À primeira vista poder-se-ia pensar que a proposta de referendo de Alexis Tsipras corresponde à mesma estratégia de Papandreou quando, em 2011, propôs um referendo à permanência da Grécia no euro. Mas essa visão é errada.
Papandreou queria um referendo para legitimar a austeridade. Tsipras quer o referendo para sair do euro. Por isso é que o Syriza já apelou ao “não”, que legitimaria o regresso à dracma.
Este jogo de gato e rato com os credores, em que a Grécia anda desde Janeiro, corresponde assim a uma estratégia pensada desde o início. A Grécia pode sofrer uma hecatombe com a saída do euro, mas um partido radical como o Syriza não se importa com isso. Pelo contrário, estes partidos vivem do conflito permanente e necessitam rapidamente de criar inimigos externos, a quem vão acusar de todos os males que o povo grego vai sofrer com a bancarrota. No fundo, é a mesma política que Fidel Castro, que Tsipras tanto admira, seguiu com imenso sucesso durante décadas. Cuba podia viver numa enorme miséria, mas resistia heroicamente à agressão imperialista.
De qualquer forma, o caso grego pode ser uma lição para que Portugal não se deixe cair em armadilha semelhante. Cá, o Syriza tem muitos seguidores. O Bloco de Esquerda não passa sem uma visita a Atenas, o PCP há muito que defende a saída do euro e o próprio PS não tem parado de syrizar desde que António Costa derrubou Seguro. Esperemos que o que se está a passar na Grécia sirva para esses partidos ganharem juízo e se deixarem de syrizices.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira