“Armindo Monteiro: “A política é para servir o país, não é para servir os partidos’

“Armindo Monteiro: “A política é para servir o país, não é para servir os partidos’


Presidente da CIP lamenta que estejamos perante um novo cenário de eleições que deixa o país paralisado em temas fraturantes, como a imigração. Também a AEP diz que ‘a necessidade de recorrer a eleições ‘não é benéfico e não é uma decisão que deva ser tomada com leviandade’.


Portugal vai entrar em stand by e as confederações empresariais culpam os partidos pela crise política que vai levar o país a eleições antecipadas.Ao nosso jornal, Armindo Monteiro, presidente da CIP admite que «há vários assuntos que vão ficar parados, muitos deles com sentido de urgência muito grande». O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um deles mas não só. «A Lei da imigração era para ser resolvido agora e já não vai ser» e a esta somam-se outras medidas relacionadas com o aumento dos salários que também irá ficar comprometido, como o acordo tripartido do salário mínimo e o aumento dos rendimentos.

O ‘patrão dos patrões’ admite que a situação poderia ser gerida se, após as eleições, dois meses depois tivéssemos uma solução governativa, uma vez que, entende, há outros países que esperam mais tempo para encontrar essa estabilidade. Uma realidade que não se verifica no cenário nacional. «Temos problemas que os outros países não têm. Um é a nossa capacidade de entendimento que é pior do que em qualquer outro país. Recentemente, na Alemanha, dois partidos que são tradicionalmente líderes de Governo, estou a falar da CDU e do SPD – o equivalente ao PS e ao PSD cá do sítio, ou seja, alternam no poder – coligaram-se para formar um Governo. Em Portugal temos a ideia que isso não pode acontecer porque temos esta atitude divisionista e de não nos concentrarmos no essencial». E acrescenta: «A Alemanha que é apenas a maior economia da Europa, no essencial está unida e vai fazer um Governo de coligação, o que me preocupa não é apenas este tradicional hábito de não fazermos pontes, mas o facto de o diálogo entre as principais forças políticas estar mais encristado do que nunca, pondo em causa o entendimento em matérias essenciais para os portugueses».

Para Armindo Monteiro, «estamos perante um taticismo do mais elementar, do mais triste que existe que é um taticismo partidário, não é um taticismo de políticas» e reconhece que «ainda podia entender uma grande discussão entre projetos políticos, entre visões para a sociedade, mas por questões ideológicas, por questões de visão, por questões de estratégia, o que não se verifica agora». E questiona: «Que tipo de rutura estamos a falar? Qual é a visão estratégica que um defende e que o outro defende?».

Perante este cenário, o presidente da CIP não hesita: «Isto é medíocre. É uma tristeza, porque não estão em causa projetos, nem visões fraturantes para a sociedade. Estão em causa taticismos político-partidários, o que é pior. A política é para servir o país, não é para servir os partidos. Os partidos não podem utilizar o país apenas para calculismos eleitorais, não podem deitar abaixo um país por calculismos eleitorais. O país merece mais do que isso».

E lembra que os riscos que Portugal enfrenta são diferentes face à queda do Governo socialista. «Caiu um Governo há pouco mais de um ano, mas agora é mais grave, porque não se podem ignorar os perigos internacionais. Isto é um drama sério. Não estou a exagerar nas palavras. Há um ano deitámos abaixo um Governo de maioria absoluta. Agora deitámos abaixo um Governo quando temos riscos acrescidos», refere.

Armindo Monteiro diz também que as empresas não vão a eleições. «Os mais de 5,3 milhões trabalhadores que existem em Portugal estão muito apreensivos com aquilo que 230 representantes da nação estão a fazer porque toda esta situação arrasta tudo. Há medidas que é preciso executar, que é preciso pôr em ação e não há tempo. Não há tempo não apenas para desenvolver o país, mas sobretudo para não deixar que ele empobreça mais», conclui.

Incerteza baralha contas

A mesma preocupação é partilhada pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) ao encarar com preocupação as consequências da atual situação política, a que se vem juntar toda a instabilidade e incerteza que vivemos a nível internacional. «As eleições antecipadas previstas para maio acrescem ao cenário de incerteza, já advertido pela AEP como pejorativo para as empresas e a economia portuguesa», afirma Luís Miguel Ribeiro.

«A necessidade de recorrer a eleições, após um ano de Governo, não é benéfico e não é uma decisão que deva ser tomada com leviandade. Encontramo-nos num cenário em que sucessivas crises políticas – três eleições legislativas em três anos – podem afetar a credibilidade do país, com consequências na capacidade de atrair investimento estrangeiro e no crescimento da economia portuguesa», defendendo que a prioridade, quer do Governo em gestão, quer de todos os responsáveis políticos, deve ser a priorização dos principais projetos que asseguram o crescimento do país, nomeadamente, a célere implementação dos fundos europeus. «Os principais impactos na economia e na atividade das empresas são diversos e em várias áreas: atraso na execução dos fundos europeus; desconfiança dos investidores face à instabilidade política – com impacto na realização de investimentos em território nacional – risco de aumento dos juros da dívida pública portuguesa que penaliza a despesa do Estado, administração pública em stand by e atrasos em projetos, como a Alta Velocidade, as negociações são complexas e ainda estão em curso e a revisão da lei laboral poderá estar em causa», salienta.

Perante um novo ato eleitoral, o responsável apela a que «em prol de um novo contexto político nacional de maior unanimidade e capaz de trazer as reformas que o país tanto precisa».

‘Mau para o país e para a democracia’

Também a Associação Empresarial do Minho pediu responsabilidades aos políticos e deu cartão vermelho a todos os responsáveis. «Portaram-se mal as partes que tentaram usar estes episódios absolutamente irrisórios para desviar as intenções de outros episódios mais graves que ocorreram, eventualmente, na sua esfera política. Portaram-se mal os partidos do arco da Governabilidade, porque entraram no jogo e, em vez de serem os primeiros a defender e a manter a elevação da Assembleia da República e o foco naquilo que realmente importa ao país, entraram no circo que aqui foi criado», salienta

E acrescenta: «Portugal está a dar uma péssima imagem ao mundo. Ninguém crê num país onde as instituições são sujeitas a este nível de instabilidade e de episódios. Parece que estamos, simplesmente, a ser guiados e levados pelos interesses dos partidos. Isto é mau para o país e é mau para a democracia. Não vai demorar muito tempo para que, se persistimos em denegrir, em escamotear tudo aquilo que é o património positivo do sistema democrático, as pessoas comecem a não acreditar no sistema. E não há nada pior na política e na democracia do que o descrédito popular em relação ao sistema em si», diz Ramiro Brito.