O cinema pode fazer filmes como “As Nuvens de Sils Maria”, pode chorar e rir-se de si próprio ao mesmo tempo. Pode pôr uma actriz com décadas de experiência em luta com uma outra que anda há muito menos tempo nisto. E assume que a trama é sobre estrelas ao despique, sobre a idade, as suas diferenças e os seus dilemas, a fama que aparece e desaparece sem aviso em ambas as situações.
Juliette Binoche interpreta a estrela que regressa à peça de teatro que muitos anos antes lhe deu tudo. Nessa altura foi a mulher mais nova que seduziu a chefe e depois a largou na desgraça. Agora vai ser ela a patroa, pronta a acabar miserável. E enquanto se prepara para esse desígnio e lida com perturbação com a morte do autor do texto, vive com intensidade a relação com a assistente pessoal (Kristen Stewart). Muito mais nova, faz-lhe a vida profissional, queremos saber se lhe vai mudar o resto dos dias. Há tensão coisa que chegue no drama e há uma bonita luta constante entre as actrizes, qual delas a mais intensa.
Somos nós que acabamos por ganhar mais no meio de tudo isto. O cinema tem destas maravilhas, é um encantamento que não se perde, para lá das tecnologias e da quantidade de óculos que tenhamos de usar para ler as legendas e perceber a profundidade do campo. Enquanto vemos o filme nada mais acontece, o tempo não passa, ninguém envelhece, ninguém perde um amor – no máximo ganha um ou marca uns quantos pontos a favor. Binoche é para sempre sedutora, Stewart é admiravelmente madura e consciente disso. E Olivier Assayas brinca com tudo isto – connosco e com a história. Brincadeira séria, brincadeiras de gente grande.