Como (a)fundar um partido (II)


Os sistemas eleitorais maioritários a uma só volta, como acontece no Reino Unido, favorecem a estabilidade governativa e, tendencialmente, dão origem a governos que gozam de uma maioria parlamentar


No caso dos sistemas maioritários conjugados com círculos uninominais, a independência dos deputados pode fazer perigar governos. Recordemos os quatro Primeiro-Ministros conservadores (May, Johnson, Truss, Sunak) que se sucederam em pouco mais de três anos e observemos a recente sucessão de flic flacs políticos à retaguarda protagonizados pelo actual Primeiro Ministro, a rogo da maioria dos deputados trabalhistas, particularmente pouco agradados com as propostas de reforma dos apoios sociais.

            Os sistemas eleitorais maioritários dão aos pequenos partidos políticos poucas hipóteses de sobrevivência, tornando inútil uma dispersão do voto de acordo com as preferências eleitorais naturais. O voto útil é aquele que pode decidir o vencedor pelo que normalmente só dois são potenciais destinatários de tal voto.

            Um sistema eleitoral maioritário a uma volta produz um sistema bipartidário. Um terceiro partido pode ter boas ideias e bons candidatos, mas dificilmente elege Deputados em número suficiente para poder ser o junior party num governo de coligação. E se o fizer o abraço do urso do partido dominante far-se-á sentir nas eleições seguintes. No Reino Unido o Partido Liberal Democrata aí está para mostrar as cicatrizes.

            Mesmo com sistemas eleitorais maioritários podem surgir pequenos partidos identitários que dominam determinados círculos eleitorais. No Reino Unido o voto nacionalista escocês, galês e da Irlanda do Norte domina vários círculos mas tal, normalmente, não afecta a bicefalia da luta política entre Trabalhistas e Conservadores.

            Eis se não quando, as sondagens dão como futuro partido mais votado o Reform Party, projectando uma esmagadora maioria em Westminster e um futuro como Primeiro Ministro para Nigel Farage. Os Trabalhistas passariam a ser o maior partido da oposição, seguidos pelos Liberais Democratas, com os conservadores relegados para o quarto lugar.

            Consequência imediata desta sondagem? A ala esquerda dos trabalhistas, com o ex-líder Corbyn à cabeça (e actual deputado independente depois de ser expulso do Partido), anuncia a formação de um novo partido, federando os deputados trânsfugas que se declararam independentes (por enquanto um duo com Zarah Sultana), os quatro que derrotaram candidatos trabalhistas em círculos eleitorais muito sensíveis à questão palestiniana e aguarda que a meia dúzia de deputados trabalhistas que se rebelaram contra a redução de apoios sociais se lhes junte.

            A cisão à esquerda pode captar 10% dos eleitores, o suficiente para causar mossa no partido Trabalhista e para tornar o novo partido o pêndulo da balança no parlamento escocês. Os corbynistas não se cansam de recordar que a maioria obtida por Keir Starmer tem menos 3,2 milhões de votos do que a obtida por Corbyn em 2017 quando perdeu, por 1,2 milhões de votos, para Theresa May. Em 2024 os Trabalhistas perderam votos mas os Conservadores perderam muitos mais. O nome da coisa poderá ser “Arise” (que em Portugal convocaria um programa político diametralmente oposto…), “The Collective” (eterna saudade do léxico empregue pelo PCP) ou “Real Change” (Obama é capaz de se sentir roubado).

            Ironia da história: com o novo partido Corbyn pretende, por via de um governo de coligação ou pela via do apoio parlamentar, impor a Starmer uma viragem à esquerda. Chamavam-lhe geringonça.

Como (a)fundar um partido (II)


Os sistemas eleitorais maioritários a uma só volta, como acontece no Reino Unido, favorecem a estabilidade governativa e, tendencialmente, dão origem a governos que gozam de uma maioria parlamentar


No caso dos sistemas maioritários conjugados com círculos uninominais, a independência dos deputados pode fazer perigar governos. Recordemos os quatro Primeiro-Ministros conservadores (May, Johnson, Truss, Sunak) que se sucederam em pouco mais de três anos e observemos a recente sucessão de flic flacs políticos à retaguarda protagonizados pelo actual Primeiro Ministro, a rogo da maioria dos deputados trabalhistas, particularmente pouco agradados com as propostas de reforma dos apoios sociais.

            Os sistemas eleitorais maioritários dão aos pequenos partidos políticos poucas hipóteses de sobrevivência, tornando inútil uma dispersão do voto de acordo com as preferências eleitorais naturais. O voto útil é aquele que pode decidir o vencedor pelo que normalmente só dois são potenciais destinatários de tal voto.

            Um sistema eleitoral maioritário a uma volta produz um sistema bipartidário. Um terceiro partido pode ter boas ideias e bons candidatos, mas dificilmente elege Deputados em número suficiente para poder ser o junior party num governo de coligação. E se o fizer o abraço do urso do partido dominante far-se-á sentir nas eleições seguintes. No Reino Unido o Partido Liberal Democrata aí está para mostrar as cicatrizes.

            Mesmo com sistemas eleitorais maioritários podem surgir pequenos partidos identitários que dominam determinados círculos eleitorais. No Reino Unido o voto nacionalista escocês, galês e da Irlanda do Norte domina vários círculos mas tal, normalmente, não afecta a bicefalia da luta política entre Trabalhistas e Conservadores.

            Eis se não quando, as sondagens dão como futuro partido mais votado o Reform Party, projectando uma esmagadora maioria em Westminster e um futuro como Primeiro Ministro para Nigel Farage. Os Trabalhistas passariam a ser o maior partido da oposição, seguidos pelos Liberais Democratas, com os conservadores relegados para o quarto lugar.

            Consequência imediata desta sondagem? A ala esquerda dos trabalhistas, com o ex-líder Corbyn à cabeça (e actual deputado independente depois de ser expulso do Partido), anuncia a formação de um novo partido, federando os deputados trânsfugas que se declararam independentes (por enquanto um duo com Zarah Sultana), os quatro que derrotaram candidatos trabalhistas em círculos eleitorais muito sensíveis à questão palestiniana e aguarda que a meia dúzia de deputados trabalhistas que se rebelaram contra a redução de apoios sociais se lhes junte.

            A cisão à esquerda pode captar 10% dos eleitores, o suficiente para causar mossa no partido Trabalhista e para tornar o novo partido o pêndulo da balança no parlamento escocês. Os corbynistas não se cansam de recordar que a maioria obtida por Keir Starmer tem menos 3,2 milhões de votos do que a obtida por Corbyn em 2017 quando perdeu, por 1,2 milhões de votos, para Theresa May. Em 2024 os Trabalhistas perderam votos mas os Conservadores perderam muitos mais. O nome da coisa poderá ser “Arise” (que em Portugal convocaria um programa político diametralmente oposto…), “The Collective” (eterna saudade do léxico empregue pelo PCP) ou “Real Change” (Obama é capaz de se sentir roubado).

            Ironia da história: com o novo partido Corbyn pretende, por via de um governo de coligação ou pela via do apoio parlamentar, impor a Starmer uma viragem à esquerda. Chamavam-lhe geringonça.