As eleições legislativas na Dinamarca ocorrem no próximo dia 18 de Junho, mas a primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt só anunciou a data há duas semanas. A chefe de governo nomeada em 2011 mesmo sem ter vencido o acto eleitoral entendeu que os dinamarqueses tinham de ser chamados às urnas para reforçar a legitimidade das actuais políticas. Thorning-Schmidt garantiu que o país “já não se encontra em crise”.
Campanha O professor da Universidade de Copenhaga Jonas Hedegaard Hansen disse ao i que “os principais assuntos da campanha eleitoral vão ser a imigração, os cuidados de saúde e o desemprego”. Na imigração existem preocupações relacionadas com os trabalhadores provenientes do leste europeu. A economia ocupa uma pequena parte da discussão, já que “a Dinamarca tem boas condições financeiras”.
No entanto, Jonas Hansen realça alguns problemas que surgirão no longo prazo e necessitam de ter uma abordagem nas próximas semanas. Um exemplo apontado pelo docente dinamarquês é a sustentabilidade demográfica, porque “muitas pessoas estão reformadas dentro de 20 anos e poucos jovens entram no mercado de trabalho”. Ou seja, dentro de pouco tempo haverá menos pessoas “a pagar impostos e mais beneficiários das pensões”. A educação e as alterações climáticas também são temas que fazem parte do presente.
Monarquia Num país onde os reis são chefes de Estado há sempre a possibilidade de os partidos republicanos contestarem o regime monárquico. Jonas Hansen considera que “a monarquia não é um assunto para a campanha eleitoral, embora alguns partidos, como o Partido Socialista do Povo, pretendam modificar o seu papel”. A vontade de alterar alguns artigos da Constituição tem criado divisões no seio do Partido Social--Liberal. Contudo, o carinho da população dinamarquesa pelos monarcas garante estabilidade ao regime instituído.
Política famosa Helle Thorning-Schmidt obteve 24,9% dos votos nas últimas eleições, o que correspondeu a 44 mandatos no parlamento dinamarquês. A vitória sorriu ao líder do Venstre, Lars Lokke Rasmussen, que registou 26,7% e mais três deputados que a social-democrata. No entanto, o Partido Social-Liberal e o Partido Socialista conseguiram o número de lugares suficientes para formar uma maioria de esquerda. Margarethe Vestager e Villy Sovndal aceitaram as condições impostas pela social-democrata, que impediu a formação de um governo de direita.
O caminho trilhado pelo executivo dinamarquês teve vários obstáculos durante os quatro anos. Jonas Hansen revela que “os sociais-liberais e os socialistas discordaram das políticas económicas, tendo causado o abandono dos últimos a meio do mandato”. A saída da vice-primeira-ministra, Margarethe Vestager, para a Comissão Europeia enfraqueceu ainda mais a maioria. O docente entende que “nos dois primeiros anos, a chefe do governo sofreu inúmeras derrotas”. Contudo, o envolvimento do principal líder da oposição em escândalos coloca a primeira-ministra com hipóteses de vencer.
Nos últimos anos, a chefe de governo tem sido notícia por causa de vários episódios que não estão relacionados com o exercício do cargo. No funeral de Nelson Mandela tirou uma selfie com Barack Obama e David Cameron que fez as delícias das revistas sociais, tendo provocado ciúmes em Michelle Obama. O casamento com o filho de um antigo líder do Partido Trabalhista britânico deu novamente visibilidade à líder dinamarquesa. A eleição de Stephen Kinnock para a Câmara dos Comuns pelo círculo de Aberavon foi realçada pela imprensa britânica, que tentou perceber como iria perdurar a relação entre os dois.
Sondagens Neste momento, as sondagens indicam uma vantagem dos sociais–democratas sobre o Venstre de Lars Lokke Rasmussen de 6 pontos percentuais, que correspondem a mais dez deputados no parlamento. No entanto, os números alcançados pelos partidos de direita ultrapassam a totalidade das forças de esquerda em percentagem e mandatos.
As diferenças não são relevantes, mas não está colocado de parte um cenário semelhante ao que se verificou em 2011. O docente dinamarquês acredita que “o partido Alternativet vai eleger deputados pela primeira vez”. A nova força defende questões ambientais e formas diferentes de abordar a economia. Jonas Hansen explica que “a população costuma votar nos partidos mais ao centro, como os sociais-democratas, sociais–liberais e conservadores”.
Eurocepticismo Um bom resultado do Partido do Povo dinamarquês de Kristian Thulesen Dahl nas próximas eleições torna a posição da Dinamarca na União Europeia mais complicada. A professora da Universidade Nova de Lisboa Ana Isabel Xavier revela que “o partido é contra a assimilação de imigrantes, a adesão da Turquia e a diminuição da soberania dinamarquesa em Bruxelas”. A população tem o desejo de se manter no “clube europeu, mas exige aos seus governantes que reformem as instituições a partir de dentro”.