“Avisa-me para reservar uma mesa porque tem estado sempre cheio!”. Foi assim que a minha amiga Lilibeth (responsável do espaço) me respondeu quando demonstrei interesse em conhecer o novo bar do meu bairro. Na última quinta-feira, lá fui eu, à rua do Sol ao Rato, precisamente no mesmo local onde surgiu nos anos 70 a primeira discoteca africana de Lisboa, o EnClave do músico cabo-verdiano Tito Paris. Sabia onde era mas tive que procurar pelo número, porque de fora nada faria transparecer o que encontramos lá dentro. Num prédio recuado, no número 71, esconde-se uma aparente retrosaria, cheia de cores, agulhas e linhas. Somos recebidos por uma simpática senhora já de idade avançada com um lenço na cabeça. Pergunta-me o que pretendo e eu respondo-lhe meio curioso, que tenho mesa no bar. O nome de facto consta da lista e por trás de uma cortina, abre-se toda uma sala com mesas baixas e outras de bancos altos com um bar ao fundo. Sentamo-nos na mesa e rapidamente aparece alguém de sorriso na cara a explicar o conceito.
As palavras de ordem são “economia circular”. Por ali tentam-se minimizar os desperdícios reutilizando-se produtos e aproveitando o máximo de cada elemento. Não sendo um restaurante e como ia com algum apetite, decidi experimentar a ampla variedade dos “Dim Sum” dos quais destaco os vegetarianos, os de camarão e de porco. É no entanto nos cocktails que marcam realmente a diferença. Com um laboratório no piso de cima, cheio de frascos e tubos de ensaio, com um arco-íris projetado na parede com o logo da marca, as muitas receitas e doses sobressaem escritas nos azulejos. É ali que se combinam sabores e se fazem experiências para apresentar as melhores e mais originais bebidas numa versão de cientista maluco com um toque de sofisticação. Dos vários que experimentei (por sorte estava ao lado de casa…) posso dizer que fiquei muito impressionado com a mistura de alguns ingredientes que nunca achei que pudessem ficar tão bem. Especialmente o “Badassery” que mistura mezcal e goiaba com um quadradinho de queijo fumado lá dentro, o Triple Niple de tequila e 3 pimentas, um que leva pisco e maracujá e que dá pelo nome de “Mamazonia” ou para quem gosta de escolhas mais doces o Chérie Cherry bem ao estilo da nossa tradicional amarguinha.
Quando chegámos a sala estava já bem composta e não pararam de entrar clientes desde então, até ficar quase lotado mas circulável.Gente de vários mundos, ambiente alternativo mas saudável e que dá um colorido especial porque vão com vontade de se divertir. Uma mistura de idades em bom, com caras bonitas e posturas bem animadas. Este é aliás um dos pontos principais do projecto. Uma mescla de positividade e boas energias que se reflete depois na atitude e na vontade de usufruir um sítio diferente. No andar debaixo a surpresa. Uma salinha pequena, escura e decorada com tapeçaria nas paredes, dá-lhe um toque misterioso, que se abre e se estende para uma outra maior, aberta só para algumas ocasiões. De tão simples torna-se acolhedora e envolvente, preparada para “artistas que gostam de correr riscos e para pessoas de mente aberta”. No dia que fui ,tive a sorte de assistir a um “show case” de um jovem valor nacional de nome Henrique Janeiro. Onde a poesia se funde com a música e que viaja por diversas sonoridades bem alegres e melódicas, que deixaram o público que estava sentado (como se de uma sala de estar se tratasse), aos pulos, em pé e a dançar.
Saí com imensa vontade de lá voltar. É muito bom poder ter uma oferta destas à distancia de uma caminhada mas acima de tudo é uma lufada de ar fresco num bairro que tinha tudo…só não tinha um espaço assim!
P.S. Os copos são de vidro e uma bebida num bom copo de vidro faz toda a diferença…