António José Seguro convidou, à última hora, Mário Soares para entrar na campanha, mas o histórico socialista recusou. O líder do PS, após a polémica provocada pela ausência do fundador do partido na campanha, telefonou a Soares, na noite de terça-feira, para tentar convencê-lo a estar no almoço na Cervejaria Trindade e na descida do Chiado, mas o ex-Presidente da República não gostou de ter sido convidado em cima da hora e declinou.
O convite a Soares só foi feito depois de Francisco Assis ter sido confrontado, anteontem à tarde, com a ausência do ex-líder do partido na campanha. Assis assumiu desconhecer se Soares “foi convidado ou não”, já que não é ele que faz “esses convites”. Esse papel é desempenhado pela direcção do partido, que até essa hora não tinha contactado o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República. Nessa declaração, o cabeça-de-lista do PS deixou, porém, o desejo de ter “Mário Soares muito próximo de nós”.
Ao i, Mário Soares não quis fazer nenhum comentário. Está em repouso e silêncio. Garantiu apenas: “Voto no PS”.
A ausência do histórico socialista tornou-se uma arma de arremesso da campanha e Paulo Rangel, cabeça de lista da aliança PSD/CDS, realçou que Soares “parece que não está com o PS”.
A quatro dia das eleições, os socialistas desdramatizam. Confrontado com a ausência do fundador, Manuel Alegre prefere valorizar a união do partido. “O dr. Mário Soares já disse que votava no PS. O PS está unido como há muitos anos não estava”, disse ao i o histórico do PS, que já participou num comício em Coimbra e vai estar no tradicional almoço, na Cervejaria Trindade, com outras figuras de peso do PS como José Sócrates, Eduardo Ferro Rodrigues ou Almeida Santos.
Esta é a primeira vez, nos últimos anos, que Soares está ausente numa campanha do PS. Nas últimas europeias, esteve na descida do Chiado juntamente com Almeida Santos, Ferro Rodrigues e António Costa. Nas autárquicas, Soares esteve ao lado de António Costa, em Lisboa, e de Basílio Horta, em Sintra. E nas legislativas de 2011 participou, com Sócrates, num comício no Porto.
O distanciamento entre Soares e o actual secretário-geral do PS é cada vez mais evidente. O ex-presidente da República chegou mesmo, em entrevista ao i, a confessar que estava desiludido com a forma como Seguro geriu as negociações com o governo em plena crise política provocada pela demissão de Paulo Portas – “Fiquei desiludido com o discurso brando com que anunciou o desacordo”. Numa das poucas intervenções sobre as europeias, Soares disse, em Loulé, que “gostaria que o PS ganhasse por muito, mas dadas as sondagens e tudo o que se sabe, vai ganhar, mas não por muito”. Com Ana Sá Lopes
