Alucinações
“As alucinações são falsas perceções, isto é, coisas que a pessoa está a experienciar, mas que não são reais. “As alucinações podem envolver os vários sentidos, podendo incluir situações como: ver coisas que não existem ou que não estão à sua frente, como figuras religiosas, animais ou objetos que se mexem de forma diferente daquela que seria normal; ouvir vozes; sentir cheiros; sentir sabores; ou sentir algo a tocar na sua pele”, de acordo com a CUF.
Esta alteração pode ser causada por desidratação, febre alta, efeito colateral de medicamentos, consumo de drogas ilícitas e problemas neurológicos ou psiquiátricos como a esquizofrenia, por exemplo.
Os especialistas acreditam que as alucinações ocorrem devido a uma desregulação da atividade neural no cérebro. A condição tende a surgir após áreas do órgão, responsáveis pelo processamento sensorial, serem afetadas. Isso gera informações sensoriais falsas que são percebidas como reais
Outras causas podem ser desequilíbrios nos níveis de neurotransmissores (como a dopamina e a serotonina), que influenciam a percepção sensorial e contribuem para alucinações; a ativação de memórias e emoções armazenadas no cérebro, principalmente quando relacionadas a eventos traumáticos passados; e o uso de substâncias, como o LSD, que afetam os receptores de neurotransmissores no cérebro, causando alterações na percepção e na experiência sensorial.
Vícios e Adições
A dependência, os vícios e as adições são explicados pela neurociência como resultado de alterações nos sistemas de recompensa do cérebro, que envolvem neurotransmissores como a dopamina.
O cérebro tem um sistema de recompensa que nos motiva a repetir comportamentos essenciais para a sobrevivência, como comer ou socializar. Esse sistema é impulsionado pela libertação de dopamina numa região cerebral associada ao prazer e à motivação.
Quando consumimos substâncias como drogas, álcool ou até realizamos comportamentos como jogar ou apostar, a dopamina é libertada de forma exagerada, criando uma sensação intensa de prazer. Isso leva o cérebro a associar a substância ou o comportamento ao prazer, incentivando a repetição do hábito.
Com o tempo, o cérebro adapta-se a essas descargas de dopamina, reduzindo os recetores que a processam. Isso significa que a mesma quantidade da substância ou do comportamento já não gera o mesmo efeito. Esse fenómeno chama-se tolerância, levando a pessoa a consumir doses maiores para obter a mesma sensação.
Os vícios são difíceis de superar porque alteram fisicamente o cérebro, o que acaba por tornar a pessoa mais vulnerável a recaídas. Mesmo após meses ou anos de abstinência, certos estímulos podem reativar o desejo pelo comportamento ou substância. No entanto, o cérebro tem neuroplasticidade, ou seja, pode criar novas ligações e recuperar com o tempo, especialmente com terapia e apoio adequado.
Efeito Placebo e Nocebo
O efeito placebo acontece quando uma pessoa acredita que um medicamento fictício, sem efeito farmacológico, é eficaz e a cura. Em geral, placebo é um termo médico e psicológico que descreve a recuperação de uma pessoa ao acreditar que recebeu um tratamento quando, na realidade, não o recebeu.
Este efeito está relacionado com a expectativa de melhoria. Quando uma pessoa acredita que um tratamento será eficaz, o cérebro desencadeia respostas fisiológicas que imitam os efeitos reais de um medicamento.
Estima-se que o placebo promove reações neurobiológicas, diminuindo a dor ao agir sobre o sistema opioide endógeno, ou seja, nos recetores com poder analgésico presentes no sistema nervoso central.
Um exemplo já testado é quando pacientes com dores crónicas que tomam comprimidos de açúcar (sem substância ativa) sentem alívio simplesmente porque acreditam que o remédio é eficaz.
Já o efeito nocebo é exatamente o oposto. Quando uma pessoa acredita que um tratamento ou substância causará efeitos negativos, o cérebro desencadeia reações que geram sintomas reais.
O medo de um possível efeito colateral pode aumentar os níveis de cortisol, a hormona do stress, que pode amplificar dores, desconfortos e até alterar a pressão arterial. Focar-se demasiado nos possíveis efeitos adversos pode fazer com que a pessoa perceba e amplifique sensações normais, como tonturas ou dores de cabeça.
Paralisia do Sono
A paralisia do sono é um transtorno em que a pessoa não consegue movimentar-se ao acordar, podendo causar também outros sintomas como sensação de sufocamento, alucinações, angústia e/ou medo intenso.
Durante o sono REM, fase associada aos sonhos vívidos, o cérebro induz uma atonia muscular, ou seja, uma paralisia temporária dos músculos esqueléticos, exceto aqueles responsáveis pela respiração e o movimento ocular. Esta atonia impede que o indivíduo realize fisicamente as ações dos sonhos, protegendo-o de possíveis lesões. A paralisia do sono ocorre quando há uma desconexão entre o despertar do cérebro e o retomar do controlo muscular. Nessa situação, o cérebro desperta do sono REM, mas a atonia muscular persiste, o que resulta na incapacidade temporária de se mover ou falar.
Durante a paralisia do sono, é comum a ocorrência de alucinações hipnagógicas (ao adormecer) ou hipnopômpicas (ao despertar). Essas alucinações podem incluir: sensações táteis, como a sensação de pressão no peito ou de estar a ser tocado; alucinações visuais ou auditivas, como a percepção de figuras ou sons inexistentes no quarto; ou a sensação de flutuar ou de se deslocar para fora do corpo.
A falta de sono adequado, o stress e a ansiedade, dormir de barriga para cima e distúrbios do sono, como a narcolepsia, são associados a uma maior probabilidade de ocorrência de paralisia do sono.
Déjà Vu
Já alguma vez teve a sensação de já ter vivido um certo momento ou de ter estado num certo sítio, sem nunca ter estado? O termo francês déjà vu significa “já visto” e diz respeito à sensação subjetiva mas intensa de já se ter presenciado ou vivenciado algo, apesar de sabermos que é a primeira vez que acontece.
Segundo um estudo da Cleveland Clinic (EUA), cerca de 60 a 70 por cento das pessoas tiveram um déjà vu e este tende a ser mais frequente na faixa etária dos 15 aos 25 anos.
Não existe uma explicação aceite entre a comunidade científica, mas há várias teorias que tentam explicar o fenómeno.
Falha no processamento cerebral: esta hipótese sugere que o déjà vu resulta de uma falha no processo de interpretação do cérebro. Quando vemos algo, o cérebro ativa o lobo temporal e o hipocampo para interpretar o que vimos. Essa ação leva milésimos de segundos, mas qualquer microquebra nesse ritmo pode causar a sensação de déjà vu.
Confusão entre memória e percepção: outra teoria propõe que o déjà vu ocorre quando há uma sobreposição entre os sistemas de memória e percepção. Isso significa que o cérebro pode confundir uma nova experiência com uma memória antiga, levando à sensação de familiaridade.
Memórias de fontes erradas: o nosso cérebro guarda memórias vívidas de várias fontes, como a vida diária, filmes ou livros. Segundo esta teoria, o déjà vu acontece quando o cérebro identifica uma situação semelhante a algo que vimos ou lemos, confundindo com algo que realmente aconteceu na vida real.
Síndrome do Membro Fantasma
A Síndrome do Membro Fantasma é uma condição neurológica em que pessoas que sofreram amputações continuam a sentir sensações – incluindo dor – na parte do corpo que foi removida. Embora a origem exata desse fenómeno ainda seja debatida, a ciência tem algumas explicações fundamentadas.
Uma das teorias é que após uma amputação, o córtex somatossensorial primário (a região do cérebro responsável pelo processamento das sensações do corpo) passa por um processo de neuroplasticidade. Como o membro amputado já não envia sinais ao cérebro, as áreas vizinhas do córtex começam a ocupar o espaço antes dedicado a esse membro, o que pode causar sensações ilusórias, como se o membro ainda estivesse presente.
Outra explicação é que o cérebro mantém um “mapa” do corpo chamado homúnculo sensorial, que continua a existir mesmo após a amputação. Esse mapeamento faz com que a pessoa ainda sinta o membro ausente porque os circuitos neurais que representavam esse membro ainda estão ativos.
Muitos pacientes relatam dor intensa no membro fantasma, que pode ser explicada pela hipersensibilidade dos nervos na área da amputação (neuromas) ou a reorganização excessiva no córtex somatossensorial, que leva o cérebro a interpretar de forma errada sinais inofensivos como dor.