Eleições na Madeira: PSD pode deixar cair Albuquerque

Eleições na Madeira: PSD pode deixar cair Albuquerque


Miguel Albuquerque pode vencer, mas não governar. Sem maioria absoluta, o PSD pode ser forçado a afastá-lo para garantir acordos à direita e já há dois nomes em cima da mesa para o substituir. O futuro da Madeira joga-se este domingo.


É já este domingo que os madeirenses são chamados às urnas e há, pelo menos, três cenários prováveis em cima da mesa. O mais favorável para o PSD, liderado por Miguel Albuquerque, é o previsto na última sondagem do Jornal da Madeira, que dá a vitória aos social-democratas à beira da maioria absoluta (38,4%) – mais 2,3% face aos votos das eleições anteriores. Este resultado possibilita a eleição de 24 deputados, o que garante a maioria na Assembleia Legislativa Regional, composta por 47 lugares.


Já o PS surge em segundo lugar (16,7%), descendo de 11 para 10 deputados e o Juntos Pelo Povo em terceiro (10,7%), perdendo dois deputados. De acordo com a sondagem da Intercampus, o Chega, partido que apresentou a moção de censura que levou à queda do Governo, regista 5,4% das intenções de voto e perderia um deputado. Também o CDS perde um lugar e fica abaixo da Iniciativa Liberal em intenções de voto, elegendo ambos um parlamentar. A novidade é o regresso da CDU ao Parlamento, conseguindo eleger um deputado.


Recorde-se que há dez anos que o PSD não consegue maioria absoluta, tendo dependido sempre de acordos para garantir a maioria de 24 deputados.
Já segundo a sondagem da Aximage, divulgada esta quinta-feira pelo Diário de Notícias da Madeira, o PSD surge com 33,8% das intenções de voto, longe da desejada maioria absoluta. Os socialistas surgem mais afastados, recolhendo 18,6% das intenções de votos inquiridos. Em terceiro lugar surge o Juntos Pelo Povo (17,5%), seguindo-se Chega (7,3%), CDS (2,3%), Iniciativa Liberal (1,3%), Bloco de Esquerda (1,3%), PAN (1,1%), PCP (1%) e Livre (1,3%).
Neste cenário, o PSD ficaria refém do Chega para alcançar a estabilidade necessária aos sociais-democratas.

Coligação à direita, Albuquerque de fora
Como lembra o próprio Miguel Albuquerque, «as sondagens não determinam eleições» e começam a ganhar força vários cenários pós-eleitorais. Um dos mais prováveis deixa o cabeça de lista do PSD fora da equação.


Caso o partido não consiga a maioria absoluta (como tem sido hábito), e precise de fazer acordos à direita, Albuquerque pode vir a ser um empecilho a possíveis coligações. A Iniciativa Liberal foi um dos que já assumiu que está disponível para viabilizar uma solução de centro-direita na Madeira, inclusive em parceria com o PSD, mas com a condição de que Miguel Albuquerque saia.


O Nascer do SOL sabe que, se o PSD ficar refém de Albuquerque – correndo o risco de perder a maioria pela primeira vez -, o líder regional seria ‘corrido’. Já há dois nomes em cima da mesa para o substituir: o adversário interno, Manuel António Correia, e o secretário regional de Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus.


Militantes social-democratas madeirenses ouvidos pelo Nascer do SOL põem completamente fora de hipótese perder a maioria por causa de Albuquerque, assumindo a convocação do Conselho Regional e a apresentação de um dos nomes ao ministro da República. «Isto não é uma questão política, é uma questão matemática», assume uma das fontes do nosso jornal.


Por outro lado, no continente, esta opção não colhe tantos apoiantes. O Nascer do SOL sabe que o PSD nacional não é favorável ao afastamento de Miguel Albuquerque, nem a uma possível coligação com o Chega. Um acordo entre os dois partidos em vésperas de eleições legislativas nacionais, tendo em conta as relações conturbadas e os casos que vieram a público nos últimos tempos, não parece agradar à direção nacional. A posição não deverá comprometer a decisão do partido regional, que tem mantido sempre uma postura independente e não está disposto a abrir mão da maioria governativa.

Geringonça à esquerda
Do lado da oposição, o líder do PS Madeira, Paulo Cafôfo, tem defendido, desde que assumiu a liderança do partido, a necessidade de fazer um acordo com outros partidos para tirar Miguel Albuquerque do poder. Uma geringonça à esquerda é outro dos cenários pós-eleitorais, que surge como uma alternativa ao governo de Albuquerque.


O Juntos Pelo Povo, terceira força política na Madeira, tem sido apontado como um dos possíveis aliados dos socialistas. Élvio Sousa, líder do partido, afasta qualquer diálogo sobre possíveis acordos até às eleições de domingo, mas admite querer «constituir uma frente cívica» com todos os partidos da oposição e «estar disponível para liderar um governo alternativo».
E deixa ainda um pedido ao Presidente da República: «Peço que nos dê tempo para podermos falar com os partidos depois dos atos eleitorais. No ano passado não tivemos essa disponibilidade porque o representante da República pediu a audição dos partidos logo a seguir ao acto eleitoral, sem aguardar pela divulgação e homologação dos resultados, o que acabou por impedir que tivéssemos liderado um Governo em maio».
Sobre os resultados da sondagem da Intercampus, o líder do JPP desvaloriza, argumentando que a resposta da população no terreno tem tido «resultados manifestamente distintos».


Já quanto à possibilidade de Miguel Albuquerque não colher uma solução de consenso que permita formar governo e vir a ser substituído na liderança do PSD, após as eleições, Élvio Sousa considera essa uma «solução abstrata e inaceitável» e uma forma de «enganar o eleitorado».

CDS aberto a acordos, menos com o chega
Já o CDS não exclui, para já, qualquer acordo com o PSD de Miguel Albuquerque, apesar das suspeitas de corrupção, prevaricação e abuso de poder que recaem sobre o líder social-democrata.


«Não faço campanhas eleitorais, nem faço política com base em processos judiciais a pessoas que são constituídas arguidas», começa por dizer ao Nascer do SOL o cabeça de lista do CDS, José Manuel Rodrigues.
«Mas não posso deixar de constatar que isso é um problema para a política regional e particularmente para o PSD. É um problema que o PSD vai ter de resolver após as eleições, consoante a configuração parlamentar que vier a ser encontrada», acrescenta.


José Manuel Rodrigues admite estar disponível para acordos com todos os partidos que tenham «programas moderados» e que aceitem «integrar no futuro programa de governo, as propostas e soluções que o CDS apresentou durante a campanha eleitoral».


O cabeça de lista do CDS aproveitou ainda para apontar culpados para a crise política na região.«Esta crise deve-se, em primeiro lugar, à incapacidade do PSD de resolver os seus problemas com a Justiça, na incapacidade de gerir as suas divisões internas e na incapacidade de negociar com os outros partidos», começa por criticar. E acrescenta: « Mas deve-se também à irresponsabilidade dos partidos de centro e de esquerda, que se alinharam à extrema-direita, ultrapassando todas as linhas vermelhas, para derrubar o governo».
Para José Manuel Rodrigues a crise regional poderia ter sido evitada caso o PSD e os outros partidos tivessem «encontrado outras soluções de governo».
«Três eleições no espaço de 18 meses não é normal. Com esta balbúrdia, a Madeira não vai a lado nenhum», remata.