Teletrabalho. “Dificilmente voltaremos a uma situação de trabalho 100% presencial”

Teletrabalho. “Dificilmente voltaremos a uma situação de trabalho 100% presencial”


A pandemia colocou grande parte do país a trabalhar a partir de casa e, mesmo que aos poucos se tenha voltado às empresas, os trabalhadores continuam a ser fãs do teletrabalho ou do modelo híbrido. Empresas consideram que este é o novo normal e que há já muitos trabalhadores que fazem essa exigência.


A pandemia trouxe uma série de alterações ao quotidiano do ser humano e, no que ao mercado de trabalho diz respeito, a mais relevante de todas elas é o teletrabalho. Os números não enganam: Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o teletrabalho superou a marca de um milhão de trabalhadores neste regime (integral e híbrido) no ano passado. 21,5% da população empregada indicou ter trabalhado a partir de casa no quarto trimestre de 2024.

Quem tem oportunidade de vivenciar esta nova realidade, não quer outra coisa. Filipa Carvalho começou a pandemia em teletrabalho total e mais para a frente os dias completos em casa transformaram-se em formato híbrido. Ao nosso jornal, confessa que é o melhor.

“Poder trabalhar de casa é muito confortável e dá-nos mais tempo de vida”. E avisa: “Desengane-se quem pensa que se trabalha menos até porque considero que em casa parece que temos que mostrar mais trabalho”.

Da sua experiência, conta que ganhou mais tempo de vida e que pode fazer outras coisas. “O caminho até ao trabalho e o termos que nos preparar ocupava-me tempo que agora uso para tratar de outras coisas”. No entanto, não está totalmente em teletrabalho mas por opção. “Estar sempre em casa também cansa, desengane-se quem pensa que não”. Por isso, vai ao escritório pelo menos duas vezes por semana: “Também faz falta estar com os colegas e ter outra rotina”. Por isso, é fã do trabalho híbrido. “É ter o melhor dos dois mundos”, confessa.

Ao nosso jornal, a Randstad destaca o crescimento do teletrabalho e recorda que, depois da pandemia, “notou-se um regresso mais contido ao ambiente de escritório, também porque as pessoas estavam cansadas de estar fechadas em casa”. No entanto, os dados “mostram que há uma tendência para as empresas optarem por um modelo híbrido, em que os trabalhadores trabalham a partir de casa, mas também a partir do escritório”.

Bom para trabalhadores e empresas

Para a Randstad não há dúvidas que esta recente forma de trabalho ”tem-se revelado bastante positiva para os trabalhadores, mas também para as empresas”. É que, por um lado, “permite ter flexibilidade”, que, de acordo com o Workmonitor 2025, “é já um fator muito relevante para a maioria das pessoas na hora de escolher um trabalho”. E deixa exemplos: “42% dos portugueses inquiridos neste estudo recusariam um emprego se não fosse oferecida flexibilidade no horário de trabalho e 36% em relação ao local de trabalho”.

Além disso, a empresa especializada em soluções de trabalho flexível e recursos humanos, diz que a flexibilidade “da qual o teletrabalho é o principal fator, contribui para um sentimento de bem-estar em relação ao trabalho, porque permite garantir o equilíbrio entre vida pessoal e profissional que a maioria dos trabalhadores hoje em dia procura”, acrescentando que os trabalhadores “que se sintam bem no seu local de trabalho e que tenham um sentimento mais positivo em relação à empresa onde trabalham são naturalmente mais produtivos e, por isso, o teletrabalho é uma realidade muito positiva para ambos os lados”.

Flexibilidade é um dos pontos fortes escolhidos também pela Robert Walters ao defender que o teletrabalho “beneficia tanto os trabalhadores como as empresas, mas o impacto real depende da forma como é implementado”. E explica que, para as empresas, “há vantagens como a redução de custos, aumento da produtividade e maior acesso ao talento global”.

No que diz respeito aos trabalhadores, o destaque vai para a “flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional são grandes vantagens”.

No entanto, alertam os responsáveis da Robert Walters, “é essencial que haja uma boa estratégia de gestão remota para maximizar os benefícios”, uma vez que, no seu entender, “as organizações precisam de investir em ferramentas digitais que facilitem a comunicação e a colaboração, bem como desenvolver uma cultura organizacional que promova a confiança e a autonomia”.

A empresa defende ainda que a liderança deve adaptar-se a novas formas de acompanhamento das equipas, “garantindo que os colaboradores se mantêm alinhados com os objetivos da empresa e motivados a longo prazo”.

Desta forma, “o teletrabalho pode ser uma solução vantajosa para ambas as partes, desde que implementado com estratégia, estrutura e uma forte aposta no desenvolvimento de soft skills para garantir uma colaboração eficiente e produtiva”.

Benefícios versus prejuízos

Ao i, a Robert Walters Portugal refere que o teletrabalho “tem vindo a consolidar-se como uma solução vantajosa tanto para empresas como para trabalhadores, trazendo benefícios que vão além da simples flexibilidade”, defendendo que um dos principais ganhos está na produtividade e eficiência. “Estudos mostram que trabalhadores remotos, quando bem geridos, podem ser mais produtivos devido à redução de distrações e deslocações, resultando num desempenho mais eficaz”, acrescenta a empresa de soluções de talentos, lembrando que outro benefício do teletrabalho “é a melhoria do equilíbrio entre vida profissional e pessoal porque os trabalhadores conseguem dedicar-se mais à família, ao lazer e ao descanso, o que reduz os níveis de stress e aumenta a satisfação no trabalho”.

Para a Robert Walters não há dúvidas que esta flexibilidade “tem um impacto positivo no bem-estar geral, tornando-se também um fator determinante para a retenção de talento”. E diz que muitas empresas “percebem que oferecer modelos híbridos ou totalmente remotos é essencial para atrair profissionais qualificados, sobretudo em setores onde a concorrência por talento é elevada”.

Por isso, garante: “Fica claro que o teletrabalho não é apenas uma resposta temporária a desafios recentes, mas sim uma evolução natural do mercado de trabalho. As empresas que adotarem esta prática de forma estruturada vão beneficiar de equipas mais motivadas, produtivas e alinhadas com as exigências do futuro”.

Quanto aos prejuízos, os responsáveis da Robert Walters dizem que “apresenta alguns desafios significativos”. “A menor colaboração espontânea pode afetar a criatividade e a inovação dentro das equipas, tornando mais difícil a troca de ideias e a resolução rápida de problemas”. Além disso, acrescenta a empresa, “manter a cultura organizacional e o sentido de pertença dos colaboradores pode ser um desafio, uma vez que a interação presencial é reduzida”. E diz ainda que a gestão e supervisão das equipas “tornam-se mais complexas, exigindo novas abordagens para garantir o alinhamento, produtividade e motivação”.

Por fim, o teletrabalho também pode “aumentar os riscos de cibersegurança, uma vez que a dispersão dos colaboradores exige investimentos adicionais em tecnologia e proteção de dados”.

Teletrabalho para sempre?

Questionadas sobre se o teletrabalho pode ter os dias contados ou se é a nova realidade, as duas empresas questionadas pelo i não têm dúvidas que este será o novo modelo de trabalho.

De acordo com a Randstad, “dificilmente voltaremos a uma situação de trabalho 100% presencial, não só porque os trabalhadores valorizam cada vez mais o teletrabalho e a flexibilidade, como as entidades empregadoras também já perceberam os benefícios desta flexibilidade”, diz, lembrando que no estudo Randstad sobre Tendências Salariais em Portugal, em 2024, “percebemos que, em média, os profissionais quantificam o valor da flexibilidade entre os 139 euros (teletrabalho) e os 167 euros (semana de 4 dias), com grandes variações dependendo da geração a que pertencem”. A empresa considera assim que “são valores consideráveis e que pesam na decisão de escolher um emprego. Com o mercado de trabalho a apresentar níveis de praticamente pleno emprego, entende-se que os trabalhadores privilegiem este tipo de condições e que as empresas tenham, por isso, de se adaptar”.

Já a Robert Walkers garante que o teletrabalho “já não é apenas uma tendência, mas sim um novo modelo de trabalho consolidado e cada vez mais integrado na estratégia das empresas”.

Ainda assim, defende que o futuro “não é homogéneo, pois diferentes setores e organizações estão a adotar diferentes abordagens consoante as suas necessidades operacionais e culturais”, lembrando que muitas empresas estão a optar por modelos híbridos, “combinando o trabalho remoto e presencial”. Por outro lado, a Robert Walkers diz que as grandes organizações “estão a recuar no teletrabalho e a exigir o regresso aos escritórios”, argumentando que a presença física “é essencial para estimular a criatividade, fortalecer a cultura organizacional e facilitar a troca de conhecimento entre equipas”. É que, recorde-se, empresas como a Google, a Tesla ou até a Amazon, “reforçaram a obrigatoriedade da presença no escritório, alegando que o trabalho remoto pode prejudicar a inovação e a produtividade a longo prazo”.

Apesar deste recuo, a empresa diz que “a flexibilidade continua a ser um diferencial competitivo” e, por isso, “o futuro do trabalho parece apontar para uma maior personalização dos modelos laborais, adaptando-se às necessidades específicas de cada empresa e setor”.

Para finalizar, a Robert Walkers diz que “algumas organizações irão consolidar modelos híbridos, enquanto outras poderão flexibilizar ou endurecer as suas políticas de teletrabalho consoante os desafios que enfrentam”. No entanto, “é inegável que o paradigma laboral mudou e que a procura por maior flexibilidade veio para ficar”.