A Arábia Saudita está a construir um arsenal em resposta aos receios de uma mudança geopolítica no Médio Oriente. David Cortright – Instituto Kroc
Este ano, a nova guerra fria no Médio Oriente, entre a Arábia Saudita e o Irão, ficou mais clara, perante a região e o mundo. E confirmou quanto os EUA, enquanto polícia do mundo, têm procurado reforçar o seu papel de estabilizador e intermediário político e diplomático junto de vários países, entre os quais países produtores de crude, como são os casos do Irão e sobretudo da Arábia Saudita.
Esta coligação dos produtores de crude com o polícia do mundo reforça a importância deste território, como espaço geopolítico e militar, vital para o equilíbrio do mundo. Se os EUA têm pago um preço alto nas suas relações com o estado de Israel, pela sua aproximação ao Irão por via de alguns acordos de conteúdo militar, o mesmo não acontece no reforço das suas relações com a Arábia Saudita. Um país insubstituível no equilíbrio económico militar e de segurança no Médio Oriente. Nesta relação, os EUA sabem que devem valorizar mais a segurança do Ocidente que as divergências ideológicas com esta monarquia tradicional de matriz teocrática.
Os americanos sabem que esta nova guerra fria veio para ficar. O que se tem passado no Iémen é bem o exemplo da disputa estratégica na região entre o Irão e a Arábia Saudita. Confirma a dificuldade da gestão do difícil reequilíbrio estratégico numa região em que a rebelião xiita hutista poderá levar à passagem do conflito militar para uma outra fase: a da ofensiva terrestre do reino saudita. Já se imaginou em simultâneo também uma ofensiva terrestre dos EUA e aliados (da região e não só) nos territórios do Iraque e da Síria contra o EI?
Nem a “arabização” dos EUA enquanto grande produtor de energia (que não só de crude) tem desviado o seu interesse da região. Os apelos vindos da região e de fora dela à consciência humanista dos intervenientes militares não é suficiente para que o conflito seja interrompido. O que ali se joga é geopolítica e geoeconomia e influência militar a sério. Com repercussões não só a curto prazo, mas também e sobretudo a médio e longo prazo.
Tudo isto acontece quando a política domestica da Arábia Saudita vai dando sinais de programação de futuro a muito longo prazo. Com o rei Salman a programar e garantir a sucessão para os próximos 60 anos, com a designação de um sobrinho de 55 anos e do filho de 30 como futuros líderes do principal produtor de crude mundial. O que acontece pela primeira vez na história do reino.
No Iémen, o que se procura é a hegemonia política e influência no mercado político da região. Porque com o estilhaçar do Iraque e da Síria novos equilíbrios são urgentes.
A batalha pelo Iémen e o seu resultado vai marcar e muito novas mexidas no xadrez político, militar e petrolífero. Por aquela região existe cada vez mais a vontade de combater a crescente influência do Irão no Médio Oriente. No interior do Iraque essa vontade também está a crescer. No meio de tudo isto, são cada vez mais os que vão pondo em causa se valeu a pena a desastrosa desestabilização do Médio Oriente perpetrada pelos EUA e pela Europa. Em vez de um Saddam e de um Khadafi, temos hoje dezenas deles, sem rosto e capazes de tudo o que de pior existe.
São dez os países que a Arábia Saudita tem a seu lado no Iémen. Além da geopolítica, quer criar um anel de defesa militar que impeça o Irão de se aproximar do seu território. Porque a segurança e a estabilidade da península Arábica é uma linha vermelha. O próprio nome da operação é claro – Tempestade Decisiva. Num país como o Iémen, de grande importância estratégica, sempre em crise. Esta guerra por procuração recua 1300 anos e como nessa época de um lado estão xiitas e de outro sunitas.
A relação entre os EUA e os produtores de crude é relevante para o equilíbrio regional e também ocidental e mundial.
Escreve à segunda-feira