O Partito Democratico (PD), do primeiro-ministro (PM) Matteo Renzi, caiu 10% em relação às eleições para o Parlamento Europeu de Maio de 2014 e, extrapolando os resultados para uma futura eleição do parlamento nacional, ficou abaixo do limiar da maioria absoluta concedido pelo projecto da nova lei eleitoral. Ganhou o Centro e o Sul, reconquistou a Campânia e perdeu, por questiúnculas internas, a Ligúria. Renzi resumiu o resultado das regionais com um sound bite futebolístico: “5 a 2”. De caminho, também por culpa da crise e da elevada abstenção, perdeu 2 milhões de votos.
Berlusconi deu um grande passo em relação ao desaparecimento, com menos de 10% dos votos (tinha obtido 31% nas eleições regionais de 2010). Fazem-se apostas sobre o número de deputados que abandonarão a Forza Italia directamente para o PD, desta vez sem passarem pelo Nuovo Centro Destra (NCD) de Angelino Alfano.
Beppe Grillo (o mais parecido que Itália tem com Marinho Pinto mas colectado nas Finanças como cómico) tornou-se o líder do segundo maior partido, com 18% (compara com os 32% obtidos nas legislativas de 2013).
Mais assustador foi o resultado da Lega Nord, que com 13% duplicou os resultados das regionais de 2010, conquistou o Veneto (onde Renzi apostara forte), obteve resultados importantes fora do bastião setentrional e viu confirmada a natureza de aspirante a líder nacional do capo Matteo Salvini.
Estas eleições mostraram alguma volatilidade do eleitorado (reforçada pela elevada abstenção) e uma crescente apetência pelos extremos políticos (típica dos períodos de crise económica e social). A possibilidade de eleições antecipadas a pedido de Renzi (contando com a conivência do recém-eleito Mattarella no Quirinal) diminuiu drasticamente porque uma vitória do PD se tornou mais incerta, mesmo se aprovada a nova lei eleitoral.
Segunda-feira reúne-se a direcção do PD e será o momento do ajuste de contas com a ala esquerda do partido, desde o ex-secretário-geral Bersani (defenestrado por Renzi em eleições primárias), ao ex-PM d’Alema, passando pela corrente sindicalista e por todos os ex-comunistas que se acolheram ao PD e convivem com dificuldade com os ex-democratas cristãos que por lá elegeram domicílio (e que também incluem vozes críticas, com destaque para o ex-PM Enrico Letta, uma outra vítima de Renzi).
De caminho verificaram-se alguns abandonos na base de apoio parlamentar, desde logo os Popolari per l’Italia, de Mario Mauro, o que deixou Renzi com uma estreita maioria no Senado (nove votos), perigosa para a aprovação das reformas constitucionais e eleitorais num sistema que ainda é bicameral.
De saída da ala esquerda do PD está já Pippo Civati, que, em ruptura com a proposta de lei eleitoral favorecedora de maiorias, anunciou no final de Maio a constituição de um novo partido: Possibile. Com ajuda de um bom dicionário e de alguma imaginação não será difícil que, à semelhança do que aconteceu em Portugal, a esquerda à esquerda da esquerda (E3) se multiplique alegremente em protopartidos mas não necessariamente em votos. Nichi Vendola, o grande pensador da E3 local, sonha com o fim dos resultados em “mancha de leopardo”. Se com as manchas se perder também o leopardo, Renzi agradece.
Escreve à sexta-feira