O nome é mágico: Nottingham Forest. Rescende a aventuras. Com Robin Hood e Lady Marion, com Frei Tuck, João Pequeno e o abominável príncipe João. Vale a pena ir a Nottingham. Toda a cidade reverbera desses nomes nas praças e nas avenidas, dos subúrbios de Oldmoor Wood à variante de Willford Lane com o Trent serpenteando pelo meio. Dois estádios frente a frente, uma em cada margem: o City Ground e o Meadow Lane, o primeiro pertencendo ao Forest, o segundo ao Notts County. Passei tardes e noites inesquecíveis no City Ground, durante o Mundialito de 1995 e o Europeu de 1996, com Portugal a jogar ali dois jogos, contra a Turquia e contra a Croácia. Mas a memória vai mais atrás e ao tempo de glória de um tipo chamado Brian Howard Clough, primeiro campeão de Inglaterra com o DerbyCounty, da vizinha Derby, depois outra vez campeão inglês com o Nottingham, acrescentando-lhe duas Taças dos Campeões Europeus e tornando-o o único clube que tem mais títulos europeus do que nacionais (dois para um). Na esteira das fantásticas equipas do Liverpool de Bill Shankly e Bob Paislay, o Forest formou uma equipa na qual se destacaram John McGovern e John O’Hare, John Robertson e Martin O’Neill, Tony Woodcock, o guarda-redes PeterShilton, o careca Archie Gemmill, autor de um dos golos mais bonitos dos campeonatos do mundo, o finíssimo Trevor Frances e o terrível Kenny Burns – «Forest fires when Kenny Burns». Duas finais renhidas – 1979, no Estádio Olímpico de Munique, 1-0 aos suecos do Malmö, com Francis a concluir de cabeça um centro de Robertson, e em 1980, outro 1-0, desta vez ao Hamburgo, no Santiago Bernabéu, num remate do gorducho Robertson.
Sonhar de novo
Foi o auge de um percurso europeu até aí sem grandes motivos para regozijo, iniciado quase vinte anos antes, em 1961-62, na Taça dasFeiras, com duas derrotas perante o Valência (1-5 e 0-2), e rematado com a presença outra vez na Taça dasFeiras, em 1967-68 – eliminado pelo Zurique na segunda eliminatória depois de ter ultrapassado oEintracht Frankfurt na primeira. Depois de ser afastado em 1981, como detentor da taça, os rapazes de Nottingham tiveram três regressos, todos na Taça UEFA, um bem bom, em 1983-84, perdendo na meia-final contra oAnderlecht que venceria o Benfica na final, outro mau, na época seguinte, caindo na primeira ronda frente aoBrugge, e outro razoável, em 1995-96, caindo nos quartos-de-final perante oBayern de Munique. Agora, sob o comando de NunoEspírito Santo, sonha de novo com a companhia dos melhores da Europa, instalado precariamente no terceiro lugar da Premier League, com um ponto de avanço sobre oCity (que recebe amanhã) e dois em relação aoChelsea.
Cidade de clubes antigos
O Forest pode não ser sequer o clube mais antigo de Nottingham – o Notts County, nascido em 1862 é o mais antigo do mundo – mas fica lá perto. Foi fundado em 1865 por um grupo de jovens que praticava o shinty, um jogo caído em desuso relativamente parecido com o hóquei em campo. Reunidos no pub Clinton Arms, na Shakespeare Street, agarrados a umas pinds, imagino eu, votaram favoravelmente a proposta de J.S. Scrimshaw para se dedicarem ao futebol. E logo aí escolheram o vermelho como cor. Não um vermelho qualquer: o vermelho-Garibaldi, em honra das giubbe rosse que lutaram pela unificação da Itália. Os primeiros jogos foram disputados no Forest Racecourse, um hipódromo que estava instalado em plena floresta deSherwood.
O shinty não foi posto de parte. E até apareceu o basebol, o que fez doForest o primeiro campeão inglês da modalidade, em 1899. Os dirigentes do clube foram sempre de uma generosidade escandalosa. Ofereceram o primeiro conjunto de camisolas aos fundadores do Arsenal (ainda chamadoWolwichArsenal) e auxiliaram como puderam no aparecimento de outros clubes como o Liverpool, o Everton e o Brighton.
Embora só tenha conseguido o único título de campeão em 1978, foi vencedor da 27.ª edição da Taça da Inglaterra em 1898, com um percurso impecável até às meias finais – Grimsby (4-0), Gainsborough Trinity (4-0), West Bromwich Albion (3-2). A coisa aí piou mais fino: um primeiro empate frente aoSouthampton (1-1), e vitória no desempate (1-0). O triunfo derradeiro, no dia 16 deabril, no Crystal Palace de Londres não podia ter acontecido frente a adversário melhor. 3-1 ao grande rival Derby County. A festa só se repetiria 61 anos depois, com a FACup a já albergar 260 equipas, de amadoras a profissionais. Wembley passara a ser o palco das finais e os rapazes da floresta bateram o LutonTown por 2-1. A proeza jamais foi repetida.
No dia 20 de dezembro, o português Nuno Espírito Santo assumiu a responsabilidade de ser 52.º treinador da história do Forest. Se no fim da época passada afastou a despromoção na última jornada, nesta tem lutado bravamente pela classificação para a Liga dos Campeões. Afinal a Europa é o lugar onde o velho Nottingham Forest foi mais feliz.