Pedro Saraiva. O deputado que é muito mais do que aparenta

Pedro Saraiva. O deputado que é muito mais do que aparenta


Um doutoramento em Engenharia Química no MIT pode ajudar a perceber a circularização da dívida do BES? Pode


Tem 51 anos, veste quase sempre de fato completo escuro e usa óculos. “É aquela pessoa cujo génio não corresponde ao aspecto que tem”, resume o deputado social-democrata Duarte Marques.

Quem é, afinal, Pedro Saraiva, o deputado relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao BES, que somou elogios de todos os grupos parlamentares na apresentação do relatório preliminar da Comissão?

Pai de três filhas, Pedro Manuel Tavares Lopes de Andrade Saraiva tem 51 anos e é doutorado em Engenharia Química pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).  Foi vice-reitor da Universidade de Coimbra, onde ainda hoje dá aulas na qualidade de professor catedrático. Tem vários livros e artigos científicos publicados em nas áreas da inovação, qualidade e empreendedorismo e exerce funções também como membro do Conselho Consultivo do Centro de Ciência Viva Exploratório Infante Dom Henrique. Quando o questionamos sobre como foi acompanhar a Comissão ao BES, recheada de conceitos económicos e financeiros, surpreende: “Sou uma pessoa que investiga bastante na área da engenharia química”, disse em declarações ao i. “Os princípios da engenharia, aliados aos princípios da gestão e do comportamento de processos e sistemas foram úteis para perceber, por exemplo, como funcionou a circularização da dívida do BES”, referiu com um sorriso._“Esse tipo de raciocínio ajuda muito”, esclarece.

Família Nos últimos seis meses, a vida complicou-se, pessoal e profissionalmente. Com a família a viver em Coimbra e a CPI ao BES, os fins-de-semana eram passados com as filhas e a mulher, e a semana junto dos grupos parlamentares. Apesar de gostar de apostar no tempo de qualidade, e de tentar levar a filha mais nova – têm idades entre os 22 e os 15 – à escola sempre que pode, a verdade é que nos últimos meses dedicou “cerca de duas mil horas” aos trabalhos da comissão, o que o deixou em falta para com a família. Mas sabe que os mais próximos percebem a importância do trabalho.

Quem com ele trabalha fala de uma pessoa generosa, muito humilde, focada e “com uma memória incrível”. “Acredito até que possa ter um daqueles síndromes que tem como sintomas uma capacidade de memória enorme”, referiu fonte parlamentar.

Post its No seu segundo mandato como deputado social-democrata – lugar que ocupa desde 2009 com uma interrupção pelo meio – Pedro Saraiva protagonizou um episódio que ainda hoje é recordado por quem estava no plenário. Numa das sessões, distribuiu 230 post it por todos os deputados, e pediu que escrevessem nos papelinhos sugestões para uma lei-quadro da competitividade e empreendedorismo. Na mesma ocasião, Saraiva fez ainda uso dos recursos multimédia que estão à disposição dos deputados, e fez uma apresentação que incluía excertos de Fernando Pessoa e fotografias.

Na ocasião, Saraiva trucidado pela esquerda, que o acusou de usar  “palhaçadas desprestigiantes para o Parlamento”, nas palavras do deputado socialista  Sérgio Sousa Pinto. Escusado será dizer que ninguém escreveu nos ditos post it. “Esse episódio deixou-o muito triste”, refere Duarte Marques, que afirma que Saraiva “pensa sempre out of the box”. e que foi criticado por muitos dos que apregoam a necessidade de pensar mais longe mas para quem “isso não é mais do que um slogan”.

Pedro Saraiva é conhecido por trabalhar com um planeamento a prazo, por ser bem disposto, organizado e “um porreiraço”. Para alguns um feito, para outros uma qualidade: “é extremamente meticuloso. Às vezes parece que demais”, notou outra fonte parlamentar ao i. Mas é uma pessoa “eticamente irrepreensível”, acrescenta.

Pedro Saraiva foi nomeado para a presidência da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) em 2012, e chegou a ser investigado por alegado favorecimento a empresas, no ano seguinte. O processo foi arquivado e o deputado não gosta de falar sobre o assunto.

Gosta, isso sim, de cruzar a experiência que adquiriu nos trabalhos junto das empresas com a investigação que continua a fazer para poder, na política, “estudar temas com profundidade e ajudar. É isso que me seduz na política”. Diz mesmo que esta CPI será, provavelmente a sua experiência mais gratificante que leva da vida política, uma vez que lhe permitiu aplicar os seus conhecimentos de base “para ajudar a transformar a sociedade”.