Depois de vários anos a receber ao nível dos melhores advogados do país, do lado do comandante-economista só há silêncio. Paulo Lino da Silva Rodrigues, o famoso consultor do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) que é apontado por muitos como o maestro da greve de dez dias que os pilotos da TAP fizeram em Maio, auferiria 250 euros à hora pelos serviços no SPAC.
“Não é um valor assim tão alto. Nós é que estamos habituados a que paguem mal”, referiu fonte próxima do SPAC em declarações ao i.
O facto é que estes honorários estão ao nível do que ganham actualmente os advogados mais caros do país. Fonte do sector revelou ao i que os melhores ganham “no máximo 350 euros à hora”. “Claro que depende da complexidade do caso, mas um advogado cobra entre 100 e 350 euros”, em Portugal. Para cobrar o máximo terá de estar num dos melhores escritórios do país e ter alguns anos de experiência.
Em Portugal, segundo dados do Eurostat, o salário médio em 2010 era de 6,5 euros à hora. Um médico ganha actualmente, no topo de carreira, 29 euros à hora (brutos).
Milhares de horas A RTP avançava em Abril que Lino Rodrigues teria ganho, entre 2007 e 2008, 1,17 milhões de euros do SPAC. Isto significa que trabalhou 4800 horas durante esses dois anos. Se considerarmos um dia de trabalho de 8 horas, isto significa que Lino Rodrigues trabalhou 600 dias para o SPAC em dois anos. No mesmo sentido, a estação televisiva avançava que durante o período que antecedeu a greve dos pilotos Lino Rodrigues já teria trabalhado 680 horas – o que lhe teria rendido 170 mil euros.
Uma das questões que foram levantadas entretanto é se com este trabalho para o sindicato, sobretudo durante o período da greve dos pilotos do mês passado, Lino Rodrigues teria cumprido todas as horas de descanso a que um piloto está obrigado. É que o consultor terá estado ao serviço do sindicato durante a última reunião entre administração e pilotos para tentar travar a paralisação, quando faltavam três horas para levantar voo – um período que as regras ditam como sendo de descanso total.
Ontem ao final do dia o “Público” avançava que a TAP já teria suspendido o comandante, em consequência do inquérito que foi aberto pela companhia para apurar se foram violadas regras de ética e de segurança. A TAP, no entanto, não comenta o assunto. O SPAC remete todas as declarações para o comunicado de sábado à noite.
No documento, o sindicato garante que “é falso que a actividade de assessoria desenvolvida junto da direcção do SPAC tenha posto em causa, em algum momento, a segurança de voo” e que “a direcção do SPAC repudia veementemente, porque falsas, as acusações imputadas pela TAP ao comandante Paulo Lino Rodrigues”.
alívio de cavaco preocupa A oposição tem reagido às declarações do Presidente da República, que no domingo se declarou “mais aliviado” com o processo de privatização da companhia aérea. Depois de, na quinta-feira passada, o consórcio Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, ter ganho a corrida à privatização à TAP, os comentários ao negócio não pararam de aumentar.
A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, afirmou ontem que as declarações de Cavaco foram “um insulto à inteligência” dos portugueses. “Dizer que se sente aliviado se a TAP for vendida por 10 milhões de euros, [no] mesmo país que comprou submarinos por mil milhões de euros é um insulto à inteligência de toda a gente que vive neste país”, disse Catarina Martins. A responsável do Bloco acrescentou que “é muito difícil comentar as declarações do Presidente da República porque ultimamente o Presidente da República parece ter-se esquecido do cargo que ocupa e limita-se a fazer propaganda para a coligação PSD/CDS”.
No mesmo sentido, o líder da banca parlamentar socialista,Ferro Rodrigues, enviou uma nota à agência Lusa em que questiona as afirmações de Cavaco Silva. “O alívio do Presidente da República sobre o processo de privatização da TAP assentará em informações que não foram partilhadas com a Assembleia da República nem com os partidos?”
Ferro Rodrigues vai mais longe e equipara a privatização da TAP com a resolução do BES. “Serão agora [essas informações de Cavaco Silva] mais fiáveis do que as que há um ano o levaram a dizer que o BES estava sólido?” O PS tem acusado o governo de secretismo e falta de transparência, tendo o deputado Rui Paulo Figueiredo admitido ontem que o partido equaciona usar “todos os mecanismos” para aceder à docu-mentação do processo. Isto porque, continuou o deputado, “este assunto é absolutamente essencial e relevante”.
Também o Partido Comunista Português (PCP), pela voz de Jerónimo de Sousa, se pronunciou sobre as palavras de Cavaco Silva. Para o secretário-geral do PCP, “é chocante ouvir um Presidente da República falar assim de uma empresa estratégica, uma empresa que se liga à comunidade lusófona, uma empresa que é simplesmente a maior exportadora nacional”.
Recorde-se que a TAP foi vendida ao consórcio Gateway num negócio em que o Estado encaixará 10 milhões de euros.