Na maioria dos casos, são muitas perguntas sem resposta. Quem? O quê? Quando? Onde? Criminosos que fogem, outros que nem são encontrados. Em Portugal, há vários casos que chocam o país mas que são uma tortura principalmente para pais que não sabem dos seus filhos ou que os viram morrer às mãos de sabe-se lá quem.
Maddie
Foi a 3 de maio de 2007 que uma menina de 3 anos desapareceu na praia da Luz no Algarve. Madeleine McCann, britânica, ficou em casa a dormir com os irmãos mais novos enquanto os pais jantavam com amigos num restaurante a 50 metros da casa que tinham alugado.
A mãe voltou para ver as crianças uma hora depois mas Maddie já não estava no apartamento. Foi montado um enorme aparato policial pela polícia portuguesa e surgiram teorias de rapto, tráfico de crianças ou acidente encoberto e os pais até foram constituídos arguidos mas nada aconteceu por falta de provas.
Anos mais tarde, a polícia alemã apontou como suspeito Christian Brückner que vivia na praia da Luz na altura do desaparecimento. Está detido por outros crimes como abuso sexual de menores mas não pelo desaparecimento
de Maddie.
O caso nunca foi esquecido e, este ano, foram realizadas novas buscas na zona de Lagos, no Algarve, tendo resultado na descoberta de duas armas de fogo, ossadas e peças de roupa. Os objetos foram encontrados enterrados perto do local onde a criança inglesa desapareceu em 2007. No entanto, já foi confirmado que as ossadas encontradas pertencem a animais.
Passados 18 anos, o caso continua por resolver mas a investigação ainda decorre.
Cláudio Nascimento
Em 2020, Cláudio Nascimento pescava na aldeia de Valverde da Gestosa, em Mirandela, quando um tiro misterioso lhe acertou na cabeça. O homem, na altura com 32 anos, foi já tirado sem vida do rio Tua.
A Polícia Judiciária investigou mas até hoje não conseguiu descobrir o culpado nem apurar as circunstâncias do crime e o caso foi arquivado, tendo sido considerado “acidente”. Sabe-se que foram feitas várias perícias a todas as armas e munições dos caçadores da zona mas não se conseguiu encontrar o atirador.
Os pais da vítima não se conformam com este desfecho, garantem que o filho foi assassinado e dizem que existem novas provas, pedindo a reabertura do processo.
Rui Pedro
A 4 de março de 1998, Rui Pedro pediu à mãe para faltar à escola e foi visto pela última vez por volta da hora de almoço, perto de sua casa. Rui Pedro, na altura com 11 anos, pediu permissão à mãe para passar a tarde com o amigo Afonso Dias, de 22 anos, mas o pedido foi recusado por Filomena Teixeira. O amigo foi logo chamado para se justificar. Disse que não sabia do menor mas sugeriu que fossem fechadas as fronteiras. Mais tarde soube-se que Afonso Dias conduziu Rui Pedro até S. João da Madeira, onde se encontrou com uma prostituta e tentou forçar o menino a prostituir-se. Isso foi confirmado pela própria prostituta, que, mais tarde, testemunhou sobre o que aconteceu naquele dia. Em 2012, Afonso Dias foi finalmente julgado e condenado mas a acusação não foi de rapto ou homicídio devido à falta de provas definitivas. Foi condenado por lenocínio agravado, por ter levado a criança a uma prostituta com a intenção de o explorar sexualmente. Foi condenado a três anos de prisão mas saiu antes. Em 2019 foi declarada morte presumível do jovem. Quase 30 anos depois, Rui Pedro continua desaparecido, e o caso é frequentemente relembrado como um símbolo de injustiça e falhas do sistema judicial português. A mãe tem sido o rosto deste caso.
Sofia
Este é um caso peculiar e remonta a 2004. Sofia, na altura com dois anos, vivia com a mãe em Vale de Lobos, na Madeira, depois de o relacionamento dos pais não ter dado certo. Luís Encarnação, o pai, visitou a criança e levou-a. Ainda que tenha sido preso – condenado a nove anos mas cumpriu seis e já saiu em 2009 – nunca disse o paradeiro da filha, garantindo que é um segredo que vai morrer com ele. Só diz que “está bem”. Os relatórios à personalidade de Luís Encarnação apontavam-no, na altura, como alguém preparado, psicológica e fisicamente, para qualquer pena que lhe viesse a ser aplicada.
No site da PJ, Sofia continua como desaparecida. “Na fuga com a menor de dois anos, o citado apanhou um táxi e, posteriormente, boleia de um familiar, tendo sido deixado a pé, com a filha, pelas 21h30, no Caniço de Baixo. Por volta das 23h30, o pai da criança deslocou-se à Esquadra da PSP de Câmara de Lobos, onde se encontrava a mãe a participar o desaparecimento da menor, altura em que aquele já não trazia a filha consigo”. E até hoje, ninguém sabe de Sofia que, se for viva, terá 23 anos.
Padre Frederico
O padre Frederico Cunha, natural do Brasil foi condenado em 1993 pelo Tribunal de Santa Cruz, na Madeira, a 13 anos de prisão efetiva pelo homicídio de um jovem de 15 anos, ocorrido no ano anterior, e também por abuso sexual de menor. O corpo deste jovem tinha sido encontrado a 2 de maio de 1992, no fundo de uma falésia no Caniçal.
O padre nega que tenha estado com o jovem mas muitas testemunhas viram o carro e além de a polícia ter encontrado fotos pornográficas em sua casa, outros jovens confessaram ter sido abusados. Frederico Cunha saiu do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus para passar uns dias com a mãe e fugiram os dois para o Brasil. Em entrevista ao SOL, em 2015, disse que continuava a dar missas e alegava inocência. Dizia ainda que nunca foi “pedófilo” nem “assassino”, rematando quase sempre: “Não há uma única prova contra mim, fui condenado por convicção do tribunal, nenhuma prova. Nem de pedofilia, nem de assassinato”.
Em 2024, foi demitido do sacerdócio pelo Papa Francisco.
Estripador de Lisboa
É um dos casos portugueses mais macabros. Aconteceu entre 1992 e 1993 com três prostitutas mortas e os órgãos do seu corpo arrancados, apenas a cara intacta. O homicida, a quem se colocou o nome de Estripador de Lisboa, nunca foi encontrado apesar dos esforços das autoridades. A primeira vítima foi encontrada no final de julho de 1992 e a polícia estaria longe de imaginar estar perante um serial killer. Seguiram-se mais duas. Todas prostitutas, todas baixas, todas morenas. Tinham entre 22 e 27 anos. Os crimes terão sido cometidos sem erro mas também aconteceu numa altura em que os testes de ADN estavam a dar os primeiros passos no nosso país.
Os casos prescreveram em 2007 e 2008.
Em 2011, um jovem denunciou o pai. José Guedes chegou a confessar mortes a Felícia Cabrita numa entrevista gravada ao SOL mas o Tribunal acabou por absolver o suspeito, por se considerar não ser verdade. Mais de 30 anos depois, ainda não se sabe quem é o Estripador de Lisboa.
Cláudia
Foi em maio de 1994, na freguesia de Oleiros, que Cláudia foi vista pela última vez. Tinha sete anos. Desapareceu nos 400 metros que iam de sua casa até à escola. Entre ter sido visto um carro a rondar o caminho (onde Cláudia pode ter entrado) e acusações de que a menina pode ser sido raptada por primas – uma vez que uma prima terá dito, dias antes, à mãe que lhe levava uma das filhas a bem ou mal –, o caso nunca teve solução e a mãe acusa a atuação das autoridades.
A mãe chegou a dar algumas entrevistas e, em 2021, ao jornal Luso, confessou ter as suas suspeitas do que pode ter acontecido, dizendo desconfiar que uma prima lhe levou a menina. E apontou o dedo à ação da Polícia Judiciária, que não deu como provadas as suas suspeitas.
Ao longo dos anos foram surgindo várias hipóteses de onde poderia estar a menina mas muitas foram inconclusivas e outras não foram investigadas.
Em 2017 foi dada ordem de destruição do processo. Passados mais de 30 anos, ainda não se sabe quem levou Cláudia.







