O calendário acelerado em que a crise política ocorreu ainda não permitiu aos partidos alinharem estratégias de campanha. Algumas contas começam no entanto a fazer-se, tendo como base as sondagens que têm vindo a ser divulgadas, e a avaliação que os partidos fazem sobre a vantagem de usar o caso Spinumviva como arma de arremesso. Se publicamente, à exceção do Chega, todos os partidos garantem que não vão aproveitar a campanha para explorar o caso, a verdade é que nos debates e entrevistas que os principais protagonistas políticos vão fazendo, o caso da empresa do primeiro ministro que levou à queda do Governo, tem estado muito presente, com acusações que se acentuam.
Novas coligações afastadas
Assim que na terça-feira ao fim do dia a maioria dos deputados confirmou o chumbo à moção de confiança apresentada pelo Governo, começaram a fazer-se contas nos dois grandes blocos políticos, à esquerda e à direita.
Para evitar especulações, Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, veio de imediato a público garantir que o partido vai a votos isoladamente, eliminando qualquer tentativa que Luís Montenegro pudesse fazer para coloca a IL a bordo da Aliança Democrática.
Com a mesma intenção, Rui Tavares também esclareceu depois da audiência com o Presidente da República, que o Livre, apesar de ser um grande defensor de entendimentos à esquerda, irá a votos sozinho. Rui Tavares explica que no caso de eleições legislativas não faz sentido haver coligações pré-eleitorais, já que os entendimentos se podem fazer depois das eleições, ao contrário do que acontece em eleições autárquicas.
Com Iniciativa Liberal e Livre fora de entendimentos, o mais certo é que os protagonistas que se vão apresentar no boletim de voto em maio, sejam exatamente os mesmos que foram a votos nas últimas eleições.
PSD toca a rebate no apoio a Montenegro
Apesar de a estratégia da apresentação de uma moção de confiança que acabou por ditar a queda do Governo não ter sido uma estratégia apoiada por muita gente dentro do partido e do próprio grupo parlamentar, a verdade é que perante a inevitabilidade de eleições ninguém tem dúvidas no apoio incondicional a Luís Montenegro.
O concelho nacional de quinta-feira foi o primeiro espelho de um partido unido em torno do líder. Ao que o Nascer do SOL apurou, a direção do partido preparou a reunião ao pormenor para que nada falhasse, incluindo com telefonemas do secretário-geral, Hugo Soares, a militantes que têm lugar garantido naquele órgão do partido, para averiguar se estariam presentes e para dar nota de que essa presença era muito importante. Isso mesmo, ao que apurámos, aconteceu com Manuela Ferreira Leite, que acabou por ser a estrela da noite.
A antiga líder do partido respondeu presente e aproveitou a ocasião para fazer uma das intervenções mais duras contra o Partido Socialista. Ferreira Leite levava contudo um recado para o partido e explicou qual foi um dos principais motivos que a levou a estar naquele local, pela primeira vez desde que deixou de liderar o PSD. «Tive algum receio de que pudesse haver alguma movimentação e pensei que tinha de vir cá dizer que o PSD nunca poderia alinhar numa decisão que não fosse a recondução de Luís Montenegro». Um recado que teve um destino direto para os que nos últimos dias telefonaram a Passos Coelho, desejando o regresso do antigo líder, como o nosso jornal noticiou na passada semana.
E agora o que se segue? É a pergunta que se vai ouvindo nos bastidores. Para já a decisão que está tomada no núcleo duro de Montenegro é deixar de lado o caso Spinumviva e começar a mostrar obra.
Apesar de não ter chegado a completar um ano no Governo, a AD está convencida que os portugueses reconhecem que algumas coisas importantes foram feitas e que esse é o melhor argumento que o Governo tem para apresentar em campanha eleitoral. A caminho de Portugal deverá já estar a equipa de consultores brasileiros que na última campanha ajudaram Montenegro a chegar ao Governo. Uma estratégia que levanta algumas dúvidas aos que consideram que foi um erro apresentar uma moção de confiança, que na vigésima quinta hora Montenegro se esforçou por retirar. Um deputado ouvido pelo nosso jornal diz que «a moção de confiança correu-nos mal, a nossa maior arma era estarmos no Governo, agora tudo pode acontecer».
PS preocupado com calendário eleitoral
Não se sentindo responsáveis pela precipitação da crise, os socialistas veem-se obrigados a realinhar a estratégia que Pedro Nuno Santos já tinha definido.
O líder do PS estava apostado em vencer as eleições autárquicas para ganhar fôlego para uma crise política daqui a um ano. Nessa linha, os principais candidatos autárquicos já estavam anunciados, sendo a maior parte deles rostos visíveis da bancada socialista, incluindo a sua líder parlamentar, Alexandra Leitão. Agora é preciso fazer listas para as legislativas e muitos dos rostos que são apostas para as autárquicas têm que decidir se se mantêm ou não nas listas de deputados. Ao que sabe o Nascer do SOL, Alexandra Leitão, candidata a Lisboa e Marcos Perestrelo, candidato a Cascais, são os casos mais problemáticos. Nenhum dos dois espera ganhar os desafios autárquicos a que se propõem e, sendo assim, aceitaram ser candidatos na condição de poderem regressar ao Parlamento. Alexandra Leitão já o tinha afirmado publicamente, só que nessa altura não se previa que a atual legislatura fosse interrompida. Outra questão que está a inquietar o núcleo duro socialista é como deve o PS gerir um cenário pós-eleitoral em que o partido vença em circunstâncias semelhantes ao que aconteceu com a AD. Pedro Nuno Santos já disse esperar que o PSDlhe dê condições para governar, mas sabe que a maioria de direita no Parlamento o pode deixar a governar por pouco tempo, até o PSD ter um novo líder.