No próximo sábado passam seis meses sobre a histórica vitória do Syriza nas eleições legislativas gregas, no que terá sido um dos momentos políticos mais importantes quer para os radicais de esquerda, quer para os movimentos antiausteridade no quadro europeu.
Assim se percebe que a coligação da esquerda radical (vulgo Syriza) tenha reunido sob a mesma capa o apoio e o regozijo de extremistas como o Bloco de Esquerda e o Podemos espanhol, de boa parte da família socialista europeia (incluindo o PS de António Costa) e da Frente Nacional de Marine Le Pen.
Apesar de contar com mais de dez anos de vida e resultar de uma amálgama de 13 partidos e organizações de esquerda, o Syriza foi ganhando expressão a partir de 2012, tendo vencido as eleições europeias de 2014 antes das eleições legislativas do início deste ano.
Neste período, a coligação e o seu líder, Alexis Tsipras, jamais deixaram margem para dúvidas quanto às suas prioridades governativas: o combate às políticas de austeridade, a exigência da renegociação da dívida (incluindo um perdão parcial) e a implementação ou reforço de vários benefícios sociais.
Daí que os primeiros meses de acção do novo governo tenham defraudado algumas das expectativas dos seus apoiantes internos e suscitado algum distanciamento dos seus simpatizantes externos (como o PS nacional), ao mesmo ritmo que algumas das suas principais bandeiras iam sendo adiadas ou esquecidas.
Numa frente, porém, a posição grega permaneceu inabalável. Sob a batuta do excêntrico ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, a Grécia avançou destemida para o incumprimento das condições de reembolso perante os seus credores e para a recusa exacerbada das condições “usurárias” inerentes a um eventual terceiro programa de assistência financeira.
Já com o país a enfrentar uma dura crise de liquidez que causou problemas de vária ordem ao comum dos cidadãos, o governo de Tsipras avança para uma jogada política de risco coroada de êxito: a convocação de um referendo nacional para apreciar as condições propostas pelos parceiros europeus em que o “não” consegue uma vitória inequívoca.
Ainda ocorriam os últimos brindes à “resistência grega” e ao triunfo da “soberania democrática da Grécia” sobre as ingerências externas e já a cabeça de Varoufakis rolava nas redes sociais e na Praça Sintagma, em resposta aos apelos do próprio Tsipras e ao “desagrado dos parceiros do Eurogrupo com a sua presença nas reuniões”.
Na madrugada da passada quinta-feira, 16 de Julho, o Parlamento grego aprovou por larga maioria os termos do acordo que garante o acesso a um novo resgate financeiro. No conjunto de condições impostas pelos parceiros europeus, várias medidas se revelam ainda mais rigorosas que as rejeitadas durante o processo negocial.
“A lista de exigências do Eurogrupo é uma loucura. Vai para além da rispidez para ser puramente vingativo, uma destruição completa da soberania nacional, e sem esperança de alívio”, lamenta-se Krugman.
Alexis Tsipras, que diz “não acreditar na viabilidade do programa de assistência”, mas que o considera “incontornável” e “necessário”, continua a reunir o apoio maioritário dos gregos pesem embora as fracturas expostas dentro do Syriza.
Mais que garantir a permanência da Grécia na zona euro ou evitar que o seu povo enfrente circunstâncias verdadeiramente calamitosas, Tsipras ainda será recordado pelos seus detractores de hoje como alguém que fez o sacrifício supremo: abdicou das suas convicções para poder manter vivo o mito de que um caminho diferente (e melhor) era possível.
Presidente da Câmara de Braga
Escreve à quinta-feira