Ideais olímpicos em dia de eleições no COP

Ideais olímpicos em dia de eleições no COP


As eleições para o Comité Olímpico de Portugal realizam-se esta quarta-feira. Laurentino Dias e Fernando Gomes reafirmam os princípios fundamentais e os valores do olimpismo e dizem ter argumentos para ganhar.


Começaram por ser cinco os interessados no cargo de presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) para o mandato 2025-2029. Porém, na data-limite para apresentação de candidaturas, a Comissão Eleitoral registou a entrada de apenas duas listas às eleições para os órgãos sociais do COP (Comissão Executiva, Conselho Fiscal e Conselho de Ética) que correspondem às candidaturas de Laurentino Dias, antigo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e de Fernando Gomes, ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol. A eleição terá lugar hoje, na sede do COP, entre as 17h00 e as 19h00. A tomada de posse dos novos Órgãos Sociais terá lugar dia 25 de março, no Centro Cultural de Belém.

Neste ato eleitoral vão estar em jogo 187 votos, sendo 138 atribuídos aos membros ordinários, caso das 34 federações olímpicas (têm quatro votos cada) e da Comissão de Atletas Olímpicos (dois votos), e 49 votos pertencentes a membros extraordinários, nomedamente as 33 federações não olímpicas, organismos associativos e outras entidades de vocação desportiva, cultura ou científica (um voto cada). Laurentino Dias (Lista A) e Fernando Gomes (Lista B) concorrem à sucessão de Artur Lopes, que assumiu a presidência do COP após a morte de José Manuel Constantino, em agosto do ano passado. Estas eleições constituem um confronto de ideias entre dois candidatos com um longo passado no desporto. Ambos apresentam um modelo de gestão que visa o desenvolvimento, crescimento e competitividade do desporto português e contam, naturalmente, com muitos apoiantes. Quisemos clarificar a política desportiva e associativa dos dois candidatos e colocámos  sete questões a Laurentino Dias e Fernando Gomes.

Quem vencer as eleições para a presidência do COP recebe a pesada herança deixada por José Manuel Constantino, que presidiu a esta entidade durante 11 anos. A sua dedicação ao olimpismo deixou uma marca profunda no desporto nacional, e foi sob a sua liderança que Portugal obteve os seus melhores resultados olímpicos.

Laurentino Dias. ‘Equipa coesa e experiente’

O jurista, de 70 anos, foi secretário de Estado da Juventude e do Desporto entre 2005 e 2011, nos dois governos de José Sócrates. Foi também deputado do Partido Socialista em sete legislaturas. Na corrida para a presidência do COP conta com o apoio do secretário-geral do COP, José Manuel Araújo, e dos votos de, pelo menos, 15 federações olímpicas, bem como de federações não olímpicas e de outras entidades.

1 – Porque se candidatou? Só uma candidatura de uma equipa experiente e coesa pode vencer dois grandes desafios. Primeiro, o de garantir a continuidade de excelência que nos legou a liderança de José Manuel Constantino nas funções primeiras, centrais e históricas do COP. Segundo, o de executar nos próximos quatro anos as medidas de desenvolvimento desportivo constantes do financiamento de 50 milhões de euros contratualizado com o IPDJ em dezembro passado. Candidatei-me porque consegui juntar uma equipa capaz de vencer aqueles desafios.

2 – Até que ponto a experiência anterior no desporto é importante no COP? Gerir o Comité Olímpico exige conhecimento, competência, determinação, sensibilidade, sentido de justiça e ambição. Se a minha maior experiência no desporto foi a responsabilidade de governo entre 2005 e 2011 e foi positiva, vai naturalmente ajudar a um bom exercício no COP. Mas, mais do que isso, a experiência da minha equipa é a garantia de um bom mandato. Importante é a união e a experiência de todos.

3 – Considera que tem os votos necessários para ganhar? Considero que temos a confiança do maior número de entidades eleitorais e que isso se refletirá no maior número de votos.

4 – Se for eleito, quais são as grandes prioridades? Qual a primeira ação? Prioridade maior e primeira ação: reunir com todas as federações para discutir e aprovar o plano de execução do contrato de financiamento celebrado com o IPDJ. O plano é para quatro anos e já estamos no primeiro. E ninguém nos perdoará se perdermos mais tempo!

5 – De que forma o investimento de 50 milhões de euros pode impactar
o desporto?
No que toca ao COP trata-se de um investimento de 50 milhões de euros. Se forem bem definidos os seus critérios de aplicação e poderem corresponder a um reforço da atividade das federações, valorização dos recursos humanos ao serviço do desporto, em articulação com o Ensino Superior, e construção ou reabilitação de instalações desportivas, estou absolutamente seguro que o impacto será forte e positivo.

6 – Que alterações substantivas devem acontecer no modelo desportivo português? O modelo desportivo português segue, no essencial, o modelo europeu e apresenta algumas debilidades que urge corrigir, como reforço da competência motora das nossas crianças nas primeiras idades escolares, da educação física e do desporto escolar e na coordenação destes com o sistema federativo. O estímulo e proteção aos dirigentes benévolos, o financiamento público mais justo e equilibrado e uma melhor articulação destes sistemas com os municípios, etc.

7 – O que deve ser feito para aumentar o número de praticantes para ter uma elite desportiva? O aumento do número de praticantes depende da promoção na escola e no clube mas, se olharmos para a realidade atual, concluiremos que para aumentar a elite de praticantes temos desde logo de criar condições para que não desistam quando atingem patamares elevados que requerem mais investimento, mais tempo e mais dedicação. Atletas e famílias precisam sentir que o país os apoia, não apenas quando chegam às medalhas, mas, sobretudo, no difícil e longo caminho que é preciso trilhar até lá chegar. O Comité Olímpico, como entidade de cúpula, não pode deixar de olhar e refletir sobre esta realidade, assumindo-se como porta-voz do que há a melhorar na base de todo o sistema desportivo. Bolsas de apoio, carreira dual, enquadramento técnico e multidisciplinar, proteção após a carreira (formativa e laboral) são questões decisivas para proteger e encorajar os nossos atletas e treinadores a investir numa carreira desportiva.

Fernando Gomes. ‘Agir com eficácia’

Licenciado em Economia, Fernando Gomes, de 73 anos, foi praticante e dirigente de basquetebol antes de chegar ao futebol. Foi presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e, em 2011, assumiu a presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Foi também presidente do comité de competições de clubes da UEFA. Candidata-se ao COP com o apoio de 18 federações olímpicas, bem como das federações não olímpicas e de outros organismos.

1 – Porque se candidatou? A minha candidatura nasce do movimento olímpico, de quatro federações que me desafiaram e insistiram muito para avançar, e da nossa convicção de que o olimpismo português precisa de uma liderança que transforme desafios em oportunidades reais. ‘Saber Fazer. Fazer Vencer’ resume o nosso compromisso em agir com eficácia, implementando medidas que garantam condições ideais para os nossos atletas – desde a preparação olímpica até à transição para a vida pós-competição. Quero, com base na minha experiência e nas propostas concretas do nosso programa, levar o Movimento Olímpico a patamares de excelência. Somos uma equipa que sabe fazer e que vai fazer vencer.

2 – Até que ponto a experiência anterior no desporto é importante no COP? A experiência acumulada na gestão desportiva é fundamental para compreender as necessidades dos atletas, das federações e dos parceiros. Nos 13 anos à frente da FPF, aprendi a identificar oportunidades e a implementar soluções adaptadas a cada modalidade, como fizemos, além do futebol, com o futsal e o futebol de praia, por exemplo. Esses resultados que são do conhecimento de todos, permitem-nos liderar o COP com uma visão estratégica, realista e transformadora, reforçando o Movimento Olímpico com integridade e eficiência.

3 – Considera que tem os votos necessários para ganhar? Estou confiante e já contamos com o apoio de diversas federações olímpicas, que subscreveram a nossa candidatura, e não olímpicas, a maioria das quais nos tem transmitido a confiança do seu voto. Além de muitos atletas, treinadores e dirigentes federativos que acreditam numa transformação estruturada e, por isso, veem a nossa equipa como a mais bem preparada para o fazer. Acredito que no dia 19, com base na força das nossas propostas concretas e na confiança que temos construído nas dezenas de reuniões que temos tido com as entidades votantes, reuniremos os votos necessários para liderar esta mudança.

4 – Se for eleito, quais são as grandes prioridades? Qual a primeira ação? As grandes prioridades serão: reunir todas as federações, olímpicas e não olímpicas, preparar a versão final do programa que iremos cumprir até 2028 e lançar as bases para criar uma verdadeira rede olímpica, colocando os atletas no centro das decisões e reforçando a colaboração integrada entre todas as entidades. A primeira ação será reunir, de forma participativa, os representantes das federações e dos atletas para definir as ações imediatas – com base nas ideias e propostas que já fomos incluindo no nosso Programa e noutras que venham a ser apresentadas, incluindo pelos que possam não ter votado em nós. Porque depois de eleito serei o presidente de todo o Movimento Olímpico.

5 – De que forma o investimento de 50 milhões de euros pode impactar
o desporto?
Esse investimento representa uma oportunidade histórica para modernizar infraestruturas, desenvolver programas de apoio integral aos atletas e atrair financiamento privado por meio de parcerias estratégicas. Com esses recursos, poderemos melhorar as condições de treino e preparação, ajudar as federações a resolverem muitos dos seus problemas, promovendo um desporto mais robusto e sustentável.

6 – Que alterações substantivas devem acontecer no modelo desportivo português? Precisamos de uma reforma que passe de uma abordagem fragmentada para uma gestão integrada e sustentável. Isso implica implementar sistemas de apoio personalizados aos atletas, diversificar o financiamento através de parcerias privadas, promover a transparência e a boa governança, fortalecendo a cooperação entre federações, órgãos governamentais e o setor privado. O objetivo é transformar o COP num exemplo global de gestão e excelência.7 – O que deve ser feito para aumentar o número de praticantes para ter uma elite desportiva? Sabemos que é essencial investir na base. Devemos criar programas de incentivo nas escolas, promover o desporto nas comunidades e estabelecer projetos de deteção de talentos. E, depois, oferecer apoio contínuo, desde a iniciação até à alta competição, permitindo que os nossos jovens atletas cresçam com confiança e tenham as melhores condições para evoluir até ao nível de elite.