Comboios. Paixão de grande rigor e precisão milimétrica

Comboios. Paixão de grande rigor e precisão milimétrica


Colecionar miniaturas de comboios que percorreram as linhas de caminho de ferro do todo o mundo é uma paixão de Israel Geraldes que vem desde a infância. Mais do que um hobby, é  uma forma de perpetuar a memória histórica de um dos meios de transportes mais antigos de que há registo.


Como qualquer bom colecionador, Israel Geraldes dedica todo o tempo que pode à sua notável coleção de comboios em miniatura, e deu-nos a conhecer um pouco da sua história. Além de belos exemplares de locomotivas de várias épocas, encontramos também material circulante, pontes, estações ferroviárias e figuras e cenários representativos que permitem criar maquetas com grande realismo. A paixão pelas miniaturas começou quando tinha cinco anos. «O meu pai ofereceu-me um comboio e fez uma pequena maqueta. Foi a partir daí que ganhei o gosto pelo modelismo», lembrou. Durante anos essa paixão esteve “escondida”, até que chegou o Natal «a minha mulher disse-me para por um comboio na árvore de Natal e, passados 40 anos, recuperei o comboio da infância e montei uma linha à volta da árvore», contou-nos. Foi o reavivar as memórias do passado e do gosto pelos comboios. A partir daí converteu-se ao modelismo ferroviário, um «hobby com alguma expressão em Portugal que envolve uma classe etária mais avançada e com alguma capacidade financeira», referiu. Existem várias escalas no modelismo ferroviário, embora a maioria dos colecionadores siga a escala 1:87 HO (cada metro divide-se por 87). Existem ainda as escalas N e, em Inglaterra, a OO. Além das escalas, há diferente áreas de intervenção: o maquetismo, a eletrónica, que controla todos os elementos do módulo, os colecionadores, que se limitam a comprar peças, e os modelistas que fazem transformação, como é o caso de Israel Geraldes. «Construo material circulante como as carruagens e locomotivas. Para isso, utilizo o chassis e o motor de uma peça já existente e a partir daí construo uma máquina nova utilizando material plástico, embora já haja quem faça a estrutura em resina em impressoras de 3D», explicou.

A maioria dos entusiastas dedica-se a colecionar marcas que operam em Portugal. Há outros que colecionam peças de todas as companhias e ainda quem se dedique exclusivamente  a uma determinada época. «Eu coleciono comboios de todas as épocas, desde os anos 50. A minha única preocupação é que seja material circulante em Portugal», sublinhou.

Capacidade financeira e trabalho rigoroso

Outra área de trabalho são os módulos, também conhecidos por maquetas, que dão origem a cenários verdadeiramente espetaculares. «Há grupos especializados que constroem maquetas que se encaixam umas nas outras para fazer uma maqueta de grandes dimensões. Esse tipo de maquete pode ser construída com módulos criados por várias pessoas», disse-nos. E acrescentou: «Tenho algumas coisas que são réplicas do real, é o modelismo de precisão, e outras que são fantasiosas». Nos grandes eventos de modelismo como a exposição no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, são construídas maquetas com uma dimensão surpreendent. «Há layouts que ultrapassam os 100 metros. Os módulos estão interligados e todas as peças funcionam, há maquetas que preenchem um recinto desportivo. Uma maqueta completa pode custar milhares de euros, depende dos elementos que quisermos colocar. A Alemanha é o país com maior expressão no modelismo ferroviário. No museu de Hamburgo,  podemos ver maquetas megalómanas, é para andar lá o dia inteiro», frisou.

O colecionismo de comboios é a paixão que exige capacidade financeira, como reconheceu. «É um hobby um pouco elitista se quisermos adquirir modelos com maior detalhe. Não quero com isto dizer que só está ao alcance de pessoas endinheiradas. Há sets de iniciação, compostos por locomotiva, carruagens, linha e comando digital, que custam pouco mais de 100 euros. Além disso, há modelos em plástico bastante mais acessíveis, as peças feitas em metal é que têm maior valor. A peça mais cara que tenho é uma locomotiva que custa 1.500 euros, mas tenho outras que custam 200 e 300 euros». Como especialista, passa muito tempo naquilo que é um trabalho artesanal e de grande precisão. «Quando é possível, passo o dia inteiro a melhorar à minha coleção. É um trabalho de muito rigor, onde tudo é medido à décima de milímetro. Posso demorar 50 horas a transformar uma peça. As pessoas olham para isto como um brinquedo, só que é um brinquedo para adultos»,disse.