Amigos, amigos, listas à parte


Noite dentro, os preteridos de todas as tendências vão derreter os telemóveis a suplicar salvação junto de todos os que possam dar a palavrinha de recomendação que faça o milagre.


Nas legislativas de 2011, a abstenção foi de 42 por cento. Se a este valor somarmos os 4 por cento de brancos e nulos e os 4,5 por cento de eleitores que votaram em partidos que ficaram de fora do parlamento, isso significa que, pela primeira vez, os deputados com assento na Assembleia da República obtiveram o voto de menos de 50 por cento dos portugueses.

O processo de elaboração e aprovação das listas do PS de candidatos a deputados para as várias distritais, em que a renovação é mais ou menos óbvia, está no essencial terminado.

Faltam as habituais e naturais repescagens e ajustes que a inerência de funções de secretário-geral permite e a organização de um grupo parlamentar adequado a uma estratégia política global para a próxima legislatura exige. 

Estes momentos partidários são sempre um intervalo excitante entre o período de absoluto desinteresse e total abandono que caracterizam as relações que os desinteressados candidatos a uma almofadinha em São Bento estabelecem com o respectivo partido e as bases.

Claro que nestas horas de incerteza e pressão retribuem-se fidelidades, permeia-se o morto que faz tão bem de vivo, elogia-se a postura de quatro e afagam–se egos destrambelhados.

É assim uma espécie de noite de facas longas, mas sem lâmina. O cinismo e a hipocrisia andam pelos corredores procurando vítimas e, quando as encaram, disparam: “Ó Andrade, andava à sua procura. Sabe, o partido necessita de si para…” Nesse fatídico momento, o desgraçado, agradecido pela confiança, sabe que nem para suplente entrará nas listas.

Os honradamente excluídos, numa presciência nascida de quem já virou muitos frangos, ensaiaram declarações que vão desde o caricato ao dramalhão, em três versões já testadas.

A versão chorona, preferida por Lacão e Rui Paulo Figueiredo: “Dei tanto e recebo tão pouco? E ainda por cima pela porta dos fundos? No fim da fila? Jamais plus! Ingratos.” 

A da conspiração bipolar de avantesma maçónica financeira: “Eu sabia que não ficava, senhores jornalistas. Sabia há muito tempo, isto tem a ver que… é política, em devido tempo explico. Política, meus senhores, política.”

E a versão “ainda se vão arrepender”: “Vou e já não volto, e escusam de me chamar, ouviram? Então ninguém diz nada? Olhem que se sair por aquela porta é para não mais voltar. Então porra, ouviram ou não?” 

É evidente que, noite dentro, os preteridos de todas as tendências vão derreter os telemóveis a suplicar salvação junto de todos aqueles que possam dar a palavrinha de recomendação que faça o milagre. O orgulho que se lixe, que o tempo não é para embaraços.

As amantes partilhadas, o motorista do chefe, o idiota que é cunhado do chefe, o adversário político de quem o chefe gosta, aquele jornalista, como é que o tipo se chama? Fim.

O compromisso ético que os candidatos do PS devem assinar assumindo que não têm problemas com a justiça, a segurança social ou o fisco, para além de recomendável, foi seguramente factor dissuasor para os que olham a função de deputado e a relação com os eleitores como mero instrumento dos seus interesses privados e não sentiam necessidade de estabelecer nenhum nexo causal entre o seu comportamento de vida e a responsabilidade de deputado da nação. 

Não é dos candidatos a deputados, homens e mulheres de qualquer partido que genuinamente encontram nessa função os meios que lhes permitem, com competência e honestidade, intervir na acção política e legislativa e, nesse sentido, promover a melhoria da vida dos cidadãos e contribuir para a construção de um país mais justo, que devemos temer a falta de compromisso.

É com os que com seráfica postura, em declarações para registo público de interesses, recordam que desde a primeira hora sempre apoiaram o secretário-geral de turno, que devemos ter cuidado.

É mais higiénico e prudente exigirmos–lhes decência, visto que os conhecemos e sabemos por onde andaram, com quem estiveram e o que fizeram. 

Na hora de votar, seja por preconceito ou medo, não podemos subitamente perder a memória. Devemos recordar quem arrastou o país para o desastre económico e social por reiterada incompetência e corrupção. 

Listas à parte, a substância está num programa capaz de mobilizar os portugueses, que são o factor determinante para o desenvolvimento do país, a luta contra a desigualdade e a criação de riqueza.

Quanto aos deputados a eleger, só o são com a entrega do nosso voto, e já que assim é, participemos, sejamos críticos, com critério, e exigentes. Façamo-los pagar caro. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras

Amigos, amigos, listas à parte


Noite dentro, os preteridos de todas as tendências vão derreter os telemóveis a suplicar salvação junto de todos os que possam dar a palavrinha de recomendação que faça o milagre.


Nas legislativas de 2011, a abstenção foi de 42 por cento. Se a este valor somarmos os 4 por cento de brancos e nulos e os 4,5 por cento de eleitores que votaram em partidos que ficaram de fora do parlamento, isso significa que, pela primeira vez, os deputados com assento na Assembleia da República obtiveram o voto de menos de 50 por cento dos portugueses.

O processo de elaboração e aprovação das listas do PS de candidatos a deputados para as várias distritais, em que a renovação é mais ou menos óbvia, está no essencial terminado.

Faltam as habituais e naturais repescagens e ajustes que a inerência de funções de secretário-geral permite e a organização de um grupo parlamentar adequado a uma estratégia política global para a próxima legislatura exige. 

Estes momentos partidários são sempre um intervalo excitante entre o período de absoluto desinteresse e total abandono que caracterizam as relações que os desinteressados candidatos a uma almofadinha em São Bento estabelecem com o respectivo partido e as bases.

Claro que nestas horas de incerteza e pressão retribuem-se fidelidades, permeia-se o morto que faz tão bem de vivo, elogia-se a postura de quatro e afagam–se egos destrambelhados.

É assim uma espécie de noite de facas longas, mas sem lâmina. O cinismo e a hipocrisia andam pelos corredores procurando vítimas e, quando as encaram, disparam: “Ó Andrade, andava à sua procura. Sabe, o partido necessita de si para…” Nesse fatídico momento, o desgraçado, agradecido pela confiança, sabe que nem para suplente entrará nas listas.

Os honradamente excluídos, numa presciência nascida de quem já virou muitos frangos, ensaiaram declarações que vão desde o caricato ao dramalhão, em três versões já testadas.

A versão chorona, preferida por Lacão e Rui Paulo Figueiredo: “Dei tanto e recebo tão pouco? E ainda por cima pela porta dos fundos? No fim da fila? Jamais plus! Ingratos.” 

A da conspiração bipolar de avantesma maçónica financeira: “Eu sabia que não ficava, senhores jornalistas. Sabia há muito tempo, isto tem a ver que… é política, em devido tempo explico. Política, meus senhores, política.”

E a versão “ainda se vão arrepender”: “Vou e já não volto, e escusam de me chamar, ouviram? Então ninguém diz nada? Olhem que se sair por aquela porta é para não mais voltar. Então porra, ouviram ou não?” 

É evidente que, noite dentro, os preteridos de todas as tendências vão derreter os telemóveis a suplicar salvação junto de todos aqueles que possam dar a palavrinha de recomendação que faça o milagre. O orgulho que se lixe, que o tempo não é para embaraços.

As amantes partilhadas, o motorista do chefe, o idiota que é cunhado do chefe, o adversário político de quem o chefe gosta, aquele jornalista, como é que o tipo se chama? Fim.

O compromisso ético que os candidatos do PS devem assinar assumindo que não têm problemas com a justiça, a segurança social ou o fisco, para além de recomendável, foi seguramente factor dissuasor para os que olham a função de deputado e a relação com os eleitores como mero instrumento dos seus interesses privados e não sentiam necessidade de estabelecer nenhum nexo causal entre o seu comportamento de vida e a responsabilidade de deputado da nação. 

Não é dos candidatos a deputados, homens e mulheres de qualquer partido que genuinamente encontram nessa função os meios que lhes permitem, com competência e honestidade, intervir na acção política e legislativa e, nesse sentido, promover a melhoria da vida dos cidadãos e contribuir para a construção de um país mais justo, que devemos temer a falta de compromisso.

É com os que com seráfica postura, em declarações para registo público de interesses, recordam que desde a primeira hora sempre apoiaram o secretário-geral de turno, que devemos ter cuidado.

É mais higiénico e prudente exigirmos–lhes decência, visto que os conhecemos e sabemos por onde andaram, com quem estiveram e o que fizeram. 

Na hora de votar, seja por preconceito ou medo, não podemos subitamente perder a memória. Devemos recordar quem arrastou o país para o desastre económico e social por reiterada incompetência e corrupção. 

Listas à parte, a substância está num programa capaz de mobilizar os portugueses, que são o factor determinante para o desenvolvimento do país, a luta contra a desigualdade e a criação de riqueza.

Quanto aos deputados a eleger, só o são com a entrega do nosso voto, e já que assim é, participemos, sejamos críticos, com critério, e exigentes. Façamo-los pagar caro. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras