…ou ser engraçado, é escolha de cada um. Os países têm leis e outros géneros menores de legislação e é suposto todos os que com o Estado interagimos cumprirmos todas e qualquer uma delas. Sei bem que estamos em Portugal e que, por vezes, se pensa que por cá se pode fazer o que se quer. Há quem peça para mudar as regras de bolsa porque quer fazer uma OPA como lhe apetece, há quem diga que os reguladores de mercado e do sistema financeiro são demasiado rigorosos, umas vezes, ou demasiado brandos, outras quantas, mas, ainda assim, as regras lá vão existindo e os empresários cumprem-nas sempre que podem. Quando não cumprem, como alguém diria, “temos pena”. Ficam fora da carruagem.
Sobre o regulador do sistema financeiro muito se falou e até aqui já escrevi o que penso. Carlos Costa foi o único que teve coragem de mexer nas vacas sagradas. Mexeu devagar? Talvez sim. Alguém em qualquer momento tinha ousado fazê-lo antes? Sim, alguém, mesmo de entre aqueles que agora atacam o Governador, tinha tido a “ousadia”, o “atrevimento” de mexer com os donos disto tudo? São engraçados os que o criticam, pois agora são todos valentões. Jerónimo de Sousa diz que não percebe a intenção de manter o Governador. Coitado, até tem graça. Alguns, que beneficiaram bastante do anterior proprietário disto tudo, cumprem o ditado: “quando um homem está por terra até os cães lhe … em cima”! O Governador foi tão rápido quanto seria necessário? Tão duro quanto seria necessário? E a comissão parlamentar de inquérito deu origem a algo de conclusivo? De objectivo? Os quinze “acusados”, uns por dolo outros por negligência, de Ricciardi a Salgado, passando pelos autores materiais estarão preocupados com o assunto? Qualquer que seja a resposta, neste caso que tem preenchido as páginas de jornais, apenas me apeteceria dizer que, se não fosse tão triste – falo, claro, da hipocrisia de uns e de outros que atacam o regulador – teria a sua graça.
Mas, como mais vale cair em graça do que ser engraçado, vi, com espanto, as declarações de Pais do Amaral sobre a corrida à TAP. Pais do Amaral é um excelente piloto de automóveis. Um homem que se mexe bem nos meandros financeiros, um engenheiro criativo no que respeita a propostas financeiras. Titular e engenheiro. No que respeita às suas qualidades de “industrial” não tem a graça que traz para as pistas como piloto. Mas não deixa de ser engraçado.
Senão, vejamos: anunciou que ia concorrer à privatização da TAP, ancorado na experiência de um americano com reputação questionável em matéria de aviação. Havia regras para a dita privatização e, numa ânsia de preencher o espaço mediático, Pais do Amaral posicionou-se a par de outros dois candidatos, dizendo um jornal que tinha mais de trezentos milhões para injectar de imediato no negócio. Toda a gente acreditou e, mais, quis acreditar. Seria óptimo ver um português a ombrear com estrangeiros na mais emblemática das privatizações portuguesas. O prazo que lhe deram foi o mesmo que aos restantes, as condições do caderno de encargos são as mesmas e, surpresa das surpresas, quando termina o prazo de submissão de propostas vinculativas os mais de trezentos milhões que tinham estado à mão de semear passam a condicionados, não houve tempo para fazer o trabalho necessário e, ao contrário dos outros dois concorrentes apresentou como proposta uma cartinha de quatro páginas.
Pais do Amaral o candidato não teve respeito por Pais do Amaral o piloto e empresário do mundo financeiro. Numa entrevista a outro meios de comunicação social vem dizer como as coisas deveriam ter sido feitas pelo Estado. Se não estava de acordo, não devia a jogo. Foi, anunciou com parangonas que tinha ido e, afinal, não foi. Estou enganado? Não. Estou certo. Ir, como Pais do Amaral foi, tínhamos ido todos. Não teríamos graça, mas seríamos engraçados.
País do Amaral já disse que se esta privatização não avançar irá à próxima. Se não tem graça é, pelo menos, engraçado.
Empresário
Escreve à terça-feira