O ministro francês da Defesa fez um apelo à consciência dos militares destacados pelo país para a manutenção da paz na República Centro-Africana culpados pelo estupro de crianças sem abrigo que se assumam e entreguem às autoridades.
Jean-Yves Le Drian disse ao “Le Journal de Dimanche” que sentiu “nojo” e tomou como uma “traição” os relatos de que soldados franceses enviados para restaurar a ordem no país após o golpe de 2013, em troca de comida, abusaram sexualmente de crianças esfomeadas e sem abrigo.
O responsável tomou conhecimento da investigação ao comportamento dos elementos do contingente francês após uma fuga de informação em Julho do ano passado, com o relatório das Nações Unidas que dava conta da investigação em curso a chegar às mãos de Le Drian. “Se alguém manchou a nossa bandeira – porque é disso que se trata –, tem de se entregar de imediato, porque isto é uma traição dos seus companheiros, da imagem da França e da missão do exército”, disse, acrescentando: “Quando um soldado francês está em missão, ele é a França.”
Na semana passada, o diário britânico “The Guardian” revelou que um veterano da equipa de ajuda humanitária da ONU foi suspenso por ter passado ao governo francês o relatório interno sobre as situações de abuso sexual das crianças pelos seus soldados.
Anders Kompass, um alto funcionário sueco da organização, fez chegar o relatório com as conclusões sobre a investigação às alegações de abusos às autoridades francesas, e fê-lo porque sentiu que os seus superiores tinham falhado em dar seguimento ao caso. Foi acusado pela ONU de “desrespeito imprudente” por levantar suspeitas contra elementos das forças de paz, mas, segundo a notícia do jornal britânico, as autoridades francesas enviaram-lhe uma carta em que lhe agradecem ter exposto a situação.
Os alegados abusos ocorreram quando a protecção dos civis foi confiada às tropas da paz francesas num centro para deslocados junto ao aeroporto da capital, Bangui, entre Dezembro de 2013 e Junho de 2014.
Le Drian adiantou na entrevista publicada ontem que, assim que tomou conhecimento do relatório, o entregou ao Ministério Público, que por sua iniciativa abriu um inquérito entre os militares, o qual ficou concluído em Agosto passado.
Questionado sobre o motivo por que foram necessários nove meses para dar por terminada a investigação, o ministro explicou que isto se deveu à sua complexidade. “Desde os alegados eventos, a maioria dos soldados abandonou o teatro das operações, mas não é isso que deve impedir os tribunais de fazerem o seu trabalho com celeridade.”