Parece estar para breve a maior movimentação de artilharia pesada dos Estados Unidos para países da antiga esfera de influência soviética desde que terminou a Guerra Fria. O“New York Times” foi o primeiro a avançar, no sábado à noite, que Washington está a planear enviar tanques, veículos de combate de infantaria e outra artilharia pesada para países da Europa de leste e do Báltico que, depois da queda da URSS, passaram a integrar a União Europeia e a NATO e que têm exigido cada vez mais apoios perante a anexação da Crimeia pela Rússia e a alegada presença de tropas russas em território ucraniano.
Se a proposta da administração Obama for aprovada no Congresso, será a primeira vez em décadas que os EUA estacionam e armazenam equipamento bélico pesado na fronteira com a Rússia, perante as crescentes tensões entre o país e o Ocidente potenciadas pela crise política na Ucrânia. A ser aprovado pelo secretário de Defesa, Ashton Carter, e pela Casa Branca, o plano seguirá para debate e aval na reunião dos ministros da Defesa da NATO que acontece este mês, em Bruxelas – abrangendo equipamento militar pesado “para até cinco mil tropas”.
“Vamos colocar bastante equipamento em posição”, disse um alto funcionário norte-americano ao jornal nova-iorquino, sem avançar mais detalhes sobre o relatório do Pentágono apresentado. Esses, os detalhes, começaram a chegar ao longo das horas seguintes, com as próprias chefias militares de alguns desses países a quebrarem o silêncio e a confirmarem o plano norte-americano.
Ontem, Tomasz Siemoniak, ministro polaco da Defesa, disse que esteve reunido com membros do Departamento de Defesa norte-americano no mês passado para discutir esta possibilidade e referiu o “estacionamento permanente” de tanques e outra artilharia pesada na Polónia e noutros países da região como parte dos planos da NATO para o envio rápido das forças “ponta-de-lança” para o mais perto possível da fronteira russa, “caso se prove necessário”.
ÀReuters, o ministro lituano da Defesa, Juozas Olekas, também confirmou que vai receber a artilharia e restante equipamento americano, avançando que Vilnius está “no processo de preparar as infra-estruturas militares, para que possam ser usadas para pré-posicionamento”. “Está quase pronto”, confirmou.
A decisão, à espera de aprovação que deverá ser acelerada, dado o calendário de encontros da NATO, foi aplaudida por oficiais como o antigo comandante supremo da NATOna Europa, o almirante americano James Stavridis, que cita “uma alteração política muito importante” perante as recorrentes queixas recentes das ex-nações soviéticas contra a Rússia, as mesmas que têm exigido mais apoios aos aliados para o caso de terem de enfrentar intromissões de Moscovo. “É um plano que dá garantias razoáveis aos aliados nervosos, embora nada seja tão bom como ter tropas estacionadas a tempo inteiro no terreno, claro.”
Segundo o coronel Steve Warren, porta-voz do Pentágono, “o exército norte--americano continua a rever com os aliados quais são as melhores localizações para armazenar os materiais”, mas “ainda não foi tomada nenhuma decisão sobre se e quando vamos movimentar estes equipamentos”. O“NYT” diz que a proposta prevê que equipamento suficiente para uma companhia, 150 soldados, seja armazenado em cada um dos três Estados do Báltico – Estónia, Letónia e Lituânia – e que equipamento suficiente para uma companhia ou possivelmente um batalhão (750 soldados) será instalado na Polónia, na Roménia, na Bulgária e, possivelmente, também na Hungria. Todos estes países integram a União Europeia a 28 e são membros da NATO.