A banca tradicional tem de alterar o modelo de negócio para voltar aos lucros. Esta é uma das conclusões da consultora A.T. Kearney na edição 2015 do seu Retail Banking Radar, um estudo detalhado sobre o sector europeu de banca de retalho, divulgado hoje, que todos os anos analisa o desempenho de mais de 100 bancos e divisões bancárias de retalho em 24 países da Europa. Para fazer face às tendências que vão afectar os bancos e para atingir níveis de rentabilidade adequados, será incontornável uma transformação estrutural do modelo de banca tradicional.
Os resultados deste ano reflectem a lenta recuperação económica, apesar de algumas melhorias ao nível da rentabilidade, em parte explicadas pela queda significativa dos custos de provisionamento. O sector continua a demonstrar uma grande dificuldade em aumentar e diversificar a sua base de receitas e a apresentar um progresso limitado termos de eficiência de custos, depois dos esforços de reestruturação empreendidos.
A maioria dos bancos de retalho da Europa não conseguiu aumentar a penetração ou extrair novas fontes de receita da sua base de clientes. A queda das taxas de juro de referência provocou uma pressão adicional na margem financeira e, em consequência, o produto bancário por cliente (644€) permaneceu estável face aos três últimos anos. Em Portugal, este indicador cresceu ligeiramente pela primeira vez nos últimos seis anos, atingido 265€, cerca de metade do verificado no período anterior à crise.
A produtividade por colaborador foi o único indicador no qual os bancos europeus melhoraram consistentemente nos últimos quatro anos. Em 2014 subu para 220 mil euros, um nível superior ao verificado em 2007. Em Portugal, a produtividade média aumentou pela primeira vez nos últimos anos (para 107 mil euros), reflectindo as reestruturações levadas a cabo pela generalidade dos principais bancos que actuam no mercado português.
A margem financeira em função do produto bancário no período pré-crise permanece em cerca de 69%, reflectindo a dificuldade que os bancos europeus têm demonstrado em adaptar os seus modelos de negócio para diversificar receitas, quer ao nível da prestação de serviços de aconselhamento financeiro, quer na comercialização de produtos fora de balanço, como seguros ou outros produtos de investimento. No caso de Portugal, o menor peso da margem financeira em percentagem do produto bancário (50%) deve-se não só a pressão existente sobre a própria margem financeira com aos ganhos verificados com a alienação de dívida pública em 2014.
Apesar dos muitos planos de reestruturação anunciados desde o eclodir da crise, o rácio cost-to-income manteve-se praticamente inalterado nos últimos seis anos, oscilando pouco em torno dos 60%. “Em muitos casos, o redimensionamento das redes de agências e os cortes nas estruturas de pessoal não resultaram necessariamente em maior eficiência. Portugal, por exemplo, foi dos países na Europa que maior percentagem de agências encerrou e mais pessoal reduziu nos últimos anos, e ainda assim apresenta o nível de cost-to-income mais elevado da Europa”, salienta Pedro Castro, director da A.T. Kearney e um dos autores do estudo. Este facto corrobora a visão da A.T. Kearney de que a eficiência não se trata apenas de cortar custos, mas de desenvolver um modelo de negócio rentável e sustentável, em que a melhoria de receitas e a eficiência operacional têm de ocorrer em simultâneo.
Após o máximo de 24% em 2012, as provisões para risco de crédito têm vindo diminuir significativamente, tendo atingido 14% do produto bancário em 2014, um valor próximo aos níveis anteriores à crise. Este valor contrasta com um nível médio de provisionamento de 38% no sul da Europa, onde se verificou uma diminuição significativa nos bancos espanhóis e italianos, mas não ainda em Portugal – o país com o nível de custos com provisões mais elevado da Europa (superior a 80% do produto bancário). Pedro Castro antecipa que “2015 possa ser o ano em que os bancos portugueses consigam inverter a tendência dos últimos anos, beneficiando das medidas de limpeza de balanço entretanto concretizadas”, embora advirta que “a incerteza económica e a elevada taxa de desemprego aconselhem prudência nesta matéria”.