Tiroteio em Charleston. “Vocês violam as nossas mulheres, têm de morrer”

Tiroteio em Charleston. “Vocês violam as nossas mulheres, têm de morrer”


Adolescente caucasiano entra numa igreja da Carolina do Sul e mata nove negros.


Os media estão a chamar-lhe crime de ódio e apesar de inicialmente as autoridades da Carolina do Sul terem remetido para depois da investigação preliminar o uso dessa classificação, foi o próprio chefe da polícia de Charleston, onde decorreu o crime, que o descreveu assim. “Para mim isto é um crime de ódio”, disse aos jornalistas Greg Mullen.

Na noite de quarta-feira, um jovem branco – entretanto identificado como Dylann Storm Roof, de 21 anos – entrou na igreja Emanuel AME (Episcopal Metodista Africana) e, mais de uma hora depois, abriu fogo contra os presentes, na sua maioria negros. Nove pessoas morreram, incluindo o pastor da igreja afro-americana, Clementa C. Pinckney, eleito pelo partido democrata para o Senado do estado na legislatura de 1997 (cargo que ocupou até 2000).

Uma das sobreviventes do ataque, ao qual se seguiu uma ameaça de bomba entretanto desmentida, disse à CNN que o atirador a poupou para que ela “contasse ao mundo” o que ele disse. “Tenho de fazer isto”, disse a Sylvia Johnson, prima do reverendo morto. “Vocês violam as nossas mulheres e estão a tomar conta do nosso país. E portanto têm de morrer.” O suspeito continua a monte.

Antes de o suspeito ter sido identificado pelo FBI, já depois de o departamento da polícia de Charleston ter posto a circular imagens captadas pelas câmaras de vigilância da igreja à hora em que entrou no edifício, Greg Mullen explicou que o atirador não entrou a matar. Participou no estudo da Bíblia marcado para aquela noite e por ali ficou, em silêncio, durante mais de uma hora antes de abrir fogo contra os presentes.

Fundada em 1816 por membros negros da igreja episcopal metodista, o local de culto onde o odioso crime teve lugar integra a lista de Locais Históricos do Registo Nacional norte-americano. Ao leme do abolicionista Morris Brown, a igreja foi a primeira de maioria afro-americana a surgir no Sul dos Estados Unidos, historicamente mais xenófobo, e foi fundada numa altura em que os negros ainda eram escravizados e comercializados como gado no país.

Reagindo ao crime, o presidente da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP), Cornell William Brooks, disse que “não existe maior cobardice do que um criminoso entrar na casa de deus e massacrar inocentes enquanto estudam as escrituras”.