O Theatro corre-nos no sangue


Ao longo de cem anos, atravessando várias gerações, o Theatro coleccionou memórias dos bracarenses


Sim, com “h”, à moda de Braga, do Theatro Circo de Braga, a majestosa sala de espectáculos que muitos rotulam como uma das mais bonitas da Europa, que esta semana assinalou o seu centésimo aniversário.

Falar de cem anos da vida de um teatro é indissociável de abordar a história da cidade que o acolhe e o papel que nela cumpre enquanto ponto de encontro para os seus momentos de lazer, enquanto espaço de acesso às mais diversas manifestações culturais, enquanto palco de projecção de novos talentos ou praça de exaltação das múltiplas causas e momentos que agitam o seu pulsar colectivo.

Enquanto edifício-monumento, o Theatro é uma peça extraordinária, por dentro e por fora, no requinte dos seus pormenores, na beleza dos seus adornos, na fotografia-postal em que se transforma qualquer imagem que a vista alcance.
No reavivar da memória comum, será sempre possível identificar os grandes espectáculos e actuações de artistas de renome internacional ou os primeiros passos daqueles que depois trilharam a escada do estrelato nas diversas formas de expressão artística.

Ou então lembrar os grande comícios e manifestações populares que assinalaram cada uma das datas mais memoráveis do século, antes e depois da nossa convivência com a vida democrática.

Mas o Theatro é sobretudo feito de pessoas, com pessoas, para as pessoas. Daqueles que entenderam de forma visionária que havia oportunidade para criar um espaço diferenciador de cultura (e de circo) no raiar do século xx. Dos que o conceberam e edificaram enquanto peça arquitectónica de referência. Dos que o recuperaram de forma exemplar quando a degradação do tempo ameaçava seriamente o seu futuro e as portas corriam o risco de se fechar para sempre. Dos que lhe deram corpo, enquanto colaboradores e administradores ao longo de cem anos de história. Dos que lhe dão vida, de cada vez que a sala de visitas da cidade franqueia as suas portas aos novos visitantes e aos que regressam sofregamente ao local em que são sempre felizes.

Ao longo de cem anos, atravessando inúmeras gerações, o Theatro coleccionou as dezenas de memórias de cada bracarense, os olhares encantados da descoberta, as lágrimas e os sorrisos das histórias contadas e cantadas, o fremir de dedos que se apaixonam, o eco das vozes que se agitam ao ritmo dos corações que se acendem.
Tal como para muitos bracarenses (e não só), a maior certeza que tenho é que ele esteve sempre presente ao longo da minha vida.

Como quando a minha escola ali realizou uma das muitas festas de fim de período e eu pude encarnar a personagem por que viria a ser interpelado anos a fio em cada regresso a essa casa.

Como quando acompanhava com especial interesse as diligências do meu avô – um dos primeiros accionistas privados do Theatro – enquanto presidente do conselho fiscal da sociedade, cargo que ocupou quase até aos seus últimos dias.
Como quando fiz questão de que a minha tomada de posse como presidente da câmara ou a sessão solene do dia do nosso padroeiro tivessem lugar no espaço mais nobre da cidade, franqueando as portas à população.

Ou como quando, na noite da passada terça-feira, dia de festa e de centenário, sorvia deleitado as enleantes músicas de Rodrigo Leão, o acordeão de Celina da Piedade ou a voz fascinante de Selma Uamusse.
Brevemente vamos voltar. Porque o Theatro corre-nos no sangue. 

Presidente da Câmara de Braga Escreve à quinta-feira

O Theatro corre-nos no sangue


Ao longo de cem anos, atravessando várias gerações, o Theatro coleccionou memórias dos bracarenses


Sim, com “h”, à moda de Braga, do Theatro Circo de Braga, a majestosa sala de espectáculos que muitos rotulam como uma das mais bonitas da Europa, que esta semana assinalou o seu centésimo aniversário.

Falar de cem anos da vida de um teatro é indissociável de abordar a história da cidade que o acolhe e o papel que nela cumpre enquanto ponto de encontro para os seus momentos de lazer, enquanto espaço de acesso às mais diversas manifestações culturais, enquanto palco de projecção de novos talentos ou praça de exaltação das múltiplas causas e momentos que agitam o seu pulsar colectivo.

Enquanto edifício-monumento, o Theatro é uma peça extraordinária, por dentro e por fora, no requinte dos seus pormenores, na beleza dos seus adornos, na fotografia-postal em que se transforma qualquer imagem que a vista alcance.
No reavivar da memória comum, será sempre possível identificar os grandes espectáculos e actuações de artistas de renome internacional ou os primeiros passos daqueles que depois trilharam a escada do estrelato nas diversas formas de expressão artística.

Ou então lembrar os grande comícios e manifestações populares que assinalaram cada uma das datas mais memoráveis do século, antes e depois da nossa convivência com a vida democrática.

Mas o Theatro é sobretudo feito de pessoas, com pessoas, para as pessoas. Daqueles que entenderam de forma visionária que havia oportunidade para criar um espaço diferenciador de cultura (e de circo) no raiar do século xx. Dos que o conceberam e edificaram enquanto peça arquitectónica de referência. Dos que o recuperaram de forma exemplar quando a degradação do tempo ameaçava seriamente o seu futuro e as portas corriam o risco de se fechar para sempre. Dos que lhe deram corpo, enquanto colaboradores e administradores ao longo de cem anos de história. Dos que lhe dão vida, de cada vez que a sala de visitas da cidade franqueia as suas portas aos novos visitantes e aos que regressam sofregamente ao local em que são sempre felizes.

Ao longo de cem anos, atravessando inúmeras gerações, o Theatro coleccionou as dezenas de memórias de cada bracarense, os olhares encantados da descoberta, as lágrimas e os sorrisos das histórias contadas e cantadas, o fremir de dedos que se apaixonam, o eco das vozes que se agitam ao ritmo dos corações que se acendem.
Tal como para muitos bracarenses (e não só), a maior certeza que tenho é que ele esteve sempre presente ao longo da minha vida.

Como quando a minha escola ali realizou uma das muitas festas de fim de período e eu pude encarnar a personagem por que viria a ser interpelado anos a fio em cada regresso a essa casa.

Como quando acompanhava com especial interesse as diligências do meu avô – um dos primeiros accionistas privados do Theatro – enquanto presidente do conselho fiscal da sociedade, cargo que ocupou quase até aos seus últimos dias.
Como quando fiz questão de que a minha tomada de posse como presidente da câmara ou a sessão solene do dia do nosso padroeiro tivessem lugar no espaço mais nobre da cidade, franqueando as portas à população.

Ou como quando, na noite da passada terça-feira, dia de festa e de centenário, sorvia deleitado as enleantes músicas de Rodrigo Leão, o acordeão de Celina da Piedade ou a voz fascinante de Selma Uamusse.
Brevemente vamos voltar. Porque o Theatro corre-nos no sangue. 

Presidente da Câmara de Braga Escreve à quinta-feira