O governo do euro


Hollande pretende retomar o controlo político sobre o euro, defendendo um orçamento e um parlamento para a zona euro. Já é demasiado tarde para isso. 


Uma moeda corresponde sempre a um poder político. A sra. Thatcher percebeu-o perfeitamente, daí ter afirmado que o Reino Unido só poderia aderir à moeda europeia no dia em que desaparecesse o Parlamento britânico. O euro, que Mitterrand conseguiu impor a Kohl, assentava no pressuposto de que a moeda poderia ser gerida de forma independente dos diversos Estados. Para esse efeito, criou-se um Banco Central Europeu, que deveria gerir o euro, sem qualquer apoio aos Estados. 

No entanto, a necessidade de coordenar as políticas financeiras da zona euro levou à criação de um órgão não previsto nos tratados: o Eurogrupo. A crise financeira na Europa provocou um crescente protagonismo desse órgão, que tem decidido os diversos resgates, essenciais à salvação pública de alguns Estados. Mas também reforçou o peso político interno dos ministros das Finanças que o compõem.

Efectivamente, estes adquiriram imenso poder, podendo desafiar mesmo a liderança do seu primeiro-ministro. Foi o que fez na Grécia Varoufakis, depois de ter sido demitido por Tsipras. Também na Alemanha Schäuble contesta abertamente Angela Merkel, não lhe reconhecendo sequer qualquer tutela sobre o seu cargo.

Percebendo o que se está a passar, Hollande pretende retomar o controlo político sobre o euro, defendendo um orçamento e um parlamento para a zona euro. Já é demasiado tarde para isso. Aqueles que deveriam apenas gerir a moeda de forma independente dos diversos países já governam efectivamente esses países.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira 

O governo do euro


Hollande pretende retomar o controlo político sobre o euro, defendendo um orçamento e um parlamento para a zona euro. Já é demasiado tarde para isso. 


Uma moeda corresponde sempre a um poder político. A sra. Thatcher percebeu-o perfeitamente, daí ter afirmado que o Reino Unido só poderia aderir à moeda europeia no dia em que desaparecesse o Parlamento britânico. O euro, que Mitterrand conseguiu impor a Kohl, assentava no pressuposto de que a moeda poderia ser gerida de forma independente dos diversos Estados. Para esse efeito, criou-se um Banco Central Europeu, que deveria gerir o euro, sem qualquer apoio aos Estados. 

No entanto, a necessidade de coordenar as políticas financeiras da zona euro levou à criação de um órgão não previsto nos tratados: o Eurogrupo. A crise financeira na Europa provocou um crescente protagonismo desse órgão, que tem decidido os diversos resgates, essenciais à salvação pública de alguns Estados. Mas também reforçou o peso político interno dos ministros das Finanças que o compõem.

Efectivamente, estes adquiriram imenso poder, podendo desafiar mesmo a liderança do seu primeiro-ministro. Foi o que fez na Grécia Varoufakis, depois de ter sido demitido por Tsipras. Também na Alemanha Schäuble contesta abertamente Angela Merkel, não lhe reconhecendo sequer qualquer tutela sobre o seu cargo.

Percebendo o que se está a passar, Hollande pretende retomar o controlo político sobre o euro, defendendo um orçamento e um parlamento para a zona euro. Já é demasiado tarde para isso. Aqueles que deveriam apenas gerir a moeda de forma independente dos diversos países já governam efectivamente esses países.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira