Os amantíssimos adeptos do lameiro bloco central iniciaram, em relação às eleições presidenciais e putativos candidatos, uma esforçada serenata de que à direita a escolha será decidida entre Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa.
À esquerda de quem entra no Partido Socialista, as mesmíssimas personagens afiançam que Sampaio da Nóvoa faz um pleno tão óbvio que nem vale a pena reflectir sobre outras possibilidades. Seria um saco onde cabem todos, inclusive um desejado Eanes que, para além da reconhecida ética e despojamento, foi também, durante dez anos, apoiante e presidente da comissão de honra das duas candidaturas de Cavaco Silva à presidência.
Mas se em relação à direita tudo será cozinhado na coligação PSD/CDS e sairá em turné quem os directórios determinarem, na esquerda, isso não tem de ser assim.
A esquerda nas suas várias expressões parte de uma sociedade civil activa, consciente e determinada, pode criar um movimento de apoio a uma candidatura alternativa e portadora de uma mensagem de mudança.
Se decidir avançar, Manuel Carvalho da Silva pode ser um candidato ganhador de um centro-esquerda abrangente e plural, agregador para além dos limites ideológicos, e ser uma surpresa de mobilização voluntária de norte a sul. Os portugueses conhecem-no, valorizam a sua experiência política e o seu conhecimento do país real e profundo. A sua vida é o roteiro das lutas travadas pelo povo português nos últimos 40 anos.
Da pequena aldeia do norte onde nasceu no meio rural, filho de pequenos agricultores pobres, a dirigente sindical da CGTP, onde durante quase 30 anos exerceu os cargos de coordenador e secretário-geral, Carvalho da Silva percorreu um longo caminho que vai do operário electricista lançado para a guerra colonial em Cabinda, como furriel, até ao seu doutoramento em Sociologia em 2007. Católico, ex-militante do PCP, a sua vida e notoriedade têm raízes sólidas e profundas, num país palmilhado na incessante procura de justiça social.
Temperado no aço de incontáveis lutas por melhores condições de vida e trabalho, na defesa dos excluídos sem voz e sem vez, Carvalho da Silva era, com a sua presença, sinónimo de solidariedade. O Manuel Carvalho da Silva estava ali, a explicar as voltas da luta, a dar voz à revolta, a moldar a resistência, junto com eles. A sentir-lhes as dores e a pobreza a espreitar, repetindo, com o exemplo, que se mantivessem levantados, insubmissos e unidos.
Das fraquezas e desânimos nasceram actos de bravura e hinos de solidariedade. Homens e mulheres que só reivindicavam trabalho e salários justos, pessoas comuns que realizaram o incomum, recuperaram empresas, mantiveram postos de trabalho, relançaram indústrias e, com elas, a economia nacional. No fim de contas, são os que trabalham e põem todos os dias o país a funcionar que resultam ser a coluna vertebral da economia e produzem riqueza.
Manuel Carvalho da Silva impediu que a nossa consciência adormecesse ao colo da indiferença. Ele esteve na primeira linha dos que trouxeram até às nossas portas, ruas e avenidas o clamor dos que, sem terra e sem trabalho, mantêm a tenacidade e lutam para torcer o destino. Carvalho da Silva esteve sempre onde era preciso, no estaleiro ameaçado, na fábrica cercada, nos escritórios fechados à força, com os professores na entrada das escolas, com as mulheres operárias das confecções do Vale do Ave ou com os homens da faina. Fosse num pequeno grupo para impedir o roubo de máquinas e mercadorias ou numa multidão, com o poder das palavras, a afrontar as palavras do poder.
Carvalho da Silva é o candidato do mundo do trabalho e de todos aqueles que têm sido vítimas das políticas de desumana austeridade e recusam entregar o seu voto aos que aceitam o apoio dos responsáveis pelo desastre económico e social em que o país se encontra. Um candidato presidencial não está imune nem fica impune em relação aos apoios que decide aceitar.
Não podemos continuar exilados na nossa própria terra. Este pode ser o tempo de tornar reais as promessas da democracia e sacudir as fundações do país.
Carvalho da Silva conhece Portugal e a sua história para além dos livros. No ombro com ombro, amparados para ir em frente, construindo alternativas a olhar o futuro. Cavaleiros da esperança.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras