Ciudadanos. Rastreio moral de candidatos sem apoio em Portugal

Ciudadanos. Rastreio moral de candidatos sem apoio em Portugal


Partido catalão Cidadãos contratou uma agência de comunicação para escrutinar a idoneidade dos seus candidatos às eleições


Estratégia de Albert Rivera é repudiada em Portugal

Com a campanha das eleições autonómicas e municipais de 24 de Maio em pano de fundo, o partido espanhol de centro direita Cidadãos está empenhado em afastar “manchas negras” dos quadros. Candidatos, dirigentes e militantes são escrutinados desde as últimas eleições para o Parlamento Europeu por uma agência de comunicação e assessoria, a H4DM, incumbida de reunir toda a informação relevante para o exercício de cargos públicos.

Baptizada de “estratégia de inteligência política”, a iniciativa do Cidadãos foi pensada para analisar o “grau de risco” dos candidatos com base na sua idoneidade. Registos criminais, multas de trânsito e dívidas ao fisco combinam-se com a actividade nas redes sociais, “antecedentes de risco” e indicadores de popularidade dos escrutinados.  

O levantamento executado pela agência de comunicação madrilena, H4DM, responde a um contrato de confidencialidade, precedido por uma carta ética que define que qualquer militante do partido catalão está disposto a abrir o livro da sua vida. No fim da investigação é a própria agência que envia uma notificação com o veredicto final ao candidato que, no caso de estar em incumprimento, tem um prazo para solucionar ou abandonar a candidatura. Ao partido, o perfil dos militantes só é facultado no caso de existirem “riscos graves” ou “delitos”.   

“O principal objectivo é ter a maior segurança possível em relação à honestidade e honra de quem representa os cidadãos sob o nome do nosso partido”, justifica o secretário-geral do partido, Matías Alonso Ruiz (ver entrevista ao lado).

PS e PSD de acordo: atitude “Pidesca” Uma atitude “pidesca” nas palavras do deputado social-democrata Duarte Marques e do socialista Vitalino Canas. “Vejo essa situação com alguma preocupação porque nenhum cidadão deve expor-se em praça pública para entrar na vida política”, reage o deputado do PS. No mesmo sentido, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados e actual eurodeputado, Marinho e Pinto argumenta que “fazer partidos de pessoas perfeitas conduz a resultados desastrosos”. O rastreio levado a cabo pelo partido espanhol nunca poderia ser aceite “nem num país democrático nem por um partido republicano” sob pena de cair em demagogias “sem sentido”, acrescenta. Defensor da reinclusão “de todos os que foram à barra dos tribunais” na sociedade e “até na política”, alerta para o perigo de devassa da vida privada e desafia o líder do partido catalão, Albert Rivera a atirar a primeira pedra sob o mote “ninguém está completamente limpo”.  

Confrontado com a hipótese de haver em Portugal uma estratégia idêntica, o dirigente distrital do CDS-PP, Hélder Amaral, revelou-se desconfortável. “Já há um conjunto de mecanismos de elegibilidade instituídos que fazem esta apreciação”, explica. “Não me sentiria confortável no meu partido com este tipo de avaliação”, conclui Hélder Amaral, confiante que o escrutínio dos centristas e dos restantes partidos políticos é suficientemente sério para seguir o exemplo do partido espanhol que disputa o pódio das sondagens de popularidade com o Podemos de Pablo Iglésias.
Relembrando o “carácter sigiloso” dos registos criminais, o gabinete de comunicação do Bloco de Esquerda advoga que qualquer iniciativa de rastreio exterior à organização dos partidos “só geraria desconfiança”.
Segundo Pedro Sales, o Bloco de Esquerda não tem por hábito vasculhar a vida íntima e privada dos seus candidatos, orientando-se apenas por critérios políticos. “Escolhemos os candidatos com base nas relações de confiança que vamos estabelecendo”, afirma.

O deputado do PSD, Duarte Marques acrescenta que “os partidos têm de ter a capacidade de fazer o escrutínio das pessoas que escolhem” sob pena de “se demitirem das suas próprias responsabilidade políticas”.
Até ao fecho desta edição, o i não conseguiu obter uma reacção do Partido Comunista Português (PCP).