T-shirt larga, calções e chinelos. Margarida vive em cima do Café Central de Vila Marim e não tem necessidade de se arranjar quando faz do andar de baixo uma espécie de continuação da sua própria casa. Chegou até a trabalhar durante um ano no café que conta já com um quarto de século de história.
“Conhecia a dona, propôs-me trabalho e eu alinhei.” Se agora entram no máximo 20 clientes por dia, na altura em que Margarida assumiu o balcão eram às centenas. “Nessa altura é que era trabalhar, agora isto é um passatempo”, garante, com os olhos de quem vê o negócio como cliente. Entrava às 7 da manhã e saía às 2h.
Parece muito mas, para Margarida, quando é feito com gosto não custa. “Só não me ponham é num sítio fechado”, pede, com a experiência de anos a trabalhar no campo, tanto em vinhas ali na zona como na poda e nas vindimas em França, onde ainda hoje se desloca anualmente. O dinheiro que faz lá serve perfeitamente para o dia-a-dia em Portugal.
Aos 50 anos mantém uma vida solitária da qual não prescinde. Apesar do ar de quem não precisa de ninguém, Margarida confessa que é uma mulher de paixões. “Correspondidas?”, perguntamos. “Espero que sim”, diz entre risos, mas uma dose de confiança faz com que reformule a resposta: “Ai sim, correspondidas.” Mesmo mantendo-se solteira, revela que esteve já de casamento marcado.
“Era para casar num 9 de Agosto e acabamos o namoro a 25 de Junho”, explica com todo um rol de datas que lança em catadupa. “E sabe o melhor? Ainda hoje somos amigos e estamos os dois solteiros.” Perante a nossa provocação sobre uma história para a qual ainda não parece haver ponto final, Margarida encolhe os ombros. “Aprendi uma coisa nesta vida, que foi nunca dizer nunca.”