© Yorgos Karahalis/AP
Não sei muito bem que pensar da actual crise grega. A verdade é que, não querendo ser parcial, a crise tem muitas faces e há que observá-las todas. Os gregos têm uma enorme dívida e há que pagá-la, dizem uns. Quem deve, paga, é o pensamento comum.
Mas que gregos devem a dívida e que gregos estão a pagá–la? Quem provocou a crise, quem aumentou a crise até valores insustentáveis?
Claro que não foi o zé-povinho, os funcionários públicos e os reformados que andaram a endividar-se aos milhares de milhões para “viver acima das suas possibilidades”. É claro que quem fez eclodir a crise foram economistas e financeiros, banqueiros e bolsistas, gente do grande capital, no meio de muita asneira e de muita corrupção.
Mas quem é obrigado a pagar os erros grosseiros e os crimes óbvios dessa gente é o cidadão comum. É justo? Não.
Depois há aquela questão de se olharem os povos do sul como caloteiros, avessos ao trabalho, dados à preguiça, etc.
Enquanto alemães e povos do norte da Europa, quais formiguinhas, labutam de sol a sol para depois emprestarem as economias aos camaradas do sul. Que não as querem pagar de volta.
Ora, a verdade é que a II Guerra Mundial teve dois parceiros que se deram muito bem na infâmia e no horror, um do sul e outro do norte. E quando foi derrotada, a Alemanha ergueu--se como? Com um Plano Marshall e com o perdão das dívidas a pagar a outros países, além de algumas esquecidas com o rolar dos anos.
Parece que entre os anos 30 e 40 os alemães trabalharam muito, é verdade. Mas não com muita moral. Ora, os finlandeses também não ficam muito bem no retrato por essa altura. Será que os derrotados de 1945 querem a desforra após 2008? Hitler também pretendeu a desforra de 1918. Dir-se-ia a História a repetir-se, com outras tonalidades.
Mas há ainda a questão central que é conveniente não esquecer. A crise iniciada em 2008 na Europa teve culpados. Curiosamente, são os culpados de então, as bolsas e os bancos, a alta finança, enfim, que ditam leis agora e impõem a austeridade dos outros como forma de recuperar economias, as suas.
Não só não parece moral como se nos afigura muito injusto. Há, no entanto, tanta gente a assobiar para o lado perante a tragédia. Dir-se-ia até que há muito comentador e outros que tais que rejubilam com a tragédia. Com o cheiro a sangue. Com a chacina.
Escreve à sexta-feira