Não é por acaso que Joaquín Guzmán é conhecido há vários anos como “Senhor dos Túneis”, nem esta foi a primeira vez que o barão da droga mexicano “El Chapo” conseguiu escapar de uma prisão através de um túnel subterrâneo cuidadosamente pensado e desenvolvido.
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Para a sua grande fuga, firmada no passado sábado, foram precisos 27 anos e conhecimentos de engenharia avançados para Guzmán fugir da prisão de Altiplano, referia ontem o “Daily Beast”. Sem contar com a ajuda preciosa de três guardas e do próprio director do centro de detenção, todos eles já demitidos pelo ministro mexicano do Interior, Miguel Ángel Osorio Chong.
Seria de esperar que “El Chapo” ficasse calado, refugiado nas Baamas ou no Panamá para escapar à operação maciça que está em marcha desde o fim-de-semana para o devolver à prisão. Mas contra tudo o que os mais cautelosos provavelmente aconselharam, o barão da droga decidiu usar o Twitter – ou pedir a alguém que o fizesse por ele – para virar as armas e a fúria contra Donald Trump.
Tudo por causa do que disse o multimilionário norte-americano que, após anunciar a sua intenção de se candidatar às primárias do Partido Republicano para tirar Barack Obama da presidência em 2016, disparou contra a imigração mexicana, irritando desde canais de televisão à organização do concurso Miss USA.
“Continua a dizer mal e eu vou fazer com que engulas todas as putas das tuas palavras”, escreveu Guzmán na rede social, com mais alguns insultos e ligação directa à página oficial de Trump. Em causa estão as declarações que este fez de que todos os mexicanos são traficantes e violadores.
Recompensa A classificação genérica dos vizinhos mexicanos feita por Trumpestá longe de corresponder à verdade, mas no caso de “El Chapo” até corresponde. Pelo menos no que toca à parte do tráfico de droga, um submundo espalhado pelos quatro cantos do planeta do qual ele é rei e senhor.
Depois de várias detenções e fugas, Guzmán foi finalmente capturado a 22 de Fevereiro de 2014 e posto na prisão de alta segurança de Altiplano. Dois dias depois, foi formalmente acusado de tráfico de droga, a juntar às acusações que pendem sobre ele em pelo menos sete jurisdições dos Estados Unidos, razão pela qual as autoridades norte-americanas exigem a sua extradição.
A 17 de Abril desse ano, o então procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, informou que o país não planeava extraditar o barão da droga, mesmo que os EUA apresentassem um pedido formal.
Meses se passaram com os advogados de defesa do traficante a interporem recurso atrás de recurso para aliviarem as acusações formais do México e impedirem a possível extradição. E no sábado passado, o que se julgava impossível aconteceu: depois de uma consulta médica, Guzmán foi visto pela última vez por volta das 20h52 perto do chuveiro, a única zona da sua cela que não estava abrangida pelas câmaras de vigilância. Depois de duas horas sem ser avistado, foi dado o alerta para a suspeita de fuga, que acabaria por se confirmar.
Usando um túnel subterrâneo com cerca de um quilómetro e meio de comprimento, que começava na zona do chuveiro da cela e desembocava numa zona de construções do Bairro de Santa Juanita, Guzmán escapou e continua foragido, escondido em parte incerta.
As buscas continuam em marcha, com centenas de agentes federais mexicanos a patrulharem várias zonas ao redor da prisão e os aeroportos do país. Ontem, entre o embaraço de “El Chapo” ter conseguido escapar – apesar da pulseira electrónica e da vigilância 24 sobre 24 horas – e a falta de pistas para o encontrar, o governo do México anunciou uma recompensa de 60 milhões de pesos (cerca de 3,4 milhões de euros) por informações que conduzam à captura do barão da droga.
É provável que as alegadas pistas estejam a ser mais que muitas, mas nenhuma surtiu efeito até agora. Na Guatemala, onde Guzmán foi detido em 1993, o patrulhamento das fronteiras já foi reforçado, a acompanhar o aparato securitário do México. O que falta, segundo o “New York Times”, é que o governo de Enrique Peña Nieto responda à oferta dos EUA, que já disponibilizou drones, marshals e até a possibilidade de criar uma força binacional. “Não conseguimos entender porque é que [o governo] está a recusar-se a dar uma resposta”, disse fonte das autoridades americanas ao jornal.