Varsóvia é o palco da final da Liga Europa, entre Sevilha e Dnipro. Foi no gueto desta cidade polaca que Wladyslaw Szpilman sobreviveu durante a II Guerra Mundial. O nome pode não lhe recordar nada, mas se viu o aclamado filme de Roman Polanski, “O Pianista”, seguramente se lembrará da personagem central. Setenta anos depois, a noite de hoje na capital polaca tem o futebol como centro das atenções. Myron Markevich e Unai Emery comandam as orquestras que tentarão fazer história, cada uma por motivos diferentes.
Os espanhóis podem tornar-se a primeira equipa a vencer a competição por quatro vezes. O Dnipro é a surpresa da Liga Europa e pode adensar o brilhantismo da caminhada com uma conquista inédita para o clube. A presença em Varsóvia aconteceu pelas mãos de Myron Markevich, pianista nas horas vagas, e treinador da equipa ucraniana. Aqui chegado, o técnico de 64 anos quer dar uma alegria a um país em conflito há mais de um ano.
O Sevilha jogará a final pela segunda época consecutiva, depois de em 2014 ter batido o Benfica em Turim. O clube andaluz parte como favorito por tudo o que tem feito com Unai Emery na Liga Europa. Mas todo o cuidado será pouco com este desconhecido Dnipro. Para começar, o clube de Leste eliminou Olympiacos (de Vítor Pereira), Ajax, Club Brugge e Nápoles e conseguiu chegar a Varsóvia marcando apenas 13 golos (10 sofridos) em 14 jogos. A solidez defensiva é uma das marcas da equipa. A outra, mais óbvia, é a sua estrela: Konoplyanka. O extremo é o jogador que mais faltas sofreu na prova (45, mais 19 do que os segundos deste ranking).
Sedeado em Dnipropetrovsk, uma das cidades fechadas da antiga União Soviética, oDnipro viveu os seus anos dourados na década de 80, ao conquistar por duas vezes o campeonato russo (1983 e 1988). Após a queda da URSS, o clube foi vivendo na sombra do Dínamo Kiev e, mais recentemente, também do Shakhtar. O Dnipro tem orgulho em apostar muito na formação. No plantel desta época estão 12 jogadores da sua cantera.
Myron Markevych substituiu Juande Ramos, treinador que venceu duas Ligas Europa pelo Sevilha. Em Dnipro, o espanhol não conseguiu triunfar nas competições da UEFA, mas curiosamente o seu sucessor está perto de um feito histórico. Markevych tem larga experiência no futebol ucraniano, com uma curta passagem pela selecção em 2010. Treinou maioritariamente clubes modestos e destacou-se na sua longa passagem pelo Metalist, entre Julho de 2005 e Fevereiro de 2014. Com Markevych, oemblema de Kharkiv deixou de terminar a meio da tabela e ficou seis vezes consecutivas em 3.o lugar da liga ucraniana.
O antigo médio arrumou as botas aos 28 anos, sem nunca ter dado muito nas vistas. Nos bancos encontrou a sua maior virtude. É um estudioso do futebol, que já estagiou com treinadores como Fabio Capello, Christoph Daum e Carlo Ancelotti. No Metalist, ficou conhecido pelo futebol ofensivo e atractivo da equipa. No Dnipro optou, para já, por um estilo mais pragmático, que deu frutos. Apesar dos jogos em casa terem sido deslocados para Kiev, devido ao conflito armado no leste do país, conseguiu levar a equipa à final. Se conseguir bater esta noite o Sevilha, no jogo mais importante da sua vida, conquistará o primeiro troféu da carreira.
Portugal ganha sempre Portugal é o único país com representação nas duas equipas. Aconteça o que acontecer em Varsóvia, pelo menos um jogador nacional erguerá a Liga Europa. Poderão ser Beto, Daniel Carriço e Diogo Figueiras, pelo Sevilha, ou Bruno Gama, pelo Dnipro. Oguarda-redes internacional foi o herói da final passada em Turim, ao defender dois penáltis contra o Benfica. Esta época Sergio Rico tem sido o titular na baliza do Sevilha nos jogos da Liga Europa – Unai Emery decidiu colocar o português no jogo dos quartos-de-final contra o Zenit, mas o seu mau rendimento voltou a tirá-lo do onze. Assim, é provável que em Varsóvia só Carriço seja titular entre o trio de portugueses na equipa andaluz.
O Sevilha chegou ontem à Polónia ainda mais motivado, devido à convocatória de Del Bosque para a Roja. Oguarda-redes SergioRico e o lateral/médio Aleix Vidal são estreantes na lista da selecção espanhola, enquanto o extremo Vitolo repetiu a chamada. Além do feito inédito de poder conquistar o quarto troféu (vitórias em 2006, 2007 e 2014), o Sevilha olha ainda para esta final como uma segunda oportunidade para conseguir um lugar na Champions 2015/16, já que foi ultrapassado pelo Valência de Nuno Espírito Santo no 4.o lugar da liga espanhola.
A nova regra introduzida pela UEFA – o vencedor da prova entra na Liga dos Campeões da época seguinte – tenta dar um novo fôlego à Liga Europa. Para o Dnipro, significaria a segunda tentativa de estar na fase de grupos da liga milionária. Juande Ramos conseguiu levar a equipa às pré-eliminatórias (2.o lugar no campeonato ucraniano) da Champions 2014/15, mas o futuro reservava ao Dnipro um brilharete na segunda principal competição europeia de clubes.
O treinador espanhol que construiu as bases da equipa que estará hoje no relvado de Varsóvia e ganhou o troféu com o Sevilha em 2006 e 2007 é provavelmente quem conhece melhor os dois onzes em confronto. Ramos tem o coração dividido, mas não hesita em dizer que o “Sevilha é claramente favorito”. “Quando chegámos [em 2010], o Dnipro era uma equipa de andar por casa. Estava desenhada para competir na Ucrânia, não a nível internacional. Trabalhámos muito e as melhorias são visíveis”. Se chegaram até Varsóvia, é legítimo sonhar com (ainda) outra surpresa na Liga Europa.
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Hoje, Dnipro-Sevilha às 19h45 na SIC