Com o país a sofrer de uma forte ressaca pós-eleitoral, a notícia conseguiu roubar espaço à realização das primeiras eleições livres em Portugal depois de 48 anos de ditadura. “Os ‘Oceaneers’ de Rhode Island, da LigaAmericana de Futebol, assinarão um contrato de 80 mil dólares (dois mil contos)com o avançado português Eusébio Ferreira daSilva”, lia-se no comunicado assinado por George P. Duffy, dono da equipa dosOceaneers, citado na página 2 do “Diário deLisboa” de 26 de Abril de 1975, o dia seguinte às eleições. “Expirando o seu contrato com o Benfica a 31 de Julho, Eusébio acertou as agulhas para representar o clube americano ‘Oceaneers’ com um compromisso por 12 meses, pagáveis a 200 contos por cada 30 dias.” Mais detalhes, só a 30 de Abril:“Eusébio eSimões:‘Show’ paraIanques”, explicava o mesmo jornal há 40 anos.
Ao fim de 15 anos de Benfica ao peito, o Pantera Negra já estava a perder espaço na equipa principal dos encarnados e na selecção. Em 1974/75, então com 33 anos cumpridos em Janeiro, participou em apenas nove jogos e marcou dois golos – números suficientes, porém, para elevar para 11 o total de campeonatos ganhos na Luz. A última internacionalização já tinha sido em Outubro de 1973 e a hora era, assim, perfeita para fazer o percurso então em voga para jogadores em final de carreira:ajudar a impulsionar o soccer nos Estados Unidos e amealhar uns trocos para ajudar à “reforma”.
“Afastados da selecção nacional e perto do ocaso das suas carreiras, os benfiquistas Eusébio eSimões preparam-se para dar novo rumo à vida e ‘queimar’ os últimos ‘cartuchos’, com alguma vantagem económica”, explicava o jornal há 40 anos. Os serviços prestados ao Benfica ao longo de quase toda a carreira ajudaram a dar esse passo:“Para futebolistas que estão praticamente a despedir-se da actividade, temos de convir que a proposta é deveras tentadora. Isso mesmo o deverá reconhecer o Benfica, cujos dirigentes não deixarão de seguir, em relação a Eusébio, o mesmo critério que adoptaram no caso Simões, autorizando-o igualmente a sair do Benfica”, torce a notícia do “Diário deLisboa”. Que até qualifica que “privar o jogador de aproveitar esta oportunidade seria um grave atropelo ao sagrado direito ao trabalho que não estaria nunca no espírito dos dirigentes do Benfica”. A ideologia do25 de Abril estava no seu auge.
Eusébio avançou assim para a sua aventura internacional aos 33 anos que, no entanto, ficou longe do brilhantismo de outros tempos, ainda que nunca tenha deixado de fazer balançar as redes. Ainda em 1975 trocou os Oceaneers pelos Minutemen e, no interregno da liga americana, deu um salto ao México para depois seguir até ao Canadá, na que seria a sua mais bem-sucedida aventura internacional:marcou um dos golos da final da liga americana de futebol, que os Toronto Croatia ganharam por 3-0.