, 18) pontos de avanço sobre o segundo classificado Belenenses (sim, o segundo classificado).

Apesar dos frequentes conflitos entre jogadores e Hagan, devido à dureza dos métodos do técnico inglês (subir e descer escadas da Luz com as chuteiras é um dos exercícios mais duros), o Benfica resolve a questão a sete jornadas do fim, com o Vitória Setúbal.

jesualdo (FCP 2006-09) O Sporting de Paulo Bento arruina o início (Supertaça) e fim da época (Taça) do Porto. Pelo meio, o dragão lança a labareda do tri – abre com oito vitórias seguidas e fecha com mais oito triunfos em nove jornadas.

Jesualdo é levado em ombros. Nada mais justo, é o primeiro (e único, até agora) a sagrar-se tricampeão. Sempre com oSporting em segundo, a 1, 14 e 4 pontos de diferença. Para abrilhantar o tri, até o melhor marcador da liga é azul e branco. Chama-se Lisandro e marca 24 golos em 27 jogos, com sete bis, o último deles ao Benfica (2-0 no Dragão).