A Síria mergulhou novamente no caos. Após mais de uma década de guerra civil que deixou o país como uma manta de retalhos, o regime da família Assad caiu, chegando ao poder um ex-membro da Al-Qaeda. As prospeções de futuro dividiam-se, mas o ceticismo este sempre presente e veio-se a confirmar nas últimas semanas.
A violência eclodiu e as tropas do novo regime têm atacado vários grupos minoritários, principalmente os alauitas – grupo ao qual pertencia Bashar al-Assad – e os cristãos. Algumas das imagens que nos chegam do Levante são só para estômagos fortes. A situação forçou milhares de pessoas a cruzar a fronteira com destino aos países vizinhos e provocou uma crise humanitária num país que tem sido palco de episódios sangrentos nos últimos tempos.
Reação europeia
Assim, a União Europeia já reagiu, e a Presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula Von der Leyen, anunciou, na segunda-feira, que a UE se compromete «a disponibilizar quase 2,5 mil milhões de euros para 2025 e 2026, a fim de ajudar o processo de transição da Síria e a recuperação socioeconómica do país, dando simultaneamente resposta às necessidades humanitárias urgentes, tanto na Síria como nas comunidades de acolhimento na Jordânia, no Líbano, no Iraque e na Turquia», pode ler-se no website oficial da Comissão.
Também a Comissária europeia para a Igualdade, Preparação e Gestão de Crises, Hadja Lahbib, reforçou o compromisso europeu para com a Síria: «Hoje, a comunidade internacional reafirmou a sua forte solidariedade para com o povo da Síria em toda a sua diversidade. Os compromissos assumidos nesta conferência são mais do que compromissos financeiros – são uma tábua de salvação para milhões de pessoas. O futuro da Síria tem de ser um futuro de dignidade, oportunidade e paz, e o apoio hoje prometido aproxima-nos dessa visão. A União Europeia continuará a apoiar o povo sírio, não só na resposta às necessidades humanitárias urgentes, mas também na ajuda à construção de um futuro justo, inclusivo e estável. Juntos, não estamos apenas a oferecer ajuda – estamos a investir na esperança, na resiliência e numa via para uma paz duradoura».
Ainda sobre a reunião ministerial que contou naturalmente com a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, a finlandesa Kaja Kallas, a Comissão Europeia diz que «participaram na conferência membros da sociedade civil síria, que deram uma visão inestimável do terreno. A conferência serviu também de plataforma para reafirmar o empenhamento da UE em salvaguardar um papel proeminente e inclusivo para a sociedade civil – em toda a sua diversidade – na Síria pós-Assad». «A Conferência teve por objetivo promover a eficiência e a coordenação entre os parceiros internacionais e as entidades da ONU», continua «garantindo que a assistência apoia significativamente a recuperação socioeconómica da Síria – um esforço que deve ser liderado pela Síria e da sua propriedade».
O problema das sanções
Durante o regime autoritário de Bashar al-Assad, durante o qual os direitos humanos foram por várias vezes violados de forma grosseira, a União Europeia foi aplicando sanções à Síria. Por isto, a questão complicada que agora se coloca é se, perante estes episódios de violação de direitos humanos por parte do novo governo sírio, a UE deve aliviar as sanções. «Neste momento», disse Kallas, «se quisermos evitar mais violência, temos de dar esperança às pessoas na Síria», garantindo que «o caos pode dar origem a uma guerra civil», na tentativa de justificar o alívio de sanções e de envio de mais ajuda, algo que deixou claro perante os jornalistas posteriormente: «Neste momento, estamos a seguir o nosso plano para aliviar as sanções. Mas, como é óbvio, estamos muito atentos às medidas tomadas pelos novos dirigentes da Síria».
Assim, o dilema da União Europeia parece ser este: enviar dinheiro para ajudar a população desesperada, mas sem certeza de que chegará, nos moldes em que pretende, a esta última.