A moda tem cada vez mais seguidores e a boa nova é que o peixe, a carne e o marisco têm lugar à mesa. Só não vale alimentos processados, como nos explicam um naturopata e um chefe.
André Dourado. Naturopata e director da EMAC – Escola de Medicinas Alternativas e Complementares
Por que razão se chama “dieta do Paleolítico” ou dos “homens das cavernas”?
A designação da dieta do Paleolítico deve-se ao facto de ser uma dieta inspirada nos nossos antepassados, no primeiro Homo sapiens, há mais de 100 mil anos atrás, época conhecida por Paleolítico. Naturalmente que “homem das cavernas” é uma associação mais descontraída e que nos remete de imediato para esta época. Mas, ao contrário do que se possa pensar, não há uma alimentação igual à do homem das cavernas, que sobrevivia essencialmente da caça. É apenas uma inspiração neste regime alimentar que acompanhou o desenvolvimento da espécie humana e que pode trazer inúmeros benefícios para nós.
Quais são as principais premissas da dieta?
A dieta do Paleolítico sugere que nos alimentemos de acordo com essa época, como o próprio nome indica. Não se trata de um retorno ao passado nem de uma alimentação que não possa enquadrar-se nas rotinas da sociedade actual, que adquire os alimentos em supermercados. Este regime alimentar tem ganho muita popularidade e credibilidade pelos estudos científicos que têm comprovado a sua eficácia. Recorde-se que, mais de 90% do tempo que a espécie humana tem, fomos alimentados segundo essa dieta, ou seja, a nossa evolução foi feita seguindo essa dieta e os nossos genes foram “moldados” nessa dieta.
Que regras devemos seguir?
As regras são básicas e até bastante simples de seguir, sendo necessário, essencialmente, escolher alimentos e produtos que estejam de acordo com o que era consumido na época do Paleolítico e excluir o consumo de alimentos processados, ou seja, com alteração pela mão do homem, e que podem causar danos irreversíveis no nosso corpo. Esta dieta não requer qualquer tipo de suplementos ou reposição de vitaminas até porque, se assim fosse, não faria sentido. Apenas é necessária uma reeducação alimentar e procura de alternativas para os habituais snacks.
Falamos de que tipo de pratos?
São essencialmente pratos à base de carnes, peixe e mariscos, fruta, legumes selvagens, ovos e alguns frutos secos. Devem evitar-se alimentos processados ou qualquer outro alimento que não esteja no seu estado natural, ou seja, como a natureza o produziu.
Quais as vantagens desta dieta?
São imensas as vantagens desta dieta. Em primeiro lugar porque sugere um aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras monoinsaturadas e ómega-3, que reduzem drasticamente a obesidade, cancro, diabetes, doenças cardiovasculares e variações de humor ou de-sequilíbrios emocionais. Por outro lado, exclui-se obrigatoriamente (salvo excepção de haver margem para um “dia da asneira”, em que pode consumir-se outro tipo de alimentos para facilitar a integração na Paleodieta) o consumo de alimentos processados, ricos em açúcares e glúten, como, por exemplo, os cereais, lacticínios ou leguminosas. Este regime alimentar é altamente recomendado para a prevenção de doenças “modernas” (como diabetes e hipertensão) e estimular um estilo de vida mais equilibrado e saudável.
Que resultados são de esperar?
O primeiro resultado visível é a perda de peso e a redução de gorduras acumuladas. Depois espera-se um aumento de energia, equilíbrio físico e psicológico, redução de valores da diabetes, hipertensão ou colesterol (caso a pessoa tenha esses problemas) e aumento do chamado colesterol bom. Também a imagem/aparência fica naturalmente melhorada.
6. Jeb Bush e Megan Fox seguem este regime. Conhecem-se mais fãs?
Sim. Além do recente candidato às eleições presidenciais dos EUA, são várias as figuras públicas que têm assumido publicamente a sua escolha da dieta do Paleolítico e têm revelado os resultados. Exemplos são alguns atletas da NBA que estão a fazer Paleodieta para aumentar o tempo de carreira: Grant Hill, Kobe Bryant, Carmelo Anthony, LeBron James, Dwayne Wade e Ray Allen. Outros famosos internacionais admitem também recorrer a esta dieta para tratar doenças ou manter a juventude mais tempo, como Jack Osbourne (filho de Ozzy Osbourne diagnosticado com esclerose múltipla), Eva La Rue (“CSI: Miami”) e outros actores como Uma Thurman, Jessica Biel, Matthew McConaughey, Miley Cyrus, o cantor Sam Smith e muitos mais. Em Portugal não existe ninguém que esteja assumidamente a seguir este regime alimentar, mas há várias figuras que têm uma alimentação muito semelhante, ou porque preferem alimentos e proteínas de origem biológica e natural, ou porque abdicaram de alimentos processados.
Há algum restaurante dedicado a estes pratos?
Desconheço a existência de restaurantes exclusivamente dedicados, mas é possível ter uma refeição deste tipo de dieta em muitos restaurantes, optando-se por comer o peixe, marisco ou carne certificada de animais de pasto, acompanhados por saladas ou verduras.
Hélio Loureiro
(Chefe)
Porque resolveu aderir a este tipo de alimentação?
Nunca devemos negar o conhecimento, por isso dedico-me desde sempre a relacionar-me com novas experiências e aceitar a participação num mundo que, para mim, ainda é novo, mas que acho muitíssimo interessante. Participar nestas iniciativas e tomar contacto com elas é entender que o mundo avança sempre com a experimentação, o que muitas vezes é uma reaprendizagem e um regresso às nossas origens
Confeccionou pratos sugeridos por André Dourado. Como foi esta participação?
Com o dr. André Dourado fui descobrindo esta nova tendência para tentar enquadrá-la na nossa alimentação diária de uma forma natural, funcional e prática – isto, claro, sempre respeitando o valor nutricional e os fundamentos básicos e elementares da medicina e da nutrição, e deixando essa parte com quem sabe. A mim compete-me interpretar o que se pretende e criar receitas ajustadas a este conceito.
Que pratos desenvolveu?
Pratos que incluem sementes, grãos, proteínas e frutas, produtos simples que vão ao encontro das vidas agitadas que todos temos e do pouco tempo que dedicamos à cozinha. Contudo, tento que sejam funcionais e mais criativos, permitindo que entrem na sua origem valores como a biodiversidade, a sazonalidade e a rentabilidade.
Há espaço para inovar?
Se com sete notas musicais se compõem músicas sem fim, imagine o que se pode criar com os milhares de alimentos que temos ao dispor na natureza. Há espaço para a criatividade e para a cozinha de autor. Alguns pratos são criados a partir do meu gosto pessoal como, por exemplo, papas de aveia com frutos secos e frutos vermelhos aromatizados com folhas de stevia [um adoçante] secas.
Terá pratos deste género em algum restaurante?
Sempre que faço pratos de que gosto e que as pessoas aceitam, e que acho que vão ter aceitação por parte dos clientes, é lógico que os coloco nas ementas. Veja–se, por exemplo, o que aconteceu com os pratos vegetarianos. Em poucos anos, todos os restaurantes passaram a ter receitas para quem não come carne nem peixe. É um bom indício. Caso haja a mesma adesão a este novo conceito do Paleolítico, rapidamente iremos ver, um pouco por todo o lado, receitas e cartas dirigidas a este novo público.
Pratica esta alimentação?
Sempre gostei de novas experiências e pratico desde sempre uma diversidade alimentar que acredito que é a chave para uma alimentação equilibrada. Por este motivo, não descarto este regime alimentar da dieta do Paleolítico, alimentação que entendo que é um novo conceito e uma nova abordagem com afirmações válidas e bases bem fundamentadas.
Quais são as maiores dificuldades na confecção destes pratos?
Nenhumas! A cozinha apenas precisa de dedicação e tempo. Por isso, as dificuldades serão apenas aceitar esta nova forma de nos alimentarmos e mudar os hábitos alimentares. Mas, para quem quer, nunca há limites, apenas objectivos que se seguem com convicção.