Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso. (ufff) Tente lá decorar este nome…
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Se julga difícil, é melhor vir a Cannes (sim, continuamos com essa ideia de seguir o festival de cinema à distância depois da bela experiência em 2012) com uma credencial de jornalista e aprende-o num instante. Para chegar lá, voa para Nice e apanha um autocarro directo para o Hotel de Ville, à frente do mar e do Palais. A partir daí, das duas, uma: ou vai para a esquerda ou para a direita.
Seja como for, o Palais será sempre o ponto de referência. É lá o centro de operações do Festival de Cinema. É lá que tudo acontece: escadaria, passadeira vermelha, salas de cinema e conferências de imprensa. Parece Hollywood, EUA, mas não.
É Cannes, França, o país em que o novo presidente da República é o nome de uma equipa de andebol portuguesa (Francisco Holanda), o país em que a série Sexo e a Cidade é aconselhada no ângulo superior direito da televisão para maiores de 10 anos e também o país em que o cumprimento masculino é dois beijos na cara, em todas as circunstâncias, incluindo a de um polícia substituir outro no turno da tarde num cruzamento da Avenue États-Units com a Croisette, a avenida mais très chic da pequena ville de 74 mil habitantes.
O quadro de Picasso, “Les femmes d’Alger” © Jason Szenes/EPA
Voltamos a falar de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso (mais um ufff). O seu quadro “As Mulheres de Argel” é o mais caro de sempre vendido em leilão, qualquer coisa como 161 milhões de euros. E o que faz a cadeia televisiva norte-americana Fox?
Tapa os mamilos das mulheres. Os mamilos!! Ainvasão a um país, até vá, damos em directo. Uma guerra em directo, também, sem bolinha no canto. Agora os seios de “As Mulheres de Argel”, isso é que não, vale um prolongado cortaaaaa como se fosse uma cena mal feita, sem pés nem cabeça. Por favoooor, é um quadro. É uma espécie de magia. Tudo o resto é non sense.
A mesma coisa acontece numa cena do sexto episódio da quinta temporada da série “A Guerra dos Tronos” em que Sansa Stark é violada por Ramsay Bolton, na noite de núpcias do casamento do casal. Atenção, a cena não é explícitca. Repito: não é. O que diz a senadora do estado do Missouri (EUA): “A cena é filmada com crueza”. Está lançada a polémica. E depois o boicote à série. Acrescente-se, a série tem infaticídios, grávidas esfaqueadas, incestos e outros que tal. Por favooor.
Se o mundo de antigamente fosse como o de hoje, Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso (outro e último ufff) não poderia sequer usar um pincel sob o risco de ser considerada uma arma de aremesso ou coisa que o valha. Por favooor.
Editor de desporto
Escreve à sexta e ao sábado