Em plena crise grega e com os credores a aumentarem a pressão sobre Alexis Tsipras para aceitar as condições de dívida, foi a partir de Sampetersburgo que o primeiro-ministro helénico fez uma derradeira declaração na sexta. “Na Europa, temos a ilusão de que somos o umbigo do mundo, cooperando apenas com os nossos vizinhos directos. Mas o centro do mundo mudou de lugar, há novas forças a nível político e económico.”E uma delas, quer se queira quer não, é precisamente a Rússia – onde, antes da declaração aos jornalistas, o governo de Tsipras assinou um acordo com o executivo de Vladimir Putin para juntos investirem na expansão do gasoduto Turkish Stream até à Grécia.
“Com a assinatura deste memorando de entendimento, que conclui o trabalho de muitos meses para mapear o gasoduto através do território grego, este irá desempenhar um papel estabilizador na região”, disse Panagiotis Lafazanis, ministro da Energia grego, também na cidade russa. “A realização deste projecto não é dirigida contra ninguém, mas une todas as regiões por onde ele vai passar.”
Alguns discordarão, numa altura em que a NATO pede à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional que sejam mais brandos com Atenas, temendo que a Grécia seja perdida para o antigo bloco soviético. Há apenas uma semana, a NATO anunciou planos de envio de artilharia pesada para o leste da Europa e Balcãs por causa do conflito na Ucrânia.
Ainda antes de descambar para uma guerra de proporções estrondosas no leste ucraniano, o conflito era de palavras e ameaças. O gás natural que abunda na Rússia – do qual os Estados-membros da União Europeia dependem em 30% – foi o instrumento-chave de pressão, logo no final de 2013. E é pelo gás que Putin continua a cimentar ganhos e dependências a nível mundial.
Além do acordo com a Grécia firmado na sexta-feira, que envolverá um investimento total na ordem dos dois mil milhões de euros, a estatal energética russa Gazprom anunciou na quinta-feira que vai construir duas novas linhas de condução de gás natural no novo gasoduto Nord Stream, anunciado em 2010, que terão como mercados-alvo a Alemanha, a França e o Reino Unido.
A anglo-holandesa Shell, a alemã E.On AG e a austríaca OMV assinaram um memorando de entendimento com a Gazprom para a construção dos dois troços com capacidade para transportar 55 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano. A acontecer, a obra deverá duplicar o fornecimento directo de gás natural à Europa, que depende, em grande medida, dos gasodutos que atravessam a Ucrânia.
A juntar ao fornecimento de gás à Europa, o Estado russo assinou nesta semana um acordo com a Arábia Saudita para cooperarem no desenvolvimento de energia nuclear, com o reino sunita a planear a construção de 16 reactores com grande apoio de Moscovo, que assumirá também um papel “activo e relevante” nas operações, avançou o organismo estatal saudita para a Energia Atómica e as Energias Renováveis.
A meio desta semana especulou-se também que a firma russa Rosneft, a quinta maior empresa petrolífera e de gás do mundo, se prepara para comprar 49% das acções da segunda maior refinaria privada de crude na Índia, a Essar Oil Ltd., num negócio que rondará os 1,4 mil milhões de euros.