Grande Auditório.  Visita ao palco que está quase sempre escondido

Grande Auditório. Visita ao palco que está quase sempre escondido


Este sábado à tarde a entrada é livre para visitar os bastidores da maior sala de espectáculos do CCB, em Lisboa. 


Não é difícil confundir os corredores que levam à parte de trás do palco do Grande Auditório do CCB com um pequeno labirinto. Por isso não é de estranhar também que alguns artistas ou frequentadores menos habituais se percam pelo espaço e que muitas vezes Patrícia Costa, directora de cena, se encarregue de os ir buscar. Mais complicado é quando se aventuram por conta própria a pouco tempo de começar o espectáculo. Nesses casos, para a responsável pela coordenação dos elementos no palco, espécie de maestro do que ali se passa, o alarme soa uma hora antes de subir o pano. É esse o significado do “em cima da hora” para a sua equipa. Se o espectáculo começar às 21h, o gongo bate às 20h.

Daí que as visitas pré-concerto organizadas pelo CCB aos bastidores de alguns espectáculos no Grande Auditório (com o preço de 2€ e para um máximo de 25 pessoas) terminem cerca de 30 minutos antes do início do espectáculo. 
As visitas pré-concerto são organizadas para não perturbar o arranque do espectáculo ou a circulação e os artistas. De vez em quando, contudo, há surpresas, como aconteceu antes do concerto de Rui Massena, a 16 de Abril. Duas das visitantes tinham como objectivo ver o maestro mais de perto, porque eram fãs, e conseguiram–no por um rasgo de sorte, uma vez que o músico entrou no palco para ir buscar umas pautas, numa altura em que não devia encontrar-se ali. Tudo antes de o pano subir, claro.

São várias as peripécias que a directora de cena testemunhou ao longo de mais de dez anos a trabalhar com o CCB, como um cantor da ópera “Antígono” que por pouco não fazia uma entrada em palco ao jeito de “Birdman”, ao aparecer quase nu quando regressava da casa de banho, ou uma cantora, nos Dias da Música, que partiu o salto do sapato quando ia a entrar em cena e teve de calçar, em alternativa, os sapatos de uma recepcionista, dois números acima. A maior parte, contudo, escapa aos olhares do público e o que se vê nas visitas pré-concertos é sobretudo a azáfama dos técnicos, o ambiente dos corredores que levam aos camarins, ao bar dos artistas ou a sala de ensaios.

Guia É Patrícia Costa que nos recebe, apesar de acompanhar as visitas escolares, cabendo a outra pessoa guiar as visitas pré-concerto. As que a directora de cena conduz começam pelo foyer, seguindo pela sala do Grande Auditório, até se chegar ao primeiro espaço fora da vista do público. No fundo faz-se o percurso inverso ao do processo de produção do espectáculo. Antes de se entrar para o lado de lá do palco, mas já no início de corredor que lhe dá acesso, passa-se pela régie da direcção de cena, quase imperceptível, arrumada a um canto, não fossem os dois monitores e o microfone.

O palco, esse, está vazio, uma vez que não há uma pré-montagem, o que nos leva a centrar a atenção nas suas dimensões. Se a boca de cena tem 17 metros de largura e 9,80 de altura, o palco interior atinge os 30 metros de largura, 19 de profundidade e 25 de altura, fruto de se ter repensado o Grande Auditório para ópera e bailado, além do teatro e da música. 

Já o número de técnicos e o tempo de montagem varia consoante o tipo de produção. A equipa fixa do CCB tem 11 técnicos de palco, três de manutenção, seis de audiovisual – profissionais polivalentes, mas que, ainda assim, são muitas vezes secundados por outros, em função das exigências das produções. O espectáculo de hoje, o concerto de Lua Nova, de Fernando Pereira, terá seis pessoas, “entre técnicos da casa e de fora”, explica Patrícia Costa, acrescentando que um espectáculo de dança ou de teatro é, por norma, mais complicado de montar que um concerto. “No da Olga Roriz [“Propriedade Privada”] só a montagem foi uma semana.” Uma duração que em tempos foi superior, na generalidade dos espectáculos, mas que entretanto teve de se adequar às disponibilidades orçamentais actuais. Por outro lado, a preparação e a comunicação do rider técnico começa um mês antes.

Prosseguimos na visita e encaminhamo–nos para os corredores que nos levam às zonas de apoio às produções de espectáculos, mas não sem antes nos chamarem a atenção para uma espécie de cockpit na parte lateral direita do palco, longe da vista da sala, uma mesa com dois monitores, microfones e um joystick que compõe o “painel de controlo” da direcção de cena. Dali comanda-se o que se passa no palco durante o espectáculo, mas também na sala através das câmaras de filmar que o captam para registo interno e permitem controlar a entrada do público.

Já nas zonas de apoio às produções, compostas por cinco salas de ensaio, 26 camarins, uma sala de guarda-roupa e duas lavandarias e seis salas de produção, visitamos o camarim principal. Além do que é habitual nestes espaços, tem uma pequena zona de estar e um roupeiro, tendo por ali passado artistas como Pina Bausch.

Bastidores O camarim colectivo assemelha-se quase a um balneário, se nos abstrairmos da fila de mesas com espelhos emoldurados pelas tradicionais luzes. O maior tem capacidade para 28 pessoas, mas se for uma orquestra, por exemplo, pode chegar às 40. Inclui cacifos, chariots, quatro duches e casas de banho. Estão vazios, mas conseguimos imaginar a agitação em eventos como os Dias da Música. Passando pelas lavandarias estão duas vitrinas com as tabelas da distribuição diária e horária dos trabalhos pelos diferentes palcos e salas. “É assim que se vai organizando o trabalho e é fundamental”, explica Patrícia Costa. No plano semanal é possível todo o processo detalhado, as horas e os sítios onde está a ser feita a montagem, afinações, soundcheck ou luzes. Na vitrine em frente está o plano mensal e por auditórios.

Antes de sairmos ainda conseguimos espreitar a montagem do concerto dos D’Alva, que decorreu ontem no Pequeno Auditório, e que replica o que antecederá no Grande Auditório. “A sequência de trabalho é igual”, refere a directora de cena. “A montagem da luz é às 9h, o som às 11h e o ensaio de som à tarde.”