Terror na escola. Professora atirava cadeiras e ameaçava furar olhos às crianças

Terror na escola. Professora atirava cadeiras e ameaçava furar olhos às crianças


Começou a dar aulas aos 30 e foi coordenadora de escola quase uma década. 


A professora primária condenada anteontem pelo Tribunal de Sintra a seis anos de cadeia efectiva por maltratar 19 crianças chegou a atirar uma cadeira à cabeça de um dos alunos. No acórdão, a que o i teve acesso, lê-se que Maria Inês Louro ameaçava os alunos de que, se contassem aos pais o que se passava na escola, lhes “furava os olhos”.

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Ameaças, descrevem os juízes, feitas com um pau de vassoura na mão. O método para disciplinar a turma – constituída por crianças de cinco e seis anos – consistia aliás em bater com esse pau na secretária. Insultos como “melgas”, “burros”, “almôndegas”, “arrogantes” e expressões como “porra” e “fónix” eram frequentes. Tal como agressões físicas com o pau e o livro de ponto, bofetadas e pancadas na cabeça. Em pelo menos uma das situações, um rapaz ficou a sangrar. Noutra, a professora “viu-se obrigada a aplicar pomada” a um aluno para “disfarçar” as marcas da pancada. 

O acórdão também conta como Maria Inês Louro fumava e “comia cereais com leite” na sala de aula, obrigando os alunos a lavar a tigela, ou como dava as aulas de óculos de sol. Os gritos da professora, descreve o colectivo de juízes, ouviam-se no pátio da escola e professores e funcionários contaram como também se ouvia o pau da vassoura a bater na secretária. Alguns dos 19 alunos agredidos passaram mesmo a ter de ser seguidos por um psicólogo. 

A professora negou todas as acusações até ao fim, mas das 27 crianças da turma A da Escola Primária da Venda Nova, na Amadora, 20 foram ouvidas em tribunal e confirmaram as agressões físicas e psicológicas. Além dos seis anos de cadeia –  de que ainda pode recorrer –, Maria Inês Louro terá também de pagar mais de 20 mil euros em indemnizações às famílias. No final do ano passado, foi suspensa do ensino por 240 dias com perda de vencimento. Está a ser sustentada pela mãe e, por não receber, revela o acórdão, foi obrigada a pedir apoio financeiro à Segurança Social.  

Um ano para esquecer Os maus-tratos, dizem os juízes, aconteceram durante todo o ano lectivo de 2012/2013. Pouco tempo antes, Maria Inês tinha perdido o pai – empresário da construção civil – e foi destituída “de forma confrangedora” do cargo de coordenadora de escola que ocupou durante nove anos: o então director do Agrupamento de Escolas considerou, por escrito, que a professora não tinha perfil “dinâmico e assertivo” para ocupar o lugar. Também na mesma altura, separou-se do marido, com quem mantinha uma relação desde os 13 anos e de quem tem um filho de 17. 

Os juízes consideraram que esta envolvência é “uma atenuante”, mas sublinharam que a professora “maltratou física e psicologicamente 16 alunos saídos do jardim-de-infância [as restantes três crianças envolvidas pertenciam a uma turma do quarto ano], não mostrou qualquer arrependimento e pretende retomar a actividade docente”. Numa das sessões, e quando o juiz lhe perguntou como era possível tantos alunos relatarem agressões, respondeu apenas: “Eu perdoo-lhes”.

da tap aos ansiolíticos Na altura das agressões, a professora estava a tomar ansiolíticos receitados pelo médico de família. E depois de o processo judicial ter começado, diz o acórdão, Maria Inês teve de recorrer a um psiquiatra, devido a “períodos de perturbação emocional”. O médico, no entanto, não lhe alterou a medicação. 

A professora chegou tarde ao ensino. Filha de emigrantes, nasceu em Cahors, na França. É  a mais velha de dois irmão e até aos oito anos viveu fora de Portugal. Regressou para ser educada pelos avós maternos  – os pais só voltaram mais tarde – e chumbou nesse ano por “dificuldades em se adaptar à língua”.  Depois de fazer o 12.º, candidatou-se à licenciatura em Educação de Infância, mas desistiu e entrou em Direito – curso que frequentou dois anos no Porto. Só depois decidiu estudar para professora do primeiro ciclo, em Lisboa. Terminou o bacharelato em 1998 e a licenciatura em 2001 – já com 30 anos. 

Ainda assim, começou a trabalhar muito antes, aos 18, como secretária do director de uma empresa que explorava umas minas de urânio em Viseu. Mais tarde, e durante dois anos, foi hospedeira de terra da TAP. Depois de tirar o curso, começou a carreira de professora em Mangualde e ainda passou por um colégio privado em Belas até ser colocada, como efectiva, na Amadora.