Um em cada três candidatos a um emprego não recebe resposta

Um em cada três candidatos a um emprego não recebe resposta


Estudo mostra também que os salários propostos são baixos.


Um em cada três candidatos a um emprego não recebem resposta e apenas uma em cada 10 candidaturas resulta em entrevista, revela um inquérito da DECO, que denuncia também os baixos salários propostos.

O estudo da Associação Portuguesa para a Defesa (DECO), que será publicado na edição de Maio da revista "Dinheiro&Direitos", foi realizado entre Setembro e Outubro de 2014, tendo inquirido 2.614 pessoas sobre as condições que os empregadores estão a propor a quem procura trabalho e as que têm os portugueses com emprego.

Segundo o estudo, 16 por cento dos inquiridos, na sua maioria mulheres, tinham perdido o emprego e três quartos dos desempregados candidataram-se a, pelo menos, cinco propostas de trabalho nos três meses anteriores à recolha dados.

Um em cada três destes candidatos não obtiveram resposta e por cada 10 candidaturas, "apenas uma resultou em entrevista ou teste", revela o estudo, que conclui também que cerca de 80 por cento dos inquiridos se revelaram insatisfeitos com a quantidade e qualidade das oportunidades de trabalho.

A DECO avaliou também a ajuda na procura de trabalho e concluiu que 70 por cento dos inquiridos estavam insatisfeitos com o apoio prestado pelos centros de emprego do estado e três quartos com os serviços prestados pelas empresas privadas de recrutamento.

O estudo revela também que os candidatos a um emprego mostraram disponibilidade para procurar oportunidades fora da sua área, sendo que das entrevistas realizadas apenas 39 por cento eram relacionadas com a área de formação dos candidatos.

A grande maioria dos inquiridos que chegou à fase de ouvir as propostas das empresas "acabou por ficar fortemente desiludida".

"Em cerca de um quinto dos casos, incluindo no sector público, não estava previsto contrato escrito", adianta a DECO.

O salário é outro fator de "grande desmotivação" e, segundo a DECO, "demonstra a degradação do mercado de trabalho em Portugal.

Em média, a última proposta recebida foi de 640 euros brutos no público e 590 no privado, mas segundo o estudo, metade dos inquiridos receberam propostas de salário mínimo que na altura do inquérito era de 485 euros e que, entretanto, foi fixado em 505 euros.

Cerca de 70 por cento dos inquiridos consideraram o salário proposto mau e 78 por cento queixaram-se da falta subsídio de alimentação ou de transporte.

Dos inquiridos com emprego, apenas metade trabalha na área de especialização, mas a percentagem sobe para 61 por cento nos que têm um nível de estudos mais elevado.

Os contratos com duração indeterminada são os mais frequentes, abrangendo 62 por cento dos empregados no privado e 73 por cento no público, onde 17 por cento dos inquiridos admite trabalhar sem contrato escrito.

Mais de 80 por cento dos inquiridos afirmaram ter de cumprir horário e apesar de, na maior parte das situações, o contrato prever 40 horas por semana, 60 por cento dos profissionais acabam por cumprir, em média, mais oito horas do que o previsto.

Em dois terços dos casos, não há compensações, nem mesmo com tempo livre, adianta o estudo.

Em média, os inquiridos afirmaram receber um salário de 1.340 euros, mas metade afirmou ganhar 1.000 e um quarto não ganha além dos 690 euros.

Os dados revelam ainda que 11 por cento dos inquiridos sofreram uma perda de subsídios e igual percentagem passou a trabalhar mais horas sem aumento do salário.

O ordenado foi reduzido em 10 por cento dos casos e noutros 5 por cento houve salários em atraso ou quantias nunca pagas, situações que apesar de contrárias à lei, muitos trabalhadores se veem forçados a aceitar.

O estudo concluiu que a maioria dos desempregados inquiridos não tem recursos para uma vida digna e um quinto dos que trabalham dizem que o que ganham não chega para pagar despesas essenciais.

O mesmo inquérito foi realizado, por associações congéneres da DECO, na Bélgica, Espanha e em Itália, abrangendo no total dos países 11.534 inquiridos.

Na Bélgica, o salário bruto médio mais frequentemente oferecido aos candidatos foi de 2.100 euros, em Itália de 1.100 euros, em Espanha de 800 euros e em Portugal de 500 euros.

Lusa