Natalidade. Quatro casos na primeira pessoa


Inês e Matilde nasceram agora; Laurae e Duarte estão para nascer. Quatro nomes num Portugal pouco habituado a nascimentos.


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Eduardo e Inês

Inês nasceu no dia 3 de Julho e parece mínima ao colo do pai, mas tem quase 4 quilos. “É porque eu sou grande”, brinca Eduardo Alegria. Aos 40 anos, o gestor de projecto na área das tecnologias conta que o primeiro filho só veio agora porque assim se proporcionou. No primeiro casamento nunca tinha sentido o clique e depois gozou a vida, viajou. Até que agora fez todo o sentido e pela mãe de Inês, Isabel, era já outra de seguida.

Também eles correm às promoções e começaram a comprar fraldas mês e meio antes de Inês nascer. Se no caso deles foi simplesmente o evoluir da vida, Eduardo acredita que é natural que os nascimentos voltem a aumentar: “Depois do choque e do aperto da crise, as pessoas habituaram-se a viver com menos e a vida vai recuperando a normalidade.” A ver pelo prédio deles no Montijo, Portugal tem futuro. Em dez fracções há neste momento dez crianças até aos cinco anos.

 

Sandra, Manuel e Laura

Manuel sempre pensou que fosse ter o primeiro filho aos 25 e depois seria quase uma equipa de futebol, assim uns dez. Aos 31 anos, o bancário vai com algum atraso mas o nascimento do primeiro elemento, Laura, está previsto para o fim de Setembro. Têm estado a poupar e este ano, até pela proximidade do parto, já não haverá férias fora. Mas o jovem casal admite que a despesa é grande: ganham os dois cerca de 2 mil euros e calculam que 40% será para a bebé. “Até agora não vi nenhum incentivo”, diz Sandra, de 33 anos e empregada de escritório.

Há quatro meses inscreveu-se para receber o subsídio pré-natal e ainda não teve resposta. “Pode ser que venha a tempo”, ironiza. Foi por ela que esperavam mais, mas agora, que tudo tem corrido bem, Sandra arrepende-se de não ter tentado ser mãe mais cedo. “Não vale a pena estar a adiar, nunca há as condições perfeitas”, concorda Manuel. Por vontade dele não serão dez, mas pelo menos gostava de três.

 

Raquel e Matilde 

Matilde nasceu no dia 13 de Março, é uma das bebés de 2015. Raquel Martinho, engenheira alimentar de 32 anos, foi mãe pela primeira vez aos 19. Nunca pensou em voltar a ser, até se começar a aperceber com o marido de que a adolescente que têm em casa estava a ganhar asas. Voltam agora à aventura da maternidade, desejo que demorou mais tempo a concretizar-se não por causa da crise mas pela “preparação psicológica” da mãe. Raquel ainda não viu grandes incentivos, mas quando compara o cenário com o nascimento de Carolina, há 13 anos, vê algumas facilidades.

Já gastou uma “pequena fortuna” com Matilde, mas hoje em dia há fraldas em promoção a metade do preço e mais marcas de tudo. “Se me saísse o euromilhões, ia o terceiro”, brinca. Mas também, quem sabe, se houvesse mais creches. É preferível não complicar muito, resume. “Não vale muito a pena esperar que melhore. Um dia é o ordenado, noutro dia é outra coisa. A vida está sempre a mudar e temos de aproveitar o momento”, diz.

 

Teresa, João e Duarte

 Teresa e João estão nos 30 e vem a caminho o primeiro filho. O nascimento de Duarte está previsto para 15 de Setembro e estes pais de primeira viagem acreditam que já terão gasto mais de 2 mil euros em consultas e compras. Como foi tudo planeado, estavam mais preparados.

Os dois enfermeiros decidiram ter agora o primeiro filho porque a vida já está mais estável e admitem que se calhar já vão um bocadinho tarde entre os amigos, já que alguns já vão no segundo. João tem dúvidas que os incentivos pudessem acelerar muito as coisas. “Ninguém vai ter filhos por mais ou menos 20 euros de abono”, diz. Da mesma forma, não acredita que a flexibilidade laboral proposta seja implementada no sector privado. Certo é que Teresa gostava de ter uma licença mais longa. E creches mais baratas.