Sevilha em festa. ¡Deixem dormir o bebé, coño!


“Vamos, mi Sevilla, vamos, campeón” ou então “Barça, Barça, mierdaaaa!”


Em Hampden Park, casa da selecção escocesa e palco da final da Taça UEFA, entre a classe média espanhola (Espanyol vs. Sevilha), já se nota uma onda de calor pouco habitual naquelas paragens.

Basta a presença dos adeptos latinos, cujas gargantas só se abrem para maltratar o Barcelona, beber cerveja e gritar pelo respectivo clube (não necessariamente por esta ordem). Sempre com o sangue na guelra, insistentemente a gritar como se aquele momento fosse o último das suas vidas. Como se o futebol ficasse por ali. Como se o mundo acabasse.

Em Glasgow não será uma boa ideia… dirão eles, todos os espanhóis – obviamente mais interessados nas tapas que no fish and chips e claramente ansiosos por recuperar a movida em vez de serem convidados a sair das discotecas às duas da manhã em dias de semana – e alguns escoceses, que tapam os ouvidos a cada buzinadela dos visitantes que, em carros alugados, percorrem as ruas da cidade como se tratasse do ziguezagueante Grande Prémio do Mónaco, com ultrapassagens arriscadas, curvas apertadas e o volume do rádio no máximo, a entoar os hinos dos clubes. Ver espanhóis na Escócia é o mesmo que servir na mesma travessa de prata um sorvete acompanhado de brócolos. Simplesmente, não combina!

Antes de Glasgow, já ficáramos com uma ideia do estado (justificado) de excitação dos adeptos dos dois clubes. No aeroporto de Heathrow, em Londres (onde demos conta de uma caneta do Barcelona, perdida na mala do meu portátil), 17 fanáticos do Sevilha, vestidos a rigor com cachecóis, camisolas e bandeiras à volta do corpo, animam o ambiente na gate, entre pessoas tristes e sisudas, a condizer com o tempo.

“Vamos, mi Sevilla, vamos, campeón” ou então “Barça, Barça, mierdaaaa!” (é aí que resolvemos devolver a dita caneta à procedência), são os cânticos, que persistem a ecoar até à entrada para o avião, rumo a Glasgow. Aí uma hospedeira avisa com uma tranquilidade ímpar: “Be quiet!”

Como ninguém a entende no meio daquela algazarra, ela passa à mímica com dois dedos a fazer de “ziper”. É para fechar a boca, dizemos nós. Não, não é nada, dizem os sevilhanos. “Lalalala, Sevilla, campeón, lalalala.” A mesma hospedeira passa então para o plano C. “There is a baby in the plane and he wants to sleep. So can you be quiet for an hour?” Qual quê. É como se ela tivesse dito que um burro pilotava o avião.

Até que um dos integrantes desse grupo só de homens vestido a preceito ajuda a hospedeira, o bebé, os pais do bebé, os restantes integrantes do voo e a própria British Airways. “Deixem dormir o bebé, coño!” Silêncio total, como se uma avalancha acabasse de desabar. Missão cumprida. Por parte dos adeptos, que se calam efectivamente durante o voo inteiro. Ou melhor, deixam-se dormir. Sem nenhum chhhh da hospedeira.


 

Editor de desporto
Escreve à sexta e ao sábado