A maioria do senhor Presidente


Creio que infelizmente o senhor Presidente se arrisca a ter é uma boa maioria de abstenção. 


© Nuno Veiga/Lusa

No jornal i de ontem podia ler-se: “Na noite em que marcou as eleições para 4 de Outubro, o Presidente da República lançou um sério aviso à nação: ‘Aos problemas económicos e sociais, Portugal não pode dar-se ao luxo de juntar problemas político-partidários.’”

E Cavaco Silva acrescentou: “Se em 26 países da União Europeia as forças partidárias são capazes de se entender, não é concebível que os nossos agentes políticos sejam incapazes de alcançar compromissos em torno dos grandes objectivos nacionais.” O i concluiu: “A ameaça de Cavaco Silva de não dar posse, na sequência das próximas legislativas, a um governo minoritário pairou sobre todo o discurso.”

Assim, o Presidente que tem o ego cheio de maiorias, e agora até é minoritário na forma como o eleitorado o julga, acha que não deve dar posse a um governo minoritário. Ora isto pressupõe duas opções: ou uma maioria de uma única força ou uma coligação maioritária.

Vejamos então as hipóteses que o Presidente Cavaco Silva põe sobre a mesa. A mais apetecível para si seria uma maioria PSD/CDS, o que parecerá a todos não só pouco provável, mas até impossível. O próprio Pedro Passos Coelho já se despediu dos deputados acreditando que na próxima legislativa não terá tantos na Assembleia. Retirando esta maioria, não haverá mais hipóteses de outras maiorias estritamente de direita.

O Presidente que nem sempre acerta mas nunca tem dúvidas sabe que as maiorias só podem vir da esquerda, ou melhor, das esquerdas. Uma maioria PS seria um outro ideal para Cavaco Silva, e por isso o PS agradeceu o discurso. De resto, não se vê muito bem PS, PCP e BE juntos a cantarem hinos ao “amanhã glorioso” ou ao “homem novo”. 
Resta uma maioria anti-PS, que já funcionou uma vez e Cavaco pode querer ver funcionar outra.

Um governo PSD, CDS, PCP e BE, todos juntos contra o PS, “lutar, lutar”. Já conseguiram acabar com o governo Sócrates e colocar em S. Bento a coligação PSD/CDS. Pode ser que se unam de novo para eternizar a coligação Portugal à Frente. Seria no mínimo coerente e deixaria satisfeito o senhor Presidente. 

De resto, creio que infelizmente o senhor Presidente se arrisca a ter é uma boa maioria de abstenção. 

Escreve à sexta-feira

A maioria do senhor Presidente


Creio que infelizmente o senhor Presidente se arrisca a ter é uma boa maioria de abstenção. 


© Nuno Veiga/Lusa

No jornal i de ontem podia ler-se: “Na noite em que marcou as eleições para 4 de Outubro, o Presidente da República lançou um sério aviso à nação: ‘Aos problemas económicos e sociais, Portugal não pode dar-se ao luxo de juntar problemas político-partidários.’”

E Cavaco Silva acrescentou: “Se em 26 países da União Europeia as forças partidárias são capazes de se entender, não é concebível que os nossos agentes políticos sejam incapazes de alcançar compromissos em torno dos grandes objectivos nacionais.” O i concluiu: “A ameaça de Cavaco Silva de não dar posse, na sequência das próximas legislativas, a um governo minoritário pairou sobre todo o discurso.”

Assim, o Presidente que tem o ego cheio de maiorias, e agora até é minoritário na forma como o eleitorado o julga, acha que não deve dar posse a um governo minoritário. Ora isto pressupõe duas opções: ou uma maioria de uma única força ou uma coligação maioritária.

Vejamos então as hipóteses que o Presidente Cavaco Silva põe sobre a mesa. A mais apetecível para si seria uma maioria PSD/CDS, o que parecerá a todos não só pouco provável, mas até impossível. O próprio Pedro Passos Coelho já se despediu dos deputados acreditando que na próxima legislativa não terá tantos na Assembleia. Retirando esta maioria, não haverá mais hipóteses de outras maiorias estritamente de direita.

O Presidente que nem sempre acerta mas nunca tem dúvidas sabe que as maiorias só podem vir da esquerda, ou melhor, das esquerdas. Uma maioria PS seria um outro ideal para Cavaco Silva, e por isso o PS agradeceu o discurso. De resto, não se vê muito bem PS, PCP e BE juntos a cantarem hinos ao “amanhã glorioso” ou ao “homem novo”. 
Resta uma maioria anti-PS, que já funcionou uma vez e Cavaco pode querer ver funcionar outra.

Um governo PSD, CDS, PCP e BE, todos juntos contra o PS, “lutar, lutar”. Já conseguiram acabar com o governo Sócrates e colocar em S. Bento a coligação PSD/CDS. Pode ser que se unam de novo para eternizar a coligação Portugal à Frente. Seria no mínimo coerente e deixaria satisfeito o senhor Presidente. 

De resto, creio que infelizmente o senhor Presidente se arrisca a ter é uma boa maioria de abstenção. 

Escreve à sexta-feira